Filme ‘Onde a Terra Ferve’ é um chamado à ação hoje para salvar o futuro
Com produção do Núcleo AOTA, 'Onde a Terra Ferve' mostra como presente, futuro e ancestralidade se encontram e se relacionam.
Qual é a relação entre preservação ambiental, direito à dignidade, ancestralidade e preservação da memória? E como isso tudo dialoga com a lógica segundo a qual precisamos melhorar a nossa relação com o meio ambiente para podermos valorizar e celebrar a vida, assim como podermos ter direito de honrar o legado das pessoas queridas que nos deixaram?
Esses questionamentos vêm à tona, seja em ondas ou de modo veemente, no curta-metragem documental Onde a Terra Ferve. Com produção do Núcleo AOTA (SP), a trama divide-se em duas partes que, mesmo aparentando não ter conexão temática de modo evidente no primeiro momento, mostram que ambas as perspectivas propostas podem coexistir e se complementar.
Na parte ficcional de Onde a Terra Ferve, a ex-coveira Ururaí embarca em uma jornada para preservar a memória e a resistência de sua comunidade. Em um ritual de passagem, em meio a uma realidade distópica, a protagonista percorre então, na companhia de uma guia-mirim, bairros periféricos marcados pela precariedade em diversos níveis – inclusive subjetivos.
Em paralelo, a parte documental apresenta a articulação de agentes da região do Jardim Lapena e do União de Vila Nova, bairros da zona leste de São Paulo, para transformar a realidade vigente. De modo intercalado com a parte ficcional, esse trecho mostra, então, reflexões e diálogos de integrantes de organizações e iniciativas atuantes no território. A saber, algumas são as Guardiãs do Território, Mulheres do Gau, Banda Chá da Tarde e Pedale-se.
Ontem e hoje
Dentro da lógica de atuar hoje para salvar o amanhã, Onde a Terra Ferve mostra também, por meio da relação e do contraste entre o presente caótico e um futuro distópico, a luta pelo direito à dignidade e à ancestralidade.
Desse modo, tal perspectiva não é um mero acaso. Pelo contrário: ela tem, então, papel central para o desenvolvimento da obra. Nesse sentido, Regiane Souza, integrante do Núcleo AOTA, destacou que a forma encontrada para contar a história do filme foi por meio da reverência à ancestralidade.
“A AOTA é a mistura de muitas coisas. Poucos de nós somos nascidos no audiovisual e a maioria é educadora de várias áreas – psicologia, historiador, dentista e múltiplas profissões. Mas temos também cineastas no processo. E é essa mistura que faz o coletivo e as nossas histórias”, destaca Regiane, sobre como a trajetória de cada integrante da coletiva influenciou na construção de Onde a Terra Ferve – inclusive na chave ancestral.
Por fim, esta premissa fundamenta o ponto principal que norteou a produção do curta-metragem. “Geralmente estamos na pesquisa e na escrita, na busca por podermos contar as nossas histórias”, finaliza a integrante do Núcleo AOTA.
Sobre a temporada
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Ao ter como mote Iniciativas para adiar o fim do mundo, a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, projeto da Fundação Tide Setubal, evidencia o protagonismo jovens de regiões diversas do Brasil, que se mobilizam para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. É sobre o hoje. É sobre o ontem. É sobre o amanhã.
Esta temporada conta, então, com curtas-metragens produzidos pelos seguintes coletivos:
- Nossos Sonhos pela Janela – Bora Fazer Filmes (MT);
- Da Terra ao Clima – Gueto Hub (PA);
- No Tempo do Sonho – Coquevídeo (PE);
- De Bará a Oxalá – Cine Kafuné (RS);
- Onde a Terra Ferve – Núcleo AOTA (SP).
Desse modo, assista a seguir ao filme e documentário Onde a Terra Ferve.
Texto: Amauri Eugênio Jr.