Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
9º Encontro de Cultura Caipira leva mistura de ritmos e cultura do interior para a cidade
O CDC Tide Setubal foi palco do 9º Encontro de Cultura Caipira, que aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de junho, em São Miguel Paulista. Com o tema O Lúdico Contra a Barbárie: a roça poética em Manoel de Barros, o evento atraiu, aproximadamente, 2 mil pessoas. “Tivemos um público muito maior este ano […]
O CDC Tide Setubal foi palco do 9º Encontro de Cultura Caipira, que aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de junho, em São Miguel Paulista. Com o tema O Lúdico Contra a Barbárie: a roça poética em Manoel de Barros, o evento atraiu, aproximadamente, 2 mil pessoas. “Tivemos um público muito maior este ano do que em anos anteriores. Tentamos passar o tema por meio de intervenções poéticas. Além disso, queríamos provocar uma reflexão entre o campo e a cidade e mostrar que a cultura do interior também pode estar inserida no que é urbano”, explica Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador de cultura da Fundação Tide Setubal.
Numa mistura entre a cultura nordestina e as tradições do interior, o público pôde assistir a uma série de manifestações culturais. Para abrir a festa, o Trio Rastapé Flor de Muçambê não deixou ninguém parado. Ao som de muito forró pé de serra, Gilmara Guimarães e o marido esqueceram a timidez e resolveram arriscar alguns passos. “Acho ótimo esse tipo de festa. A gente resgata a cultura popular e, ao mesmo tempo, faz com que as novas gerações conheçam e preservem outros ritmos”, diz.
A quadrilha das crianças do projeto Um Passe para a Arte, do Galpão de Cultura e Cidadania, também chamou bastante atenção – além de misturar frevo e forró, um boi-bumbá se destacou durante a dança. “Hoje em dia, as festas juninas estão modernas e perderam aquela característica de festa do interior, festa popular”, diz Aldenir Alves, 55 anos, que foi com a filha, Andrea Alves, e o neto, Henrique, prestigiar a festa. Moradora do Jardim São Vicente, a família resolveu participar pelo segundo ano consecutivo do evento. “A festa do CDC é sempre muito bonita, com muita música, além das apresentações diferenciadas. Viemos no ano passado e entramos na ciranda, foi muito divertido. A festa tem um clima bem convidativo e familiar”, completa Andrea.
O grupo Folia de Reis Estrela Dalva, de Guarulhos, também não deixou ninguém parado, assim como o grupo Amigos da Viola Caipira, que relembrou várias modas de viola. Para encerrar o primeiro dia de festa, o grupo Batakerê, com o espetáculo A Cara do Brasil, arrancou gargalhadas de crianças e adultos.
Quadrilha temática– Ao som de Chico Buarque de Hollanda, a quadrilha Fazedor do Amanhecer, formada por jovens pertencentes a diversos núcleos da Fundação Tide Setubal, abriu o festejo no sábado.Era possível observar a curiosidade e a surpresa estampada no rosto das pessoas. Neste ano, o tema escolhido pelos jovens foi a redução da maioridade penal. “Ajudamos a fazer o roteiro, queríamos que as pessoas refletissem sobre o tema e entendessem a importância do assunto e como ele pode interferir no futuro do país”, explica Vanessa Oliveira Moura, uma das participantes da quadrilha.
Maria Antônia Soares foi uma das pessoas que ficaram bastante comovidas com o enredo da quadrilha. “A sociedade precisava acordar! Tenho um filho de 21 anos e uma filha de 17 anos, negra, linda e que não consegue emprego. Minha filha sonha em ser correspondente internacional. Não sei como ela irá realizar esse sonho, mas acredito no potencial dela. Eu nunca tinha assistido a uma quadrilha como esta, a gente que é mãe de jovem e de adolescente e mora na periferia sabe que a maioria desses jovens nasce condenada à falta de oportunidade. Se não tiverem uma família boa, se perdem no caminho”, ressalta.
Logo após a quadrilha, foi a vez do grupo Jabuticaqui Ritmo e Tradição, vindo de Mogi das Cruzes. “Sempre damos ênfase à cultura maranhense, uma das coisas que nos surpreenderam foi a participação do público”, diz Neide Maranhão.
