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A luta antirracista deve ser coletiva

Imagem: fotospublicas.com

 

 

Mais da metade da população brasileira (56,1%) é negra, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de formarem a maioria social, as pessoas negras estão em minoria em espaços de poder e decisão, têm menos – e piores – oportunidades educacionais e profissionais e estão submetidas à face mais severa da desigualdade social, que traz efeitos mais brutais quando olhamos para a raça.

 

Neste cenário, a população negra está ainda submetida a um quadro de violência latente causada pelo racismo. Segundo o Atlas da Violência 2020, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, balas matam mais pessoas pretas e pardas: a taxa de homicídio entre mulheres negras aumentou 12,4% entre 2008 e 2018, ao passo que 75,7% das vítimas de homicídio eram negras – ou seja, a taxa de mortes violentas é de 37,8 para cada 100 mil habitantes. Ainda, 79% das pessoas mortas em ações policiais são pretas e pardas.

 

Mesmo assim, os números parecem não conseguir revelar a dimensão da tragédia humanitária que vivemos por escolhas no mínimo equivocadas para a construção de políticas de segurança pública. É essa violência que resulta nas perdas das vidas de Kathlen Romeu e de seu filho, ainda em seu ventre; de João Pedro Matos Pinto, morto aos 14 anos no quintal da própria casa; Evaldo Rosa, executado em ação na qual foram disparados 80 tiros por aqueles quem ele julgava que iriam protegê-lo; Marcos Vinícius Silva, executado enquanto se deslocava para ir à escola; Ágatha Felix, que partiu aos 8 anos; Marielle Franco…

 

Seriam necessários dias ininterruptos de silêncio em memória de todas(os) aquelas(os) que foram vítimas de política desastrada de segurança pública baseada em bravatas populistas e na premissa de que as periferias são praças de guerra onde todos os moradores são potenciais inimigos. Sem meias palavras: presenciamos um genocídio da população negra e periférica.

 

Transformar esse cenário é urgente, é para ontem. Para isso, é necessário atuar e se posicionar, porque somente a atuação coletiva, consciente e com corresponsabilização essa mudança será possível. Engana-se quem pensa que essa é a missão apenas do movimento negro. Muito pelo contrário: é dever das pessoas brancas se envolverem e avaliarem seus lugares e suas responsabilidades na manutenção de estruturas que excluem as pessoas negras de espaços de desenvolvimento, crescimento, formação e decisão.

 

A construção de uma sociedade mais justa e harmônica passa pelo apoio na potência de pessoas negras. Essa lógica, aliada à diretriz de que o território importa, tem papel estruturante para o trabalho desenvolvido pela Fundação Tide Setubal. O objetivo é articular e fomentar oportunidades para quem vive nas periferias, identificar soluções para a redução das desigualdades e promover alternativas que contribuam para a qualidade de vida nos territórios, conectando diferentes atores e gerando modelos que possam ganhar escala e alcançar políticas públicas.

 

Porém, apoiar o potencial da população negra e apostar no seu desenvolvimento contínuo não basta. É preciso responsabilizar-se e assumir um papel de influência entre seus pares. É fundamental verbalizar: a Fundação Tide Setubal é uma organização aliada das lutas antirracistas. Não podemos ser coniventes com o genocídio promovido pelo Estado que tem a população negra como alvo preferencial. Combatê-lo é uma pauta urgente para a construção de uma sociedade melhor.

 

É necessário dizer em alto e bom som para a sociedade civil e para o poder público: VIDAS NEGRAS IMPORTAM, pois ENQUANTO HOUVER RACISMO, NÃO HAVERÁ DEMOCRACIA!

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