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Como dados e evidências ajudam a qualificar ações para enfrentar as desigualdades?

Dados e evidências sobre as desigualdades são estratégicos para nortear ações que objetivem combatê-las. Tais informações ajudam também a combater conteúdos de desinformação – inclusive quando se trata de mentiras online – e lugares-comuns sobre o tema.

 

Nesse sentido, as desigualdades são, simultaneamente, visíveis no cotidiano e observáveis por meio de estudos e pesquisas de origens diversas. Ao passo que, segundo o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população brasileira é negra, a sua sub-representação em espaços de poder e de decisão é inegável.

 

Um dos diversos exemplos nesse contexto é a baixa presença na magistratura brasileira. Menos de 13% é, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), composta por pessoas negras. Uma consequência é o fato de o Brasil nunca ter tido nenhuma ministra negra no Supremo Tribunal Federal (STF). E essa dimensão passa também pela dimensão salarial. Estima-se que, entre 2012 e 2023, o rendimento médio de pessoas negras correspondia a 58,3% da renda de pessoas brancas.

 

Tais níveis de desigualdades justificam a pesquisa Percepções Sobre as Desigualdades no Brasil, da Fundação Itaú. Lançado em setembro, o estudo apresenta o modo como a população brasileira percebe as disparidades presentes em contextos diversos no país.

 

Desse modo, quando se fala nas percepções sobre desigualdades, dados e evidências tornam-se ainda mais… Evidentes. Por exemplo, 77% das pessoas entrevistadas consideram que o país é um país muito desigual. Além disso, 64% desse mesmo público considera, por exemplo, que o racismo limita o acesso da população negra a oportunidades para evolução.

 

Outros dados e evidências emblemáticos na mesma pesquisa mostram que o combate às desigualdades é urgente. Enquanto 10% da população detêm 57% da renda gerada no Brasil, a metade mais pobre da população ganha 29 vezes menos do que os 10% mais ricos.

 

+ Confira a entrevista com Alan Pessoa Valadares

Dados e evidências para mudar percepções

Em entrevista à Fundação Tide Setubal, Alan Pessoa Valadares, coordenador do Observatório Fundação Itaú, destacou um aspecto identificado no comportamento das pessoas entrevistadas para pesquisa Percepções Sobre as no Brasil quanto a medidas reparatórias. De modo mais específico: tais discordâncias referiam-se às cotas sociorraciais no ensino superior.

 

Segundo Alan Pessoa Valadares, um dos grupos, composto por três homens negros, apresentava unanimidade em considerar que essa política reparatória não deveria existir.  “Continuei a ver os registros da conversa para compreender e a pergunta seguinte era por que eram contrários. Um dos argumentos era sobre um vizinho ter a mesma condição socioeconômica que a pessoa, mas ser uma família negra. Desse modo, era injusto o filho ter cotas na disputa de uma vaga e o outro não ter, mesmo tendo estudado na mesma escola que o filho. Isso já mostrava o quanto a reparação histórica não era reconhecida.”

 

Outro argumento apresentado pela pessoa contrária às cotas para o ensino superior era o receio de um filho sofrer preconceito, inclusive racial. “De novo: há alguns valores importantes e com os quais a maioria das pessoas concordaria – não quer que o filho vá a uma faculdade de elite para não sofrer discriminação. Outros pontos vieram de barreiras mais práticas, como o campus ser longe. E, por isso, seria inviável ir até lá por causa da localização, por exemplo”, pondera Alan.

 

Falando em dados e evidências, vamos a alguns. Por exemplo, um levantamento do Consórcio de Acompanhamento das Ações Afirmativas mostrou que 71% das pesquisas sobre ações afirmativas avaliaram positivamente as cotas raciais e 62% as sociais. Ainda, uma pesquisa de 2024 do Datafolha mostrou que 83% das pessoas entrevistadas apoiavam as cotas em universidades federais. Esse mesmo estudo, vale dizer, mostra que as cotas devem permanecer como estão, para corrigir desigualdades raciais, por 42%.

 

 

Sobre metodologia e narrativa

Ao comentar o papel de dados e evidências para qualificar o debate sobre desigualdades, Alan Pessoa Valadares destaca a relação entre metodologia e resultados obtidos. “Se eu fizesse uma pergunta na etapa quantitativa sobre a pessoas ser favorável ou contrária à lei de cotas, talvez o resultado de pessoas falando que são contra seria bem grande.”

 

Contudo, a etapa qualitativa para processos com esse teor – ou seja, ouvir e compreender as justificativas – permite a reflexão sobre aspectos que aparecem para além do óbvio. “O que está por trás disso é muito mais profundo e não é por haver alguma reflexão categórica sobre ser contra por isso ir contra os seus princípios ou que, por determinados motivos, isso causaria efeitos nocivos para a população.”

 

Todavia, outro ponto se destaca nesse contexto: o impacto narrativo de dados e evidências – a depender do modo e a intensidade como são veiculados – ou de conteúdos mentirosos. Desse modo, considera Alan, “há algumas narrativas que estão meio soltas e pulverizadas por aí e que as pessoas pegam isso e se posicionam, muitas vezes, dentro da polarização política.”

 

Desse modo, o coordenador do Observatório Fundação Itaú considera, enfim, que a pesquisa mostra também a importância que informações fidedignas têm para qualificar debates diversos. E, com isso, combater contradições e discursos de desinformação, como ocorre com as cotas sociorraciais.

 

“Pode-se olhar como algo positivo, por meio da pesquisa, que as contradições de narrativas que não fazem muito sentido vêm à tona. Considero esse como um ponto a ser explorado, pois isso nos ajuda a entender que elas não fazem sentido – se fizessem, não ouviríamos pontos tão contraditórios”, finaliza.

 

Texto: Amauri Eugênio Jr.

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