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Racismo e seus efeitos em debate

 
Na noite de 09 de novembro, o auditório D na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista, recebeu centenas de jovens e adultos para o debate Conversa com Autor(a) – O Corpo: da Literatura à Psique. A atividade, que integrou a programação do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, realizado pela Fundação Tide Setubal, discutiu o racismo no Brasil, suas manifestações na cultura e literatura e seus impactos para a população negra, que corresponde a mais da metade dos brasileiros. 
 
A psicóloga e psicanalista Maria Lúcia da Silva, que publicou recentemente o livro “O Racismo e o Negro no Brasil: Questões para a Psicanálise”, afirmou que práticas discriminatórias têm consequências não apenas na psique das pessoas negras, mas também em seus corpos. “Nosso corpo será atacado, sistematicamente, pelas experiências de humilhação, pelas piadas, da forma como eu sou olhada, da forma como, muitas vezes, eu sou vista como suspeita. Todos nós, negros e negras, vivemos situações de humilhação. Pode ser que algumas vezes a gente não possa admitir, porque isso provoca tanto sofrimento que às vezes a gente prefere negar, ‘não, eu nunca vivi situações de racismo´. Isso é um mecanismo que a gente utiliza para não entrar na dor que é ser desclassificado, excluído. Mas se a gente começa a conversar um pouco, as histórias vão chegando. São golpes coletivos. Quando alguém me ataca, ataca a todos os negros que eu represento”. 
 
O poeta e escritor Luiz da Silva, conhecido pelo pseudônimo de Cuti, defendeu no debate que um dos maiores obstáculos para o combate ao racismo é a dificuldade em assumi-lo. “Quando a gente tem uma doença, primeiro precisa admitir que essa doença existe. O Brasil está se caracterizando como um país racista em que não existe um único racista além do país”. 
 
A escritora Ana Maria Gonçalves colocou em debate a forma como a história é ensinada no país, sem espaço para o protagonismo negro, fruto do racismo, e com prejuízos a identidade negra e o combate ao racismo. “A história ensinada sobre escravidão é uma história contada por brancos, para brancos, filtrada por um sistema educacional que surgiu durante a ditadura e queria apagar todo o rastro da escravidão e do racismo no Brasil, tentando vender essa ideia de uma falsa democracia racial. Quando eu comecei a pesquisar para escrever meu livro “Um Defeito de Cor”, com a história de uma escrava na Bahia que conta um pouco da Rebelião Malês, eu vi que estava pesquisando e tentando entender ali a minha própria história, a minha condição de mulher negra em um país racista e machista. Tentei sanar a minha ignorância de um passado negado aos negros. Histórias negadas e muito importantes para eu entender quem eu sou hoje, como eu me coloco no mundo, de qual mundo eu faço parte, e de onde vem as pessoas com as quais eu me relaciono”, afirma a autora. 
 
Assista ao vídeo com o debate completo: 
 
 

 

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