Metodologia da websérie ‘Ancestrais do Futuro’ mostra a construção do projeto e caminhos para apoio à comunicação das periferias brasileiras
Além de destacar o processo de construção da iniciativa, a metodologia da websérie ‘Ancestrais do Futuro’ apresenta o conceito de justiça narrativa
Narrativas e construções coletivas sobre ontem. Sobre hoje. Sobre amanhã. Essa abordagem está presente, de modo estruturante, na metodologia da websérie Ancestrais do Futuro. A saber, o título da publicação é Ancestrais do Futuro – Uma experiência de apoio e fortalecimento de produções audiovisuais das periferias.
A publicação, que apresenta o processo de desenvolvimento da websérie, objetiva mostrar as dinâmicas diversas da mobilização das juventudes brasileiras em seus respectivos territórios.
Vale destacar que a iniciativa, que foi idealizada pelas áreas de Comunicação Estratégica e de Fomento a Agentes e Causas da Fundação e conta com coautoria do Programa Democracia e Cidadania Ativa, tem o apoio a coletivos audiovisuais das periferias de todo o Brasil como a sua razão de ser.
Com cinco temporadas, a iniciativa passa por aspectos diversos sobre as particularidades e cosmovisões de quem mora em áreas periféricas do país. Desse modo, como a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro mostra, um de seus fios condutores é promover o conceito de justiça narrativa.
Trata-se, então, de “movimento de reconstrução, reinterpretação e revalorização de histórias e perspectivas de grupos historicamente silenciados e colocados à margem da política de fomento à produção audiovisual brasileira”. Essa lógica conecta-se com a sub-representação de pessoas negras nesse mercado. Assim sendo, essa lógica torna-se ainda mais profunda com a intersecção de gênero e raça. Desse modo, o conceito de justiça narrativa destaca:
“A importância de construir espaços para que essas comunidades possam contar as suas próprias histórias em primeira pessoa, moldando as narrativas de maneira que reflitam suas identidades, experiências, culturas e realidades, sem a mediação ou a distorção por parte de vozes externas.”
Sobre a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro e a prática
A publicação Ancestrais do Futuro – Uma experiência de apoio e fortalecimento de produções audiovisuais das periferias mostra as etapas que compõem a realização da websérie.
Com um tema específico a cada edição, que dialoga com a relação das juventudes periféricas com o mundo, cada temporada passa, primeiro, pelo chamamento de coletivas, por meio de carta-convite, para participar de ciclo formativo chamado Lab Enfrente. Essa formação consiste, então, em masterclasses sobre temas diversos, como roteiro, edição, pós-produção e distribuição.
Desse modo, a partir dessa etapa, cada coletiva participante deve enviar a sua proposta de curta-metragem. Esse documento deve estar, então, em conformidade com o tema da temporada em questão e os aspectos apresentados durante as masterclasses.
Após processo de curadoria e seleção, que conta com participações de pessoas avaliadoras externas e da própria Fundação Tide Setubal, escolhem-se cinco curtas metragens e cada coletiva recebe apoio – em 2025, de R$ 20 mil – para a produção em conformidade com os parâmetros estabelecidos e a proposta enviada.
Vale dizer que as coletivas têm liberdade para, dentro do orçamento proposto, investir o montante em áreas estratégicas para elas. Isso pode abranger, por exemplo, compras de equipamentos para filmagem, formalização e demais áreas fundamentais para a subsistência de cada grupo. A título de curiosidade, as cinco temporadas totalizam R$ 500 mil em valores aportados para as 25 coletivas que desenvolveram curtas-metragens de até oito minutos.
Valorização e protagonismo
Em diálogo com o apoio financeiro, a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro mostra a importância de se apoiar a produção audiovisual de coletivas das periferias. Essa perspectiva dialoga com a realização de eventos presenciais para o lançamento dos episódios – o que acontece desde 2023 e conta com participações de representantes de cada uma das cinco coletivas integrantes.
Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal, destaca o papel estratégico do apoio ao trabalho de pessoas comunicadoras com trajetória periférica.
“Mais do que mostrar o passo a passo para desenvolver o projeto, a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro mostra que é necessário haver intencionalidade para apoiar profissionais em comunicação das periferias. Precisamos ter em mente que o fortalecimento do tecido democrático e da noção de cidadania, assim como o enfrentamento das desigualdades, passa pelo direito de contar as suas próprias histórias. E essa lógica precisa estar em conformidade com o olhar das coletivas sobre os problemas e a potência dos seus respectivos territórios.”
Essa lógica conecta-se também com a democratização do acesso à produção e ao consumo de produtos culturais. E isso abrange, para além do apoio propriamente dito, a distribuição dos filmes produzidos.
Não por acaso, essa etapa é estratégica para a iniciativa. Ao mesmo tempo em que o evento presencial promove o movimento de agentes das bordas ocuparem espaços em áreas consideradas centrais, as coletivas realizam exibições dos filmes produzidos em locais estratégicos nos seus respectivos territórios. Assim sendo, tais espaços poderiam ser escolas, centros culturais e comunitários e áreas de convívio público.
Sobre as temporadas
A publicação sobre a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro mostra a distribuição geográfica e a abordagem temática de cada uma de suas temporadas. A saber, o documento contém informações sobre as quatro primeiras temporadas, enquanto a quinta veio ao mundo no mesmo evento de lançamento da publicação:
- Temporada 1 (Juventudes, Territórios e o Fazer Política): contou com participações de Rede Wayuri e Instituto Socioambiental (AM), TV Comunidade (MA), Coletivo Apeirom (DF), Renca Produções (MG) e Ara Dudu (RS);
- Temporada 2 (Sonho e Futuro): Dzawi Filmes (PA), Coletivo Obirin e Rede Tumulto (PE), MT Queer (MT) e Cinequebrada Produções (SP);
- Temporada 3 (Memória e Ancestralidade nos Territórios): Souza.DOC e Negritar Produções (PA), Força Tururu (PE), Olhar Marginal (SP) e DDB7 Produções (PR);
- Temporada 4 (Mudanças Climáticas: ideias e reflexões para adiar o fim do mundo): Gueto Hub (PA), Coquevídeo (PE), Bora Fazer Filmes (MS), Núcleo AOTA (SP) e Cine Kafuné (RS);
- Temporada 5 (Juventudes e Fé): Apoena (PA), Ficcionalizinho (PE), Trivial Filmes (MT), Várias Fita Filmes (SP) e Ofà Dodún (PR).
Os temas das temporadas e os episódios que as integram mostram que a pluralidade narrativa é reflexo da diversidade de perfis, territórios e visões de mundo. E, assim sendo, elas compõem um mosaico que reflete múltiplas maneiras de ser e estar no mundo, assim como de modos para solucionar problemas sociais.
“Mais do que ver a comunicação como uma ferramenta para troca de informações, é fundamental vê-la como um dispositivo de poder capaz de estruturar realidades. E, desse modo, ela pode também legitimar discursos e ideologias, assim como transformar relações de força entre diferentes grupos sociais”, reforça Fernanda Nobre. “Logo, o Ancestrais do Futuro tem como missão colocar grupos e pessoas comunicadoras das periferias como agentes comunicacionais e, enfim, produtores de conhecimento, narrativas e visões de mundo.”
Para baixar, ler e se inspirar
Baixe a publicação Ancestrais do Futuro – Uma experiência de apoio e fortalecimento de produções audiovisuais das periferias, sobre a metodologia da websérie Ancestrais do Futuro.
Por fim, assista à quinta temporada da websérie Ancestrais do Futuro no Enfrente, o canal da Fundação Tide Setubal no YouTube.
Texto: Amauri Eugênio Jr.
