Cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades evidencia os trabalhos de pessoas pesquisadoras
Realizada na Enap, a cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades contou com homenagem à servidora pública e especialista em orçamento Roseli Faria.
Reconhecimento à dedicação ao serviço público, emoção e homenagens. Estes aspectos nortearam a realização da cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades.
Com organização de Fundação Tide Setubal, Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as/es (ABPN) e Redes de Economistas Pretas e Pretos (Repp), o evento, que aconteceu na sede da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), contou com entregas dos prêmios às pessoas cujos manuscritos foram escolhidos pela banca de seleção.
Nesse sentido, a iniciativa objetivou destacar o papel do orçamento para colocar o Estado no papel de protagonista da preservação socioambiental. E, desse modo, proteger a população dos efeitos das mudanças climáticas. A saber, esta edição do prêmio teve quatro categorias:
- Orçamento público, democracia, garantia de direitos e justiça climática;
- Sistema tributário, dívida pública e política fiscal para a promoção da equidade;
- Novos arranjos financeiros para a implementação de políticas setoriais, em especial políticas de adaptação climática e finanças verdes;
- Emendas orçamentárias, relação Executivo-Legislativo e equidade, eficácia e efetividade na alocação dos recursos públicos.
Dentro dessa lógica, Betânia Lemos, presidente da Enap, destaca como o prêmio reconhece, por meio dos manuscritos submetidos, o papel do orçamento público para combater os efeitos das mudanças climáticas.
“Por isso, tais temáticas estão incluídas no prêmio e realçam que se não as incluirmos no orçamento e não mudarmos ainda mais a forma como construímos as peças orçamentárias, ao colocar as questões de sustentabilidade, aumentaremos ainda mais as desigualdades no nosso país. Sabe-se, afinal, que as mudanças climáticas afetam de forma diferente as diversas populações e ainda mais aquelas que sempre estiveram à margem nos orçamentos”, explica.
Combate às desigualdades no orçamento
Durante a cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades, Delton Aparecido Felipe, coordenador de Políticas e Ações Afirmativas da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) (ABPN), destacou a importância da iniciativa para mostrar o papel do orçamento público como instrumento para a garantia de políticas voltadas a grupos minorizados de direitos.
Um exemplo nesse sentido é a definição de aportes para assegurar políticas de permanência de jovens negras e negros em universidades públicas. “Não basta abrir a porta da universidade e do serviço público. É necessário dotar aqueles e aquelas que ingressam nesse espaço e dar condições para a sua permanência e êxito. Isso é algo que o Brasil reclama desde quando se implantou o ensino superior nesse país.”
Mariana Almeida, diretora-executiva da Fundação Tide Setubal, explicou , por sua vez, que o orçamento pode, se não houver intencionalidade em combater desigualdades, até mesmo aprofundá-las. Com isso, reverter essa abordagem passa por reconhecê-lo como um instrumento com foco na garantia de direitos sociais.
“Poder mobilizar conhecimento e pessoas diversas para pensar sobre isso e criar isso enquanto tema é algo que nos faz felizes por podermos contribuir. Esta quarta edição tem muito mais inscritos e, no conjunto todo, tem robustez de artigos – sou também avaliadora no prêmio. É muito bom ver a evolução das temáticas, da forma de trabalhar e da profundidade que ganhou. Isso porque o campo de pesquisa é assim: é necessário insistir e ser explícito”, pondera.
Um aspecto que corrobora a importância do prêmio reflete-se na sua continuidade. Durante o evento, um acordo de continuidade da iniciativa foi oficializado por meio de parceria entre a Fundação e a Enap.

Pessoas premiadas e participantes da cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades (foto: Domenica Pedroso)
Ordem dos manuscritos na cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades
A cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades contou também, então, com o anúncio da classificação dos oito manuscritos selecionados.
Confira a seguir a ordem final dos artigos reconhecidos por meio da premiação:
- 1° lugar: Justiça Climática e Reconhecimento Orçamentário: O pagamento por serviços ambientais como política para os povos indígenas no Brasil, de Sérgio Ricardo Rodrigues;
- 2° lugar: Busca Ativa como Estratégia de Justiça Orçamentária na Política de Assistência Social: a experiência de Nova Iguaçu no enfrentamento às desigualdades, de Kleber Luiz A. S. Gonzaga;
- 3° lugar: Política Macroeconômica e Desigualdade: Uma avaliação sobre os gastos sociais no Brasil no período 2011-2021, de Laura Cristina de Oliveira Nascimento;
- 4° lugar: Saúde em Jogo: Emendas parlamentares e a (des)atenção à Saúde, de Taissa Maia e João Coelho Brasil;
- 5° lugar: Implementação da Complementação-VAAR do Novo Fundeb: Problema ou solução para uma Educação com equidade?, de Izabella Andrade Silva;
- 6° lugar: Orçamento Público como Instrumento de Justiça Social e Climática: Um estudo sobre transparência e participação democrática, de Fabio Marcelo Cuty da Silva e Jakeline Rodrigues;
- 7° lugar: Efeito do Acesso ao Crédito sobre a Desigualdade de Rendimentos entre Homens e Mulheres nos Municípios Nordestinos, de Diego Carneiro e Felipe Bastos;
- 8° lugar: Finanças Públicas para Conservação da Biodiversidade no Brasil: Uma análise dos gastos e necessidade no Governo Federal do Brasil entre 2000 e 2019, de Carlos Eduardo Menezes da Silva e Jorge Madeira Nogueira.
Legado, homenagens e futuro
Para além da premiação, a cerimônia do IV Prêmio Orçamento Público, Garantia de Direitos e Combate às Desigualdades foi marcada, então, pela emoção. Durante momentos diversos da solenidade, as pessoas participantes homenagearam a servidora pública e especialista em orçamento Roseli Faria, que faleceu em setembro.
Roseli, que foi também conselheira fiscal da Fundação Tide Setubal e uma das profissionais idealizadoras do prêmio, o nomeará nas próximas edições.
“Em todos os projetos que apresentávamos, ela vinha com outra ideia a respeito. A garantia de direitos, a equidade racial e o combate às desigualdades não eram [apenas] temas: eles estavam na forma dela ser enquanto preocupação e cuidado – era permanente”, relembra Mariana Almeida. “Honrar essa forma de ser, falar disso, esperar que o institucional também seja cada vez mais permeado por essa forma de ser, talvez seja nossa pequena possível contribuição ao legado de Roseli.”
Já Clara Marinho, analista de planejamento e orçamento, destacou, enfim, o fato de Roseli Faria ter sido “uma servidora vocacionada” e que articulava competência técnica com justiça social. Para ela, Roseli representava a percepção de que as finanças públicas não eram, então, apenas técnicas ou neutras. Essa dimensão vem à tona ao destacar a necessidade de se criar um espaço de reflexão coletiva para novas ideias florescerem.
“São as ideias que conectam os instrumentos de planejamento e orçamento à Constituição Federal. Nós, servidores públicos, trabalhamos sob o mandato da Constituição. Então, ações afirmativas nas universidades e no serviço público, planejamento e orçamento público sensíveis ao enfrentamento de desigualdades sociais, de gênero e raça, têm a cara de Roseli”, finaliza.
Texto: Amauri Eugênio Jr.
