Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Grafites dialogam com a paisagem urbana de São Miguel Paulista
Em 27 de março, um domingo, mais de 25 artistas da zona leste da cidade de São Paulo e de outras localidades participaram da intervenção urbana “Um Olhar sobre a Rua — Aprendizagens e Percursos”, em São Miguel Paulista. Por meio de grafites, não só deram um novo colorido ao bairro, como também expressaram suas […]
Em 27 de março, um domingo, mais de 25 artistas da zona leste da cidade de São Paulo e de outras localidades participaram da intervenção urbana “Um Olhar sobre a Rua — Aprendizagens e Percursos”, em São Miguel Paulista. Por meio de grafites, não só deram um novo colorido ao bairro, como também expressaram suas visões sobre a região e a cidade, dialogando com a paisagem local. A iniciativa marcou o 5º Encontro de Cultura Hip Hop, promovido pela Fundação Tide Setubal.
A ideia era ocupar as ruas, criando um trajeto de grafites do CDC Tide Setubal, no Jardim São Vicente, até o bairro da Nitro-Operária. Os artistas foram convidados a usar sua criatividade para compartilhar com os moradores sua leitura da paisagem. “Queremos que os atores sociais locais, não locais e o poder público compreendam o valor da arte como forma de inclusão social e de desenvolvimento humano”, destacou Tião Soares, coordenador de cultura da Fundação Tide Setubal e idealizador do evento.
Visões sobre a rua
O trajeto de grafite passou por 12 ruas e incluiu um muro da CPTM, na região da Nitro-Operária, caracterizado pela presença de pessoas em situação de rua. Essa realidade foi tematizada no trabalho do coletivo Ilegal, formado por Magoo, Brown e Totó. “Nossa proposta dialoga bem com esse espaço; vamos colocar aqui moradores de rua jogando baralho”, comentou Magoo, durante os primeiros traçados no muro. Para o coletivo, o grafite é um modo de chamar a atenção para o problema.
Outro grupo preferiu homenagear a cultura nordestina. Ao ouvir um forró, tocando do outro lado da calçada, Manulo decidiu estampar um nordestino com a sanfona na parede. “Afinal, São Miguel é o maior reduto nordestino da cidade de São Paulo”, ressaltou o artista, que grafitou na rua Cumaru, com B.O. e Chorão.
O coletivo feminista Maçãs Podres, formado por Fernanda Sunega, Ana Clara e Patrick Monteiro, abordou a questão da violência contra a mulher, relembrando o caso do assassinato da advogada Mércia Nakashima, na cidade de Guarulhos (SP). “A origem do grafite é a manifestação política. Trabalhamos a ideia de que mulheres não querem flores, querem justiça”, afirmou Patrick.
Reconhecimento e inclusão
Para Fernando RV, que participa do Encontro de Cultura Hip Hop desde a primeira edição, o evento inova a cada ano. “Antes pintávamos painéis no CDC, agora a tinta está escorrendo dos muros do bairro. É importante ter esse diferencial.” Skilo e B.O. destacaram que o evento é um incentivo para os artistas. “É uma oportunidade para mostrarmos o trabalho em nossa região. No início, os moradores ficam um pouco assustados, mas interagem quando explicamos o que é grafite”, disse B.O.. Vale lembrar que alguns muros grafitados eram de residências cujos moradores apoiaram a ação.
Irandi Barbosa da Silva foi uma das moradoras de São Miguel que se surpreendeu com a movimentação e o novo visual do bairro. “Ficaram mais coloridas as ruas. É bacana usarem a criatividade para passarem boas mensagens. Com esse evento, também podemos conhecer e reconhecer o trabalho dos artistas”, relatou.