UBS, ONGs e escolas públicas são beneficiadas com formação do Mundo Jovem
Metodologia é comportilhada com diferentes profissionais proporcionando inovação em suas ações
Cerca de 40 profissionais de organizações não-governamentais, escolas públicas e de duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da zona leste estão participando, desde o início de 2010, de uma formação oferecida pela equipe do Programa Mundo Jovem, da Fundação Tide Setubal. O objetivo é disseminar a metodologia de trabalho com grupos de adolescentes e aprofundar conceitos e debates sobre temas da juventude, tais como identidade, sexualidade, corpo, família e drogas.
Como as realidades na educação formal e não-formal são diferentes, a equipe do Mundo Jovem optou por constituir dois grupos. No grupo de educação formal, há professores de cinco escolas municipais e quatro CEUs da região leste. Até novembro, eles participarão, quinzenalmente, de encontros formativos do Mundo Jovem e aplicarão os aprendizados em suas escolas, com adolescentes, para desenvolver as atividades propostas em horário extra-classe. Já o grupo de educação não-formal é composto por profissionais de ONGs e da área de enfermagem da UBS Vila Cisper, em Ermelino Matarazzo, e da UBS Vila Nova União, em São Miguel Paulista. A formação para esta turma vai até o final de junho.
Orientação para saúde
Em 2009, os servidores de saúde da Vila Cisper perceberam a ausência de jovens em encontros de esclarecimento promovidos dentro da unidade. Foi quando resolveram se aproximar da Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita, localizada no mesmo bairro, para abordar assuntos como doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez na adolescência, métodos contraceptivos e aborto, com alunos da oitava série e do ensino médio. “Os jovens só procuram o médico quando precisam; não vão ao posto para consultas de rotina ou para orientações”, conta Nelir Nascimento, auxiliar de enfermagem da UBS Vila Cisper.
Para aprimorar o trabalho, Nelir se inscreveu na formação do Mundo Jovem e levou outros integrantes de sua equipe. “Se queremos chegar até essa moçada, há determinados assuntos para os quais precisamos encontrar outras formas de abordagem; não podemos passar apenas a informação técnica”, acrescenta a profissional. Já a enfermeira Nancy Santos destaca o aprendizado de atividades dinâmicas, que chamam a atenção para as orientações, oferecidas, hoje, a cerca de 40 alunos. “Os jovens ficam mais participativos”, relata.
Adriana Estevão Nonato, orientadora educacional do Centro da Criança e do Adolescente (CCA) Vila Itaim, participa do mesmo grupo de formação. Ela conta que sua turma passou a consultar o livro Mundo Jovem e a propor atividades. “Antes que eu sugerisse, eles pediram para fazermos uma roda de conversa sobre sexualidade. Está sendo ótimo”, destaca.
A pedagoga e assistente-técnica do CCA Jd. São Carlos Lúcia Regina Navarro dos Santos destaca que a grande contribuição é a troca de experiências. Renata Ferreira da Silva, educadora do mesmo CCA, ressalta a possibilidade de partilhar as dúvidas. “E quanto mais aprendemos, mais desenvolvemos nosso trabalho na instituição”, explica. Vera Lúcia das Neves Góes, educadora do CCA Parque Paulistano, comenta que a formação veio em boa hora, pois, após trabalhar por 16 anos com crianças, está, em 2010, com uma turma de adolescentes. “Com os encontros, tenho repensado minha prática. É uma atualização fundamental”, conta.
Diálogo ampliado
Para os profissionais da educação formal, a aplicação do aprendizado da Formação Mundo Jovem é um pouco diferente. Os docentes foram convidados a criar grupos com alunos, para desenvolver as atividades. Elio Ribeiro Nascimento, professor de matemática do CEU Parque São Carlos, compôs uma turma com 15 estudantes, que se reúnem no contraturno das aulas às quintas-feiras. “Nos encontros, percebo uma fala mais elaborada dos jovens, mostrando que eles começam a refletir mais sobre os temas propostos”. O comportamento de rapazes e moças muda de fato, segundo Mabel Martins, professora de educação física, que participou da constituição de um grupo no CEU Três Pontes. “Eles ficaram mais tolerantes. Por exemplo: já não observo mais discriminação contra as garotas que não dominam tão bem atividades praticadas pelo grupo, como futebol e balé.”
Os resultados também aparecem na rotina dos professores, segundo Elio. “Com as reflexões daqui, consigo compreender melhor os conflitos entre os adolescentes. Não sou apenas o mediador. Hoje, consigo orientá-los um pouco mais, propondo atividades que contribuem para a resolução dos problemas.” De acordo com Viviane Hercowitz, coordenadora do Programa Mundo Jovem, a proposta é bem abrangente. “Queremos que os participantes multipliquem a metodologia participativa do Mundo Jovem em suas instituições, buscando, assim, fortalecê-las”. Por este motivo, além da discussão dos temas, abordam-se técnicas para estimular a cooperação dos adolescentes no trabalho desenvolvido pelas entidades.