Viabilizar projetos nas periferias ficou mais fácil com o financiamento coletivo Matchfunding Enfrente
Por Daniel Cerqueira e Amauri Eugênio Jr. A gestão de um projeto que queira impactar a sociedade e ser duradouro demanda uma boa capacidade de planejamento. Pensar no futuro, desenhar os objetivos, as formas de alcançá-los, quais os públicos atendidos, como enfrentar os desafios e quais as necessidades financeiras de um projeto – este último […]
Por Daniel Cerqueira e Amauri Eugênio Jr.
A gestão de um projeto que queira impactar a sociedade e ser duradouro demanda uma boa capacidade de planejamento. Pensar no futuro, desenhar os objetivos, as formas de alcançá-los, quais os públicos atendidos, como enfrentar os desafios e quais as necessidades financeiras de um projeto – este último ponto contém diversas modalidades de financiamento como a captação de recursos privados, os editais de patrocínio e o fomento público dentre algumas delas. Há, no entanto, um crescente meio de conseguir dinheiro mobilizando diversas redes: o financiamento coletivo.
A Fundação Tide Setubal, em parceria com a plataforma digital de financiamento coletivo Benfeitoria, acaba de lançar o projeto Matchfunding Enfrente. A origem desse termo está relacionada a outro termo inglês, o crowdfunding, que, no Brasil, passou a se chamar “financiamento coletivo” ou “vaquinha virtual”.
No matchfunding, que poderia ser traduzido como “encontro de financiadores”, o projeto recebe um determinado valor e uma instituição imediatamente “dá match”, aumentando o valor dessa doação. E é exatamente assim como funcionará o Matchfunding Enfrente: ao conseguir arrecadar uma doação, o projeto inscrito terá o valor desta triplicado pela Fundação Tide Setubal. Ou seja, se alguém doar R$ 100, o projeto recebe R$ 300 no total.
Tati Leite fala sobre o Matchfunding Enfrente (Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo)
Tati Leite, cofundadora e CEO da Benfeitoria, conta que: “Quando começamos a construir o matchfunding com a Fundação Tide Setubal, vimos a importância dessa ação para projetos periféricos potentes que podem abrir rede, conectar e engajar outras pessoas a eles, para além do financiamento. Além disso, a Fundação fica garantida de que o dinheiro irá para uma ação concreta de alguém que precisa dele e de que tem uma rede pra fazer a ação acontecer.”
Poderão participar do Matchfunding Enfrente projetos de até R$ 30 mil que movimentem as periferias urbanas. Estes devem responder a alguns critérios básicos como: inovação, impacto, perenidade (ou capacidade de ser duradouros), custo-benefício e representatividade (aqueles que contemplem questões de raça, gênero e atinjam diferentes regiões do país). “Nossa proposta é de contemplar uma boa diversidade de projetos e apoiaremos, pela primeira vez, projetos de outras regiões do Brasil. Queremos buscar aqueles que tenham a intenção de enfrentar os problemas das periferias”, complementa Greta Salvi, coordenadora de empreendedorismo e inovação da Fundação Tide Setubal. Haverá quatro etapas até os projetos contemplados poderem colocar em prática o recebimento do financiamento.
Da ideia à execução
A primeira etapa do Matchfunding Enfrente é a “chamada criativa” e vai até 15 de dezembro de 2019. É o momento dos interessados entrarem no site benfeitoria.com/Enfrente, lerem o regulamento, elaborarem ideias e inscreverem os seus projetos no edital de seleção. A etapa seguinte é a de selecionar as iniciativas. De dezembro a janeiro de 2020, a Benfeitoria e a Fundação Tide Setubal avaliarão os projetos e definir os selecionados.
Em seguida virá a fase da consultoria, na qual cada iniciativa selecionada receberá R$ 2 mil para a preparação da campanha de arrecadação. Essa é uma etapa muito importante, pois a campanha criada é o que irá garantir o sucesso ou não de um financiamento coletivo. Ou seja, é ela a geradora do engajamento dos contatos e redes para a realização de uma ideia.
Em abril e maio acontece a arrecadação. No Matchfunding Enfrente, o financiamento coletivo será no modelo “tudo ou nada”. Ou seja, a iniciativa só recebe o financiamento se atingir a meta para se viabilizar. Caso contrário, o doador recebe o dinheiro de volta. “Nós temos, no Brasil, uma ‘pegada’ de deixar as coisas para a última hora e muita gente vê um projeto, curte e compartilha, mas não colabora na hora. Quando a meta diz que se em dois dias não for alcançada, o dinheiro será devolvido, aí a ação ganha força pela urgência. Projetos ‘tudo ou nada’ arrecadam entre cinco e 15 vezes mais do que os flexíveis”, conta Tati Leite.
Com todas essas etapas concluídas, as iniciativas financiadas terão até quatro meses para colocar em prática as ações propostas no projeto inscrito.
Convidados acompanham o lançamento do projeto (Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo)
Plataforma de lançamento
Em 11 de outubro aconteceu o evento de lançamento do Matchfunding Enfrente. O evento, que aconteceu no Impact Hub e contou com presenças de integrantes de grupos e entidades de mobilização social, assim como de atores do terceiro setor, foi voltado à apresentação da plataforma e para esclarecimentos de dúvidas sobre o funcionamento do matchfunding e quais serão os papéis da Fundação Tide Setubal e do Benfeitoria.
Para Maria Alice Setubal, presidente dos conselhos da Fundação Tide Setubal e do Grupo de Institutos, Fundações e Entidades (Gife), o Matchfunding Enfrente é um signo em favor do diálogo com diversos atores da sociedade civil e reforça o objetivo da fundação. “O que queremos com esta plataforma é construir pontes e é deste lugar de onde a fundação fala com diferentes organizações, setores, com as diferentes periferias e com as universidades.”
Maria Alice Setubal fala sobre a Fundação Tide Setubal e a importância do Matchfunding Enfrente (Léu Britto / DiCampana Foto Coletivo)
Ao seguir a mesma linha de Maria Alice Setubal, a superintendente da fundação, Mariana Almeida, destacou, durante a sua apresentação, que a plataforma reforça a ideia do fazer junto, sendo uma das diretrizes da fundação nos territórios onde atua. “Conforme a gente foi estudando e aprofundando sobre, o legal [da iniciativa] é tentar mobilizar mais gente do investimento social privado, as pessoas que querem apoiar projetos diferentes e que têm vontade de mobilizar e transformar, para poderem vir junto [a nós].”
Ainda durante o evento, Tati Leite aproveitou para destacar que mesmo com o desenvolvimento de aspectos como o edital colaborativo, a realização de pré-curadoria as iniciativas que serão escolhidas e de consultoria para poderem realizar as campanhas de arrecadação, outros atores têm papel fundamental para o projeto: de acordo com ela, “o curador final é o público.”
A cofundadora e CEO da Benfeitoria aproveitou para ressaltar o papel que o público tem para a divulgação de projetos, o que será estratégico para o sucesso do matchfunding. “O crowdfunding é ultrapotente para disseminar um projeto. 50% das pessoas que entram em um deles o divulga e abre portas para além [da campanha de arrecadação].”
Vamos em frente?
Desde 17 de outubro, o edital do Matchfunding Enfrente está aberto ao público e às entidades interessadas em inscrever os seus projetos. Interessados em participar poderão acessar o edital e detalhes em benfeitoria.com/Enfrente.