Doze horas de programação marcaram o 6° Encontro de Cultura Hip Hop
Evento promoveu o encontro dos coletivos juvenis da zona leste. A edição desse ano incluiu outras expressões culturais, como o audiovisual, a literatura e a moda. RAPadura fez o show de encerramento, mostrando seu inventivo RAPente
Pelo sexto ano consecutivo, o Encontro de Cultura Hip Hop reuniu centenas de pessoas no Clube da Comunidade (CDC) Tide Setubal, em São Miguel Paulista, bairro da zona leste de São Paulo (SP). No sábado, 28 de abril, foram doze horas de programação cultural, com grafitagem em muros, apresentações de DJs e grupos de rap. A novidade dessa edição foi a inclusão de outras expressões culturais no evento, como o audiovisual e a literatura. Por esse motivo, agora o evento é denominado Encontro de Cultura Hip Hop e Aliados de São Miguel.
“Já virou uma tradição reunirmos artistas do hip hop e coletivos juvenis da zona leste, para comunicar e divulgar seus trabalhos”, explica Inácio Pereira dos Santos Neto, coordenador do ArteCulturAção, núcleo da Fundação Tide Setubal. “Nesse ano, além de mostrar o discurso do rap, que toca na questão justiça social, procuramos revelar as iniciativas socioculturais de jovens da região pró-ativos em suas comunidades”, acrescenta.
Grafites, exposição e debates
Como nos encontros anteriores, a grafitagem nos muros do CDC abriu a programação do dia. Os quinze artistas convidados deixaram o entorno do clube mais colorido, realizando mais de 30 desenhos. “Aqui temos liberdade de expressar nossa arte”, ressaltou Robson Juarez Alves Lago, conhecido como B.O., que pela quarta vez participou da festa. Ele também integra o projeto Arte e Cultura na Kebrada, que acontece no Jardim Maia, em São Miguel Paulista, promovendo o contato da comunidade com técnicas do grafite, além de teatro, música, literatura e dança.
Essa proposta e as de outros quatro coletivos foram retratadas nos painéis da exposição “Ativismo em Foco”, que o público pode conferir durante o encontro. Estavam ali as histórias dos grupos juvenis e a maneira como interferem em seus bairros a partir de ações culturais. “É muito importante ter um espaço como esse, que dá visibilidade ao nosso trabalho”, afirma Laís da Lamah, do Coletivo Abayomi, voltado à produção de moda no Itaim Paulista.
À tarde, representantes dos coletivos, grafiteiros convidados e o público presente assistiram ao vídeo “Enquadro: 1° e 2° Episódios”, do Coletivo Casa da Lapa. No fim da sessão, houve uma roda de conversa, com integrantes do projeto Perifacine, de Vila Santa Inês, que exibe curtas-metragens em escolas, ONGs e locais públicos. As discussões giraram em torno do fomento à produção cultural de jovens da periferia. “Percebe-se que, independentemente do volume de recursos financeiros, eles têm realizado suas iniciativas”, enfatizou Inácio.
Diversidade em foco
À noite, o palco do CDC Tide Setubal deu espaço à música. O Coletivo Marginaliária abriu a festa, com uma apresentação que também teve toques de literatura e teatro. “Eventos como esse tiram os grupos de suas ilhas”, reflete Andrio Candido, do Marginaliária. “Aqui, surgem parcerias e outros focos de resistência”. Na sequência, CausaP — grupo de hip hop de São Miguel Paulista — fez sua performance, seguido de Sandrão RZO — de Pirituba, zona oeste de São Paulo.
Fechando a festa RAPadura agitou o público com seu “rapente”, mistura de rap com repente, coco, maracatu, forró, baião e cantigas de roda. Para o músico, o evento do CDC, traz uma visão do papel educativo do movimento do hip hop, fundamental por reunir a diversidade que existe na periferia. “Cada um tem de mostrar sua cara, sua identidade e, dessa forma, aprendemos a nos respeitar e entender melhor as diferenças. Temos de incorporar nossas características no hip hop, para fazermos nosso rap nacional”, concluiu.
A seguir, confira depoimentos de quem foi ao 6° Encontro de Cultura Hip Hop.
“Desde a primeira edição, esse evento no CDC tem ficado cada vez melhor. É uma ótima oportunidade para colocar a cultura da zona leste em evidência e trazer outros nomes do movimento hip hop da cidade para cá. Pena que é só uma vez por ano.”
Carlos Bispo Moreira, 29 anos, morador de São Miguel Paulista
“Soube pelo jornal e vim conferir os shows da noite, principalmente, o do RAPadura. Quando cheguei, aproveitei para dar uma volta em torno do CDC e ver os grafites. Ficaram bem bacanas.”
Kátia de Macedo Alkimin, 24 anos, moradora de Ermelino Matarazzo
“Gosto da cultura hip hop. E esse tipo de iniciativa na zona leste traz para cá o som de artistas como Sandrão RZO e Rapadura. Além disso, cria um ponto de encontro de toda a galera. Já revi aqui vários colegas.”
Júlio Cardoso do Nascimento, 26 anos, morador da Vila Curuçá.