Festival do Livro de São Miguel revela personagens apaixonados pela literatura
Os personagens desta matéria poderiam fazer parte, facilmente, de um livro de suspense, romance ou ficção. No entanto, eles foram descobertos em situações inusitadas pelos repórteres da equipe da Fundação Tide Setubal. Imaginem um menino que declama poesia e diz ser Pedro Bandeira? Uma mulher que se emociona ao conhecer, pela primeira vez em […]
Os personagens desta matéria poderiam fazer parte, facilmente, de um livro de suspense, romance ou ficção. No entanto, eles foram descobertos em situações inusitadas pelos repórteres da equipe da Fundação Tide Setubal.
Imaginem um menino que declama poesia e diz ser Pedro Bandeira? Uma mulher que se emociona ao conhecer, pela primeira vez em sua vida, autores vivos? Um flautista que afirma ser prova do impossível? Um pai que chora ao ver o filho vencer as dificuldades de alfabetização e aprendeu a ler.
O Festival do Livro e da Literatura de São Miguel conectou diversas histórias e nos colocou diante de diferentes personagens.
O primeiro deles é Wygor Gomes, 14 anos, da EE Prof. Saturnino Pereira. Não houve quem não se surpreendesse com a coragem deste adolescente. Ele era um dos estudantes, que estava sentando na plateia do auditório da Universidade Cruzeiro do Sul, e assistia a Roda de ConversaA batalha do Rap pelo Espaço Democrático, que participavam os escritores Alessandro Buzo, Ricardo Teperman e Tiaruju Pablo. No final do bate-papo, Buzo lançou o desafio: “vou dar um dos meus livros para a primeira pessoa que vier aqui no palco cantar um rap ou declamar uma poesia”. Depois de muitos risos na sala, Wygor topou o desafio. O menino declamou parte de um texto de Pedro Bandeira e emocionou os presentes. “Ganhei o livro e o autógrafo do Buzo”, comemorava. Quando questionado sobre a escolha de Pedro Bandeira, veio a resposta surpreendente. “Porque eu sou o Pedro Bandeira! Na escola temos a nossa ‘Academia Brasileira de Letras’ e o meu amigo literário é ele! Sei tudo sobre Pedro Bandeira.” E o jovem continua. “Conheço a vida, e todas as obras do autor, afinal sou o Pedro Bandeira”, comenta sorrindo diante da repórter atônita com a resposta.
Um autor vivo – À noite de 6 de novembro de Maria Aparecida de Jesus tinha tudo para dar errado. Aluna do EJA da EMEF Prof. José Bento de Assis, o sonho dela era conhecer um escritor vivo. Nascida no Piauí, mãe de três filhos pequenos, ela até aquela data, somente tinha lido os nomes de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Cecília Meirelles nas capas dos livros. “Eu sonhava em um dia conversar com um escritor vivo”. Depois de perder o ônibus que traria a escola para participar da Roda de Conversa Leitura em Rede, com os escritores e jornalistas Leonardo Sakamoto, Luis Ruffato e Piero Locatelli, em um dos auditórios da Universidade Cruzeiro do Sul, ela quase viu o sonho desmoronar. “Pensei rápido e mesmo sem saber direito como chegar, decidi arriscar! Agora estou, aqui, tendo este privilégio de ver e ouvir, pessoalmente, esses autores. Hoje, conquistei algo que sonhei a vida inteira. Comprei um caderno novo para anotar tudo que eles falavam, mas nem consegui! Fiquei muito emocionada”, disse Maria, com os olhos marejados.
Sorrisos e lágrimas, também, se misturam na história de Felipe Santos Matias Vieira, 7 anos, aluno da EE Reverendo José Borges. Juntos com os colegas, ele reescreveu a história dos Três Porquinhos, e a sua própria história. Há apenas 30 dias do Festival ele aprendeu a ler, como explicou a professora Roseli Pinto. “Trabalho com crianças que possuem dificuldades e aprendizagem. O Felipe veio transferido de uma escola particular, depois que uma professora desanimou o pai dele, dizendo que o menino nunca aprenderia. Fizemos um trabalho intenso, a família nos apoiou e para minha surpresa quando começamos a preparar nosso material para o Festival, a língua dele desenrolou”, brinca a professora. “Ele começou a ler tudo”, completou. Durante a entrevista Felipe nos contou que sempre teve dificuldades com as palavras, mas como ajudaria a escrever um livro se não sabia ler?“O livro faz a gente pensar muito, acho que foi por isso que aprendi a ler”, disse o menino. Mais feliz do que a professora, está o senhor Francisco Viana Vieira, pai de Felipe. “Eu estava triste em vê-lo se esforçar, sem conseguir, agora sou o pai mais orgulhoso do mundo com a evolução do meu garoto!”, disse emocionado.
Sonhar sempre–Encontramos o último personagem desta matéria na EE Professor Paulo Roberto Faggioni. William de Souza Pereira é aluno do último ano do Ensino Médio e já é ídolo de muitos jovens dentro da escola. Como descobrimos isso? Quando chegamos, ele estava prestes a começar uma apresentação de flauta e outros jovens na plateia estavam ansiosos para ouvi-lo. “Ele é um dos nossos grandes parceiros em nossas apresentações culturais”, disse a vice-diretora, Ivonete Santos de Oliveira. O adolescente que aprendeu a tocar flauta em um CEU da região, e estuda o instrumento há três anos, sonha em fazer faculdade de música e nos dá uma aula de perseverança. “Sonhos nunca são impossíveis, sou a prova disso! Não é porque nasci numa região violenta que vou seguir o caminho ruim. Acredito que a arte e a cultura tem o poder de fazerem as pessoas serem diferentes. Eu sou, e queria que todos fossem!”, conclui.