Vozes Urbanas debate sobre diversidade em universidades
Por Amauri Eugênio Jr. O projeto Vozes Urbanas, espaço de debates organizado pela Fundação Tide Setubal sobre temas relevantes para as causas defendidas por ela e que se propõe a influir no debate público, provocando a reflexão e a ação de agentes da sociedade civil e dos setores públicos, voltará a acontecer em 30 de […]
Por Amauri Eugênio Jr.
O projeto Vozes Urbanas, espaço de debates organizado pela Fundação Tide Setubal sobre temas relevantes para as causas defendidas por ela e que se propõe a influir no debate público, provocando a reflexão e a ação de agentes da sociedade civil e dos setores públicos, voltará a acontecer em 30 de setembro. O tema da quarta edição da mesa de debates do ano será “Como as universidades lidam com a diversidade?” e irá retratar de que forma o ambiente acadêmico lida com a entrada e a permanência de alunas e alunos negros, assim como é a permanência deles em tais espaços de saber.
O quarto evento anual terá participações de Márcia lima, professora do departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), e membro do Conselho Consultivo da Fundação Tide Setubal; Luiza Alves, pesquisadora sobre relações étnico-raciais na primeira infância; e Laura Cecilia López, professora do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Saúde Coletiva e do PPG em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS). A mediação será feita por Thiago de Souza Amparo, professor da FGV Direito SP, onde ministra cursos sobre direitos humanos, direito internacional, políticas públicas, diversidade e discriminação, especialista em direito constitucional, políticas públicas e empresariais de diversidade e antidiscriminação.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12,8% de jovens negros e pardos com idades entre 18 e 24 anos estavam no ensino superior. Ainda, de acordo com o Ranking Universitário Folha (RUF), divulgado em 2019 pelo jornal Folha de S.Paulo, apenas 27% dos estudantes que haviam ingressado nos 10 melhores cursos das 40 carreiras analisadas pelo ranking eram negros.
Apesar de tais indicadores serem substancialmente relevantes em comparação com 2005, quando apenas 5,5% de jovens negros e pardos frequentavam uma universidade, é nítido que este grupo étnico-social está subrepresentado na academia.
Deste modo, a disparidade racial no ambiente acadêmico passar a ser um problema imediato para pessoas negras logo após ingressarem na universidade. O racismo institucional na universidade pode ter dinâmicas variadas, passando pelo espaço reduzido para a análise de obras de intelectuais negros e por práticas veementemente discriminatórias, que abalam o desempenho de alunos e alunas a ponto de eles chegarem a desistir da trajetória na universidade.
Para Viviane Soranso, responsável pelo Vozes Urbanas na Fundação Tide Setubal, uma vez que a população negra foi historicamente apartada do ambiente escolar e acadêmico, a desigualdade racial é visível em tais espaços e que deste modo, tamanha disparidade somente será rompida quando houver equidade de condições para todos. “Por que esta população não está na universidade? Ou, se estiveram, por que algumas desistiram e quais dificuldades elas enfrentaram? Essas questões, sobre as quais precisamos conversar, serão abordadas no Vozes, uma vez que dizem respeito não somente sobre os estudantes, mas também sobre professores negros e negras.”
Pluralidade de vozes
O Vozes Urbanas, evento organizado pela Fundação Tide Setubal e que acontece pelo segundo ano, consiste em espaço de debates sobre temas relevantes para as causas defendidas por ela e que se propõe a influir no debate público, provocando a reflexão e a ação de agentes da sociedade civil e dos setores públicos.
Dentro da perspectiva das desigualdades educacionais relacionadas às questões de gênero e raça, este ano o Vozes Urbanas visa compreender a educação democrática e política nos diversos momentos de desenvolvimento pessoal, revelar barreiras sociais que dificultam a ocupação de espaços de poder por mulheres e negras(os) e pensar estratégias de ação relacionadas a políticas públicas nessa área.
A temporada 2019 teve três encontros realizados: o primeiro, que aconteceu em 24 de abril, teve como tema a “Educação para Igualdade: panorama e desafios” (veja aqui como foi) enquanto o segundo, que ocorreu em 29 de maio, debateu as “Escolas Democráticas: cidadania, representação e participação em sala de aula” (leia aqui a respeito). Já a terceira edição, que foi realizada em 28 de agosto, discutiu sobre “Políticas Públicas: possibilidades e desafios para a redução das desigualdades educacionais” (saiba aqui como foi o evento).
Por fim, Viviane Soranso considera que, mesmo com a presença maior de pessoas pretas e pardas no espaço acadêmico, a produção acadêmica desse grupo ainda não recebe o devido reconhecimento na academia. “Algumas pessoas veem esta produção acadêmica é considerada produção de militante, mas é necessário questionar: é possível dissociar a militância dessa produção? Acredito que não. Quais são os tipos de autores que a gente lê e reproduz, uma vez que a maioria abrange homens brancos. Ainda, é difícil aceitar uma referência negra e que rompa com o perfil eurocêntrico.”
Onde e quando será?
A quarta edição do Vozes Urbanas acontecerá em 30 de setembro (segunda-feira), na Fundação Getulio Vargas (rua Rocha, 233, Bela Vista), das 18h30 às 21h30. Inscrições podem ser feitas aqui.
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