Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Como a empatia e o afeto influenciam a efetividade da comunicação de causas?
A empatia e o afeto podem ser elementos estratégicos no desenvolvimento de projetos para diálogos com públicos diversos.
“Dialogar com grupos conservadores envolve comprometimento empático. É colocar-se em busca de conhecer a maior parte possível da trajetória, visão de mundo, valores e traumas de interlocutores. É navegar por esse lugar de curiosidade e falta de certeza, fugindo do lugar fácil e cômodo da rotulação.” Com essa afirmação, Gut Simon, comunicador social, estrategista de advocacy e mobilização, idealizador e coautor do livro Semente de Vida: Rejeição e Aceitação de Filhos/as/es LGBTI+ em Lares Cristãos, fala de sua perspectiva sobre como a empatia e o afeto ajudam a tornar a comunicação de causas mais efetiva.
Nesse sentido, de acordo com Simon, duas premissas são pertinentes na aproximação com o campo conservador e religioso por meio da perspectiva que contempla a empatia e o afeto. Assim sendo, a primeira tem como fundamento focar em perguntas do que em apresentar respostas – ou seja, convidar à reflexão em vez de desenvolver afirmações contundentes. Ainda, a segunda consiste na compreensão de que a disputa narrativa está em curso quando se fala em questões relativas à sexualidade e ao gênero.
Ou seja, a segunda premissa passa por emoções e pela função da fé na vida de pessoas religiosas nesse contexto. “É chegada a hora de investir esforços em narrativas de reimaginação de um Deus que sai de um lugar rígido, hierárquico e violento, por um que se permite encarnar no afeto, na celebração da vida e de sua potência criativa. As hermenêuticas queer, negra e feminista, por exemplo, e os discursos que proclamam um Deus que celebra e afirma a diversidade, podem nos ajudar a dialogar com grupos conservadores religiosos para impedir o avanço do discurso fundamentalista. E, assim, gerarmos uma sociedade de amor, acolhimento, compaixão, justiça e democracia”, reforça o comunicador social e estrategista de advocacy e mobilização.
Sobre conexão, acolhimento e afeto
A empatia e o afeto podem funcionar também como elementos para estruturar estratégias de comunicação com grupos para além da bolha. Essa é a proposta, por exemplo, da publicação Comunicação de Causas: Reflexões e Provocações para Novas Narrativas, lançada em 2020.
O projeto, que visa abrir ao campo progressista uma possibilidade de reflexão sobre suas práticas comunicativas, funcionou, de acordo com Gut Simon, como um dos materiais de referência para o desenvolvimento do livro Semente de Vida.
“Para mim, construir narrativas afetuosas é trazer a conversa, ou a defesa de uma causa, para o chão da vida. A publicação apresenta algumas dicas práticas para construção desse tipo de narrativa. Algumas delas são: conectar-se com as vivências cotidianas das pessoas; buscar pontos de encontro; exercitar postura de abertura à troca; usar linguagem simples e direta; tratar das agendas por partes etc.” É desse modo como Simon completa a sua perspectiva sobre como a empatia e o afeto podem influenciar a efetividade da comunicação de causas.
Confira a série Ciclo de Conversas Semente de Vida: Alianças Progressistas LGBTI+ Contra o Discurso Religioso Fundamentalista, derivada do livro Semente de Vida
Saiba mais
+ Publicação Comunicação de Causas – Reflexões e Provocações para Novas Narrativas
+ Pesquisa O conservadorismo e as questões sociais
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Zen Chung / Pexels