Hackathon Inova ZL premia projetos e fomenta a cultura da inovação no Jardim Lapena
Por Bianca Pyl / Colaboração: Amauri Eugênio Jr. / Fotos: Paulo Pereira Uma maratona de 48 horas de mentorias para elaborar projetos e soluções para o bairro Jardim Lapena. Esse foi o desafio que 135 pessoas toparam encarar em 30 de novembro e 1º de dezembro no Galpão ZL, espaço de prática […]
Por Bianca Pyl / Colaboração: Amauri Eugênio Jr. / Fotos: Paulo Pereira
Uma maratona de 48 horas de mentorias para elaborar projetos e soluções para o bairro Jardim Lapena. Esse foi o desafio que 135 pessoas toparam encarar em 30 de novembro e 1º de dezembro no Galpão ZL, espaço de prática local da Fundação Tide Setubal localizado no Jardim Lapena. A diversidade de pessoas que participaram do evento estava na idade – de 14 a 61 anos – no modo de vestir, na cor da pele, na área de formação e até na língua – um grupo de haitianos que vivem no bairro Jardim Lapena também participou, mesmo não falando português fluente.
Durante o período em que estiveram imersos na atividade, as pessoas trabalharam em grupos e produziram 15 projetos que buscam soluções para o Jardim Lapena, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. Dos 15 trabalhos, três receberam R$ 10 mil cada e serão incubados no Galpão ZL com ajuda de mentores para que sejam executados. Os projetos escolhidos são: ConstruLab, Eu que Fiz e Circuito de Memória.
Ter toda a diversidade, que era visível no evento, é um dos objetivos da metodologia elaborada por Evelyn Gomes e Antonieta Alves, do LabHacker: unir pessoas que entendem de tecnologia com quem nunca havia ouvido falar em Hackathon, mas conhece os problemas do bairro.
Evelyn Gomes fala sobre o hackathon durante a abertura da maratona (Paulo Pereira)
A mescla de perfis para lá de variados formou a essência do grupo Ansanm Nou Fò, composto por cinco refugiados vindo do Haiti aos quais se juntaram dois jovens que manjavam muito de tecnologia e uma jovem de 15 anos que fez parte da elaboração do plano de bairro do Jardim Lapena. Essa mistura deu “match” e o grupo elaborou um projeto que busca integrar os haitianos à comunidade no Jardim Lapena ensinando francês e um pouco da cultura haitiana para as e os brasileiros. “Por muitas vezes eles não têm como se comunicar. Eles chegam aqui e não conseguem ir ao posto de saúde porque ninguém consegue entender o que falam. Às vezes, a diretora da escola não consegue falar com os pais haitianos das crianças”, explica Sheyla da Silva Maximiano, 15, que é vice-diretora do Núcleo de Juventude do Plano de Bairro.
Laine Wadson, 25, reforça dificuldade de comunicação que os imigrantes refugiados têm. “Queremos desenvolver um projeto para a gente poder ensinar francês e crioulo, e também ajudar os haitianos a falar português.” Ele está no Brasil há um ano e três meses, sempre morando no Jardim Lapena, e é frequentador do Galpão ZL. Apesar de não ter vencido, o grupo saiu com um projeto possível de ser implementado.
Inovação periférica
Para ajudar a pensar as soluções, antes é necessário haver um diagnóstico preciso dos problemas. Por isso, as e os participantes conheceram o plano de bairro do Jardim Lapena, o primeiro na cidade de São Paulo feito pelas e pelos próprios moradores, com apoio da Fundação Tide Setubal. A partir dos dados sociais e dos problemas concretos enfrentados pelo bairro, as pessoas trabalharam suas ideias, sendo que algumas tiveram que ser alteradas ao longo do processo.
A Fundação Tide Setubal tem desenvolvido diversos trabalhos que buscam colocar a potência criativa das periferias no centro da sua pauta de atuação, e o Galpão ZL tem focado suas ações em fomentar o empreendedorismo. “Este hackathon marca um novo ciclo para o Galpão como um espaço de empreendedorismo e inovação, com pessoas pensando soluções não somente para o Jardim Lapena, mas para a cidade toda”, pontua Maria Alice Setubal, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal, durante a abertura do Hackathon.
Maria Alice Setubal fala sobre o trabalho desenvolvido no Galpão ZL voltado ao empreendedorismo e à inovação (Paulo Pereira)
Algumas pessoas já chegam com ideias de projetos, mas ao longo das 48 horas as ideias são melhor planejadas e os trabalhos são redirecionados e modificados – tudo de acordo com o grupo e com o apoio do time de mentoras e mentores, que têm formações diversas. “Os grupos vão se criando organicamente, e as e os mentores estão preparados para ajudar. A ideia é sair da zona de conforto e aliar quem manja de tecnologia com quem não tem ideia. Mas todo mundo pode colaborar”, explica Evelyn Gomes, diretora do LabHacker.
Durante as 48 horas da atividade, os grupos também ouvem palestras que ajudam a inspirar a elaboração dos projetos. Este foi o caso do DJ Bola, criador da produtora cultural social A Banca, que começou atuando no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e hoje trabalha em periferias da cidade toda. “Comecei fazendo festa na rua com meus amigos que também gostavam de hip-hop em um momento de explosão da violência nos anos 1990, principalmente entre jovens”, relatou Bola. O grupo passou a fazer eventos e oferecer oficinas para a comunidade, e Bola teve apoio de ONGs para pensar em como tirar a ideia da cabeça e colocá-la no papel e onde poderia buscar financiamento. “Com o tempo, A Banca virou uma OSCIP. A burocracia assusta a gente que tá na quebrada, mas é muito importante dominá-la, saber como falar a linguagem do burocrata e escrever projetos, profissionalizar-se e conhecer o mercado”, conta o DJ.
Participantes em ação durante o hackathon (Paulo Pereira)
Sanderli Brito, 53, integrou-se a um grupo de jovens que quer trabalhar com empoderamento feminino e combate à violência de gênero por meio da arte, mas ao longo do processo ela foi para outro grupo. E os jovens acabaram desenvolvendo o Map Elas, iniciativa que visa mapear mulheres empreendedoras do bairro para dar visibilidade ao trabalho delas. “Nasci, fui criada e trabalho na periferia. Esse território tem muita criatividade, mas tem muita dificuldade para gerar dinheiro. Muitos jovens não conseguem trabalhar com o que gostam e sempre sobra para eles atuar na base da pirâmide. A gente precisa chegar no ponto de saber como gerar dinheiro fazendo o que se gosta”, relata. Ela ainda provocou o grupo a pensar formas de dominar a burocracia durante a maratona.