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Galpão ZL oferece formação em tecnologia para jovens com interesse em programação

Diante de um quadro contraditório no mercado de tecnologia e da necessidade de combater as desigualdades nessa mesma área, a Fundação Tide Setubal lançou, em junho de 2023, a formação de programadoras/es pelo +Lapena Renda Empregar, em parceria com a {Parças} Developers School. A atividade acontece no Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento da Fundação Tide Setubal, situado no Jardim Lapena.

 

Dentro desse contexto, a rápida evolução e a demanda crescente por profissionais qualificados caracterizam cada vez mais o mercado de tecnologia. No entanto, uma tendência preocupante tem se manifestado recentemente: a busca por jovens com formação sênior.

 

Além disso, essa rapidez levanta questões sobre as preocupações globais com o uso das tecnologias. E, numa realidade marcada por desigualdades, o chamado racismo digital também ganha novos contornos.

 

Nesse sentido, quais são as implicações desta nova tendência? Ainda, como o curso com a {Parças} pretende enfrentá-las? É o que veremos a seguir.

 

 

+ Confira a entrevista de João Archegas, do ITS Rio, sobre regulação de big techs

 

+ Leia a entrevista de Tarcízio Silva sobre racismo algorítmico

 

 

A demanda por jovens com formação sênior

O setor de tecnologia está em constante busca por inovação, com novas habilidades e conhecimentos emergindo. Para acompanhar esse ritmo acelerado, as empresas frequentemente procuram talentos jovens. Afinal, acredita-se que eles têm maior adaptabilidade, assim como familiaridade com as últimas tendências tecnológicas.

 

Porém, para Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação Tide Setubal, há aí uma contradição desafiadora para territórios periféricos.

 

“A pandemia acelerou o processo tecnológico dentro das empresas. Com isso, a busca por profissionais ganhou impulso e, diante de tanta novidade, os programadores júnior têm pouco espaço de atuação. O mercado está em busca de profissionais com formação mais profunda e experiência. Logo, isso transforma-se em dificuldade para os/as jovens, especialmente aquelas/es com trajetória periférica.”

 

A parceria com a {Parças} Developers School ocorre para enfrentar o desafio no Lapena. A instituição de ensino destaca-se em formar profissionais em programação e desenvolvimento para o futuro. Além de fornecer uma sólida base de conhecimento em programação, a instituição estimula também o desenvolvimento de habilidades interpessoais, trabalho em equipe e liderança. Deste modo, o foco é a preparação de estudantes para enfrentar os desafios do mercado de tecnologia de forma bem-sucedida.

 

“A parceria com a Fundação tem sido de extrema importância”, conta Carla Cristina, cofundadora e Head de Operações e Back Office da {Parças} Developers School. “A nossa expectativa é de poder mostrar um universo de oportunidades para os jovens do Lapena por meio da tecnologia. E, com muito esforço e dedicação, poder direcionar esses jovens para uma oportunidade no mercado de trabalho”.

Preocupações com o uso das tecnologias

Embora a tecnologia tenha trazido muitos avanços positivos, também tem sido associada a preocupações importantes. Nesse contexto, uma delas é a crescente dependência de dispositivos e aplicativos. Esse fenômeno pode levar ao isolamento social e à diminuição das habilidades de comunicação interpessoal. Além disso, o uso excessivo tem sido relacionado a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.

 

“Um dos eixos do curso será trabalhar as competências socioemocionais dos/das participantes. Isso acontece porque a aprendizagem técnica e a inserção no mundo do trabalho não estão dissociadas destas competências”, reforça Kenia Cardoso.

 

Outra preocupação relacionada ao uso das tecnologias é a privacidade e a segurança dos dados. Com o avanço das capacidades de coleta e análise de informações pessoais, surgem questões éticas sobre o uso indevido desses dados por empresas e governos.

 

Desse modo, casos de violações de privacidade e vazamentos de informações sensíveis tornaram-se cada vez mais comuns, alimentando o debate sobre a necessidade de regulamentações mais rigorosas nesse setor.

 

As juventudes precisam fazer essas discussões se quiserem estar profissionalmente aptas para fazer uso dela de forma saudável e inclusiva.

 

Racismo digital e exclusão social

O chamado racismo digital é outro aspecto chave nesta formação que a Fundação e o Galpão estão oferecendo no Jardim Lapena. Diversas pesquisas têm destacado como os sistemas de inteligência artificial e aprendizado de máquina podem perpetuar vieses e discriminação racial. Algoritmos usados em várias áreas, como recrutamento, análise de crédito e policiamento preditivo, podem reproduzir e amplificar preconceitos existentes na sociedade. Assim sendo, isso resulta em desigualdades e marginalização de certos grupos étnicos.

 

Além disso, a busca por jovens com formação sênior pode agravar a exclusão social. Jovens com capacidades em  áreas menos privilegiadas podem ter dificuldade em acessar oportunidades no mercado de tecnologia devido a barreiras econômicas e educacionais. Logo, ao direcionar recursos exclusivamente para jovens com formação sênior, perpetua-se a falta de diversidade e inclusão no setor, limitando a capacidade de inovação e contribuição de quem faz parte de grupos historicamente excluídos.

 

Formação integral 

O curso com a {Parças} chega então, por meio de ação do Galpão ZL, para minimizar essas contradições. Além disso, a iniciativa visa evitar deixar a comunidade do Lapena de fora dessa tendência.

 

Ou seja, trata-se de um processo intenso, mas que pretende motivar  jovens a saírem desse processo o mais próximo possível de um perfil sênior.

 

Com encontros diários com quatro horas de duração, e com extensão de junho a novembro, 20 jovens passarão por formações técnicas de programação. Ainda, estudantes participantes do curso terão também preparações socioemocionais, com a participação de uma psicóloga, e preparação política.

 

“A dimensão política não pode ser deixada de lado”, frisa Kenia. “É importante participantes entenderem que a tecnologia é uma ferramenta poderosa caso ela seja democrática, inclusiva e não discriminatória. Conectar nossas ações com essa dimensão política faz parte da  filosofia de atuação da Fundação.”

 

 

 

Por Daniel Cerqueira 

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