Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Festa no Jardim Lapenna e arraial no CDC reúnem milhares de pessoas
No mês de junho, São Miguel Paulista foi palco de várias atividades que valorizaram as tradições caipiras do país.
Arraial do CDC Tide Setubal em 2009 reuniu 5,6 mil pessoas de vários pontos da cidade. (Fotos: Verônica Manevy) |
Nem o frio, nem a chuva desanimaram milhares de pessoas que, nos dois últimos fins de semana de junho, festejaram as tradições caipiras no Galpão de Cultura e Cidadania, situado no Jd. Lapenna, e no CDC Tide Setubal, no Jd. São Vicente, no bairro de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.
As festas encerram um mês inteiro de atividades do III Encontro de Cultura Caipira, promovido pela Fundação Tide Setubal. Debate sobre a cultura popular e suas práticas educativas, produção de cordel e de bonecos, exposições, quadrilha, catira, maracatu, bloco afro, percussão, forró e o bom som da viola – apresentado em diferentes arranjos –, juntaram-se aos aromas e sabores da cozinha do interior em mais um ano de tributos à cultura popular brasileira. “Buscamos reunir e compartilhar os saberes dessa cultura com a comunidade em uma ciranda onde circularam a alegria e o entusiasmo do aprendizado, da memória e das histórias da cultura popular”, destaca Tião Soares, coordenador de cultura da Fundação Tide Setubal.
Ao todo, cerca de 7,6 mil pessoas passaram pelos festejos: 2 mil, entre os dias 19 e 21, no Galpão, e mais 5,6 mil, no CDC Tide Setubal, no fim de semana de 26 a 28 de junho. Antes, porém, outras dezenas já haviam desfrutado de cursos e prosas, com sotaques de diversas partes do país. É que, neste ano, a Fundação Tide Setubal convidou mestres de três Estados (Pernambuco, Minas Gerais e Paraná) para apresentar suas artes, ao lado de manifestações de grupos existentes em São Paulo e, especificamente, do bairro de São Miguel. “A programação proporcionou um encontro com diferentes manifestações que para alguns acontece como uma descoberta, para outros como um reencontro com sua própria história”, afirma Maria Alice Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal.
Casa de Farinha do Mestre Saúba. Obra foi exposta durante o Arraial do CDC Tide Setubal |
De Pernambuco ao Paraná
A programação começou com Mestre Valdeck de Garanhuns, artista pernambucano com 25 anos de carreira, que entre 1º e 5 de junho ensinou para alunos da comunidade a forma de expressão rimada do cordel e o processo artesanal da xilogravura. Do dia 16 ao 19, coube a Mestre Saúba, outro pernambucano, ensinar a arte de esculpir bonecos de madeira e lhes dar vida, nas expressões faciais e nas vestes. A produção dos participantes dos cursos e um pouco da arte de cada artista estiveram em exposição durante o arraial.
No dia 20, passaram pela Sala de Convivência do CDC: o mestre violeiro Nelson Jacó, de Minas Gerais, o mestre Leonildo da Rabeca, do Paraná, além do pesquisador de cultura popular Renato Pereira e do músico e etno-musicólogo Paulo Dias, presidente da Associação Cultural Cachuera!. A pauta da conversa foi A cultura popular e suas práticas educativas.
Renato Pereira, Mestre Leonildo da Rabeca, Paulo Dias, Mestre Nelson Jacó e Tião Soares, durante debate realizado no CDC. |
Unir essas duas pontas parecia muito difícil, até que a platéia ouviu os mestres, expressando sabedoria com extrema simplicidade, e os pesquisadores Renato e Paulo, que fizeram a ponte entre essas fontes de saber e a dinâmica escolar.
Paulo Dias resumiu em quatro frentes a viabilidade de colocar em sala de aula “o livro contido na cabeça dos mestres”: desfolclorizar a cultura popular; incluir a diversidade cultural no currículo escolar (ou seja, utilizar as tradições e saberes populares no ensino de história e literatura, por exemplo); formar mediadores que possam introduzir o entendimento dos mestres em material didático; e treinar professores para uso desse material.
Sons e sabores de vários cantos
Ritmos diversos também ajudaram a compor um mosaico cultural no arraial do CDC, que contou com expressiva participação de público jovem. Passaram por lá:
- Trio de Forró, liderado por Gil Sanfoneiro;
- Percussão Brasileira, composta por jovens do projeto ArteCulturAção;
- Bloco Afro Ilú Obá de Min;
- Orquestra Paulistana de Viola Caipira;
- Maracatu de Baque Virado Porto de Luanda;
- Sacha Arcanjo e Raberuan, artistas do histórico Movimento Popular de Arte;
- Paulo Freire Trio.
Houve espaço, ainda, para várias performances como:
- Grupo Folclórico da Casa de Portugal – com danças de diferentes regiões portuguesas;
- Os Favoritos da Catira – sapateado derivado do antigo fandango português;
- Congada Marujada Nossa Senhora do Rosário e Congada de São Benedito – cortejos que homenageiam santos;
- Cordão de Bichos – desfile de animais produzidos por um grupo de Tatuí, no interior paulista, com madeira, papelão, estopa e arame;
- Casamento Caipira – encenado por jovens do Núcleo de Formação Sócio Cultural do projeto ArteCulturAção;
- Quadrilha Junina – apresentada por crianças das oficinas do programa Clube Escola, do CDC Tide Setubal.
Grupo Folclórico da Casa de Portugal. |
Como de costume, as comidas do arraial do CDC seguiram receitas típicas da cozinha do interior. Baião de dois, canjiquinha e escondidinho foram alguns dos pratos oferecidos na cantina. Nas barracas, não faltou quentão, vinho quente e as delícias de milho. Doces e bolos, em especial, ficaram a cargo de participantes do projeto Ação Família São Miguel. Neste ano, peças de tecido e madeira criadas por artesãs locais foram colocadas à venda numa barraca própria. Ao lado, crianças e adultos disputaram prendas na pescaria, no chute ao gol e no tiro ao alvo de latas improvisadas.
A casa caipira feita de taipa, localizada na entrada do CDC, emocionou alguns presentes que reviveram ali suas origens. A fogueira ficou acesa todo o tempo no campinho e serviu para aquecer tambores (para afinação) e mãos.
Clique aqui para ver mais fotos!