Um novo projeto está ganhando destaque na Zona Leste de São Paulo. Com o nome +Lapena Alimentar, a iniciativa do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial, visa fortalecer a segurança alimentar nos bairros periféricos. O projeto busca criar soluções que contribuam para a alimentação adequada e sustentável das comunidades locais.
Uma das principais questões abordadas pelo projeto é o alto custo que a população periférica paga pelos alimentos provenientes de longas distâncias. Para solucionar esse problema, o +Lapena Alimentar pretende fortalecer as iniciativas agroecológicas já existentes nessas regiões, fomentando uma economia circular e sustentável.
A proposta vai além da segurança alimentar e abrange o direito à cidade e à justiça climática. A ideia é que as cidades, apesar de ocuparem uma pequena porção da superfície terrestre, sejam agentes de transformação social. Além disso, o foco é estimulá-las a impulsionar um paradigma urbano mais sustentável.
A pandemia global e as mudanças climáticas trouxeram à tona a necessidade de regeneração nos centros urbanos. Nesse sentido, os bairros periféricos e vulneráveis se tornaram pontos de inovação e criatividade. Além disso, predominam nesses espaços problemas como desemprego, falta de acesso à alimentação e agravamento das tensões sociais. O +Lapena Alimentar busca aproveitar a capacidade de inovação e criatividade para promover a mudança social.
O projeto baseia-se em diversos pilares para fortalecer as iniciativas locais. Um deles consiste no mapeamento, mobilização e articulação das comunidades envolvidas. Além disso, busca-se construir infraestruturas ecológicas para apoio à produção e distribuição de alimentos. A doação de alimentos e a estruturação da logística são ações concretas para garantir a segurança alimentar de dez famílias do Baixo Lapena.
Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial da Fundação Tide Setubal, explica que o processo passa pelo ciclo produção, distribuição, consumo e compostagem.
“Todo o alimento tem origem entre quatro produtores, – apenas o de grão não é da região. Para se ter uma ideia, os grandes supermercados costumam trazer os produtos de outros estados. Quando as famílias recebem os produtos, elas também recebem orientações de como consumi-los, e essa troca desperta a parte afetiva com o alimento”, destaca.
O movimento entre as famílias participantes do projeto gera a mobilização e o engajamento da comunidade, fundamentais para o seu sucesso. Por meio de formações sobre agricultura urbana, compostagem e hábitos saudáveis, os moradores são envolvidos ativamente. O objetivo é criar um plano de ação estratégico para envolver produção, distribuição e consumo de alimentos, com a participação de todas/os.
O +Lapena Alimentar também oferece aprendizagem prática, como vivências em campo. As/os moradoras/es podem apoiar o plantio, a distribuição das cestas de alimentos, a culinária e a compostagem. A composição das cestas inclui alimentos frescos, como frutas, legumes e verduras, recomendando o consumo diário de 200 a 400 gramas por pessoa.
Com o projeto, dez famílias do Baixo Lapena serão beneficiadas, recebendo cestas de alimentos. A quantidade de alimentos varia de acordo com o número de membros da família, garantindo a todas/os tenham acesso a uma alimentação saudável. Além disso, técnicas de conservação das folhosas são ensinadas, para maximizar o aproveitamento dos alimentos.
A segurança alimentar nos bairros periféricos é um desafio complexo, mas o projeto +Lapena Alimentar busca enfrentá-lo de forma abrangente. Além das ações diretas de distribuição de alimentos, o projeto também tem como objetivo criar uma rede de cooperação entre os moradores. Desse modo, visa-se promover a troca de conhecimentos e experiências sobre agricultura urbana, manejo sustentável de recursos naturais e práticas alimentares saudáveis.
A conscientização sobre a importância da alimentação saudável e sustentável é um dos pilares do projeto. As oficinas e palestras contam com temas como a valorização dos alimentos locais e sazonais, redução do desperdício alimentar e a importância de uma dieta equilibrada. Essas ações visam não apenas suprir as necessidades imediatas de alimentação, mas também promover mudanças de hábitos a longo prazo.
Além disso, o +Lapena Alimentar busca estabelecer parcerias com produtores e pequenos agricultores locais, incentivando a compra e consumo de alimentos provenientes de fontes sustentáveis. Isso não apenas fortalece a economia local, mas também reduz a dependência de grandes cadeias de distribuição e promove a diversidade de produtos agrícolas.
Participam do +Lapena Alimentar as parceiras A Cidade Precisa de Você e Pé de Feijão. O projeto tem também contribuição importante dos grupos Mulheres do Gau, CiclologLeste, Instituto Kairós e Sampa +Rural.
Outro aspecto importante é a conscientização sobre o impacto das mudanças climáticas na produção de alimentos e na segurança alimentar. O projeto busca sensibilizar moradoras/es sobre a importância da adoção de práticas agrícolas sustentáveis. Algumas delas consistem no uso responsável da água, na proteção da biodiversidade e no manejo adequado do solo. Dessa forma, contribui-se para a resiliência das comunidades perante os desafios climáticos.
O +Lapena Alimentar também visa promover a inclusão social e a igualdade de gênero nas ações relacionadas à segurança alimentar. Mulheres e jovens são incentivados a participar ativamente do projeto, fortalecendo seu protagonismo na produção e distribuição de alimentos. A valorização da diversidade e a promoção da equidade são elementos essenciais para a construção de comunidades mais justas e resilientes.
O projeto é um exemplo inspirador de como as ações locais podem ter impacto significativo na segurança alimentar e na sustentabilidade das comunidades periféricas. Ao fortalecer as iniciativas locais, promover a educação e a conscientização e estabelecer parcerias, é possível construir um futuro mais justo e sustentável para todos. Afinal, o acesso à alimentação adequada e saudável é um direito fundamental de todos os cidadãos.
Kenia Cardoso se diz esperançosa quanto ao efeito transformador dessa ação. “A relação das famílias com a comida tem função social do indivíduo com o alimentar. Ao ser trabalhada, ela muda a cultura de um bairro e lida na prática com a questão da segurança alimentar.”
Texto: Daniel Cerqueira
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