Jéssica Bertolucci, 16 anos, Thainã Rosário, 15 anos, e Natália de Oliveira, 15 anos, participaram pela primeira vez do Encontro e também ficaram surpresas. Elas mal tinham chegado, estavam num cantinho somente observando, quando o grupo Jabuticaqui começou a apresentação. “Quando ouvi o barulho do tambor e a cantiga de roda, não aguentei, quis participar”, diz Natália, que também incentivou as amigas a entrarem na roda. “Nunca tinha visto e muito menos participado de uma dança como esta”, completa Thainã. “Ano que vem, estaremos aqui”, ressalta Jéssica.
Duas novidades também despertaram a atenção do público: a Orquestra de Berimbaus do Morro do Querosene e a Festa do Biju, com a participação especial da Casa de Farinha de São Miguel.
A Orquestra Piracicabana de Viola Caipira encerrou o segundo dia de festa. Olandina Barbosa não parava de cantarolar. Ao som de João Mineiro e Marciano, ela se emocionou quando a Orquestra Piracicabana de Viola tocou a música Ainda Ontem Chorei de Saudade. “Ouço essas músicas e me lembro da minha juventude lá no interior da Bahia”, comenta.
Outra que não parava de dançar era Augusta Eneida Camargo, 82 anos. “Chamei minha irmã, mas ela não quis vir, aí vim sozinha. Adoro dançar e, neste ano, está melhor que nos outros. Muita gente jovem, alegre e divertida. Para quem já faz parte da terceira idade, oportunidades como essas são poucas, por isso estou aqui.”
Joselma Dias também não parava de cantarolar. A pernambucana, que mora em São Paulo há mais de 30 anos, levou filhas e genro ao Encontro. “Moro perto do mercadão e soubemos da festa pela TV, arrastei minhas filhas e meu genro. Eu adoro festa junina, e essa me fez lembrar das festas do Norte e Nordeste, cheias de cores, dança, música e comidas deliciosas.” “Minha mãe nos contou sobre a festa junina e, como aqui, em São Miguel, não acontecem muitas festas juninas, decidimos vir. O lugar está lindo, tem muita opção de comida típica e a festa está bem animada com o forró, gostei muito”, diz Daniele Dias, filha de Joselma.
Marcos Antonio Murila, do bairro de Bonsucesso, em Guarulhos, também resolveu participar da festa junto com a esposa e os filhos de 11, 7 e 3 anos de idade. “Não conhecia o CDC, mas, assistindo ao jornal SPTV, fiquei sabendo da festa. Isso aqui é maravilhoso. Queria que meus filhos conhecessem um pouco mais sobre a cultura nordestina e a sobre a minha origem. O lugar é simples, mas o cenário me fez viajar até o meu passado”, diz.
Alegria foi a palavra de ordem no último dia de festa –Em ritmo de forró, o público foi chegando para o início da festa. O cordelista Cacá Lopes abriu as comemorações, com apresentação do musical Cordel Cantado. “Fiquei surpreso com a receptividade do público, é sempre um desafio fazer voz e tocar violão. Esta foi a primeira vez que participei do Encontro e achei fantástico.”
Convidada pelo amigo Cacá Lopes, Telma Queiroz, moradora da zona sul, também se surpreendeu com o local. “Sou produtora cultural, entro em qualquer lugar pensando nos espaços. Fiquei surpresa quando cheguei e vi a cenografia deste palco. Tem muita gente, em teatro, que não tem uma cenografia como essa. Além disso, a sinergia entre todos contagia. Vim sem muita expectativa e estou maravilhada com a qualidade dos shows e a alegria das pessoas.”
A Comunidade Jongo, de Embu das Artes, também fez muita gente dançar e entrar na roda. Tamires Camargo é uma das integrantes do grupo e participou pela primeira vez do Encontro. “É superimportante participar de uma festa como esta. O Encontro ajuda a quebrar preconceitos e, ao mesmo tempo, conseguimos mostrar que o jongo faz parte da cultura brasileira. Afinal, branco quer aprender dança de preto”, responde cantando.
Participando pela quarta vez consecutiva do Encontro, a Orquestra Sinfônica de Embu das Artes encerrou a festa e fez muita gente dançar.
Martha Félix, moradora da Vila Rosália, foi uma delas. Ela estava indo dormir quando a amiga Solange Paes Landim a convenceu a conhecer o Encontro. “Isso aqui é maravilhoso! Moro na zona leste há muitos anos e, somente agora, tive a oportunidade de vir. Quando a Solange me chamou, achei que fosse mais uma festa junina. Não imaginei que fosse ouvir tanta música boa e ver diferentes formas de cultura. No ano que vem, estarei aqui novamente”, diz, dançando ao som de uma música de Adoniran Barbosa tocada pela Orquestra Sinfônica de Embu das Artes.