Do poder público para a sociedade civil
Jovens atuantes em contextos diversos falam, por meio de suas vivências, sobre estratégia política com esse propósito.
Esta é a quarta de uma série de reportagens especiais sobre juventudes e democracia. Confira as demais reportagens na seção de notícias do nosso site.
Apesar da quantidade recorde de jovens que obtiveram o título de eleitor em 2022, pode-se antever um processo intenso para, mais do que engajar, motivar as juventudes a considerarem a política institucional como um caminho fundamental para a promoção de projetos em favor de grupos minorizados.
De acordo com a pesquisa Juventudes no Brasil 2021, feita pelo Observatório da Juventude na Ibero-América, os indicadores de confiança estavam baixos. Para se ter uma ideia, 82% das/os jovens entrevistadas/os tinham pouca ou nenhuma confiança em partidos políticos. Esse patamar sobre o Congresso Nacional, governo e presidência da República eram, respectivamente, de 80%, 69% e 63%.
Logo, a pergunta de milhões vem à tona: como engajar as juventudes na vida política então? Para a pedagoga Paloma Pereira, um caminho obrigatório passa por envolver atores historicamente excluídos da decisão dos rumos políticos.
“Ela pode dar uma enorme contribuição para reduzir a falta de representatividade de diversos agentes sociais, com a criação de espaços para argumentação e aprendizagem, institui processos capazes de mudar a percepção e o entendimento da realidade das partes envolvidas, para que vozes ativas ou cidadãos que não participam de grupos políticos, sociais ou econômicos específicos sejam tomadores de decisão influentes”, detalha.
Wesley Xavier, integrante do coletivo Cinequebrada Produções, demonstra ceticismo com a política legislativa e partidária. Desse modo, ele entende que se trata de um discurso sofisticado e nada prático. Ainda assim, ele considera que é necessário conhecer discussões em âmbito político. Ou seja, nas palavras dele, para “compreender que existe um sistema que não promove espaços de transformação legítimos.” Para além disso, o protagonismo para contar as próprias histórias tem peso importante.
“Vejo ao meu redor movimentos que promovem participação e transformação política, artistas, empreendedoras/es, produtoras/es de conteúdo, estilistas, entre outros que promovem conteúdo sobre as realidades que permeiam a periferia e sinalizam sobre nosso poder de transformação e comunidade. A democratização do acesso ao mundo digital tem permitido que muitas histórias sejam percebidas. Hoje, não é somente uma história que é contada: temos mais vozes e isso tem permitido o avanço em busca de cenários menos agressivos, destaca o jovem.”
+ Confira a terceira reportagem da série sobre juventudes e democracia
Para Caio Santos, fundador da Griô Podcasts, o engajamento via internet tem impacto significativo – e esse fato requer cuidado grande com o teor e a essência dos conteúdos disseminados no ambiente online. “É necessário buscar maneiras de melhorar a responsabilidade dos emissores de conteúdo digital no Brasil, pois ainda estamos tropeçando nisso. Porém, a politização brasileira é bem alta e as pessoas se importam inclusive com quem é presidente do Senado. Isso é um sinal de participação e politização. O que falta é melhorar esses métodos.”
Comunicar é preciso
Amanda Costa, diretora-executiva do Instituto Perifa Sustentável, traz a sua vivência na causa climática para apontar um aspecto importante para aproximar jovens do debate político: o uso de termos técnicos e em língua estrangeira para debater temas de interesse coletivo e mostrar, por exemplo, que a política climática pode ser uma política transversal e agir em áreas diversas.
“Precisamos voltar para a base e simplificar os termos, mostrar a importância de atuar junto com a política e incentivar a participação político-popular. Não precisa ser algo distante, complexo e desafiador, mas pode ser algo da nossa realidade. A minha expectativa é conseguir tirar a pauta climática da bolha e fazê-la alcançar cada vez mais pessoas por meio da política de transversalidade”, pontua.
+ Confira entrevista de Amanda Costa no Dia Nacional da Conscientização Sobre as Mudanças Climáticas
Luciana Petersen, coordenadora de comunicação do projeto Novas Narrativas Evangélicas, parte da sua vivência religiosa para falar sobre a importância do debate sobre política e religião por vias democráticas – a começar que o diálogo deve ser permanente em vez de ocorrer alguns meses a cada quatro anos.
“Deve-se ouvir os anseios e angústias da população evangélica e construir comunitariamente a formação política para esse grupo que também é marginalizado, preto, pobre e periférico. É necessário um esforço e trabalho de base contínuos entre os grupos cooptados pelo fundamentalismo para fortalecer a democracia brasileira. Não há disputa política possível no Brasil excluindo os evangélicos”, completa Luciana.
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Life Matters / Pexels