Moradores se reúnem para pensar o Plano de Bairro Participativo do Jardim Lapenna
Nos dias 22, 24 e 25 de junho, aconteceram discussões sobre os serviços públicos do bairro, as características da população, o processo de ocupação do território e as potencialidades culturais do Lapenna
Por Laís Diogo e Mariana Caires – Periferia em Movimento
Com três ou mais pessoas, é possível formar um círculo. Quanto mais gente se envolver, mais desafiador é torná-lo perfeitamente redondo. Isso só acontece com o esforço de todos, que precisam se olhar, se escutar e construir algo em conjunto. Assim acontece com qualquer trabalho desenvolvido em grupo, como moradores do Jardim Lapenna experimentaram no último mês. Afinal, a união é fundamental em todas as etapas da criação do Plano de Bairro Participativo.
Nos dias 22, 24 e 25 de junho, aconteceram no Jardim Lapenna três oficinas com a comunidade, cada uma em um local do bairro, com a intenção de chamar para o processo a maior diversidade possível de moradores. Quem foi ao Bar da Fernanda, ao Galpão da Tide Setubal ou ao Largo do Jardim Nair, participou dessa nova etapa de diagnóstico do Plano de Bairro Participativo, que teve como objetivo discutir os maiores desafios da região e coletar propostas para o instrumento.
A inspiração para iniciar as atividades veio dos índios Caiapós. Moradores do Lapenna, profissionais da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Tide Setubal começaram os encontros reunidos em um círculo, cantando em alto e bom som uma música Caiapó. Sincronizadas, as mãos faziam palmas, os pés pisavam fortes sobre chão e o canto alcançava as ruas do bairro. Era o sinal de que com a força da união, serão capazes de desenhar ali um novo território de direitos.
“Nas mesas em que participei, pude sentir a esperança entre os moradores”, conta Anselmo Sefarim, que mora na Vila Nair desde que nasceu, há 51 anos. O bairro é vizinho ao Jardim Lapenna e ambos compartilham muitas necessidades. “Precisamos entender que todos nós que estamos morando abaixo da linha férrea somos um coletivo, sofremos dos mesmos problemas sociais, com a falta de políticas públicas”, conta Anselmo.
As oficinas participativas fazem parte de uma etapa de leitura participativa do território. Nessa fase, as pessoas foram convidadas a falar sobre os problemas, as prioridades, as soluções e o que já existe de positivo no bairro. Analisando os resultados, é possível notar que, nos três dias de acupuntura, a mesma dinâmica em diferentes espaços com diversos moradores da região possibilitou diferentes percepções.
Desafios e potencialidades
Após a dinâmica inicial da dança dos Caiapós, moradores se dividiram em quatro mesas dispostas pelos espaços, em que quatro diferentes temas embasavam a discussão puxada por pesquisadores da FGV. Os temas eram: população do bairro; equipamentos e serviços públicos; evolução da ocupação física do bairro e reconhecimento das potencialidades locais. A ideia era que durante dois ciclos, a maioria participasse de duas mesas diferentes e alguns se mantivessem no mesmo lugar para repassar as informações.
No primeiro dia de atividade, o Galpão do Jardim Lapenna contou com a presença do prefeito regional Edson Marques e de diversos moradores. Uma delas era Ana Cristina Zanão, que vive no Lapenna desde que nasceu, há 52 anos. “Eu estou gostando do movimento, peço sempre Para as pessoas participarem também, porque acho que a vila realmente está precisando”. Ana gostou de ver a participação do Prefeito Regional e acredita que com o esforço conjunto, será possível conseguir avanços mais simples de serem feitos. “Tenho esperança de que coisas menos complicadas, como a calçada, o passeio, iluminação pras praças, nós vamos conseguir, e temos que lutar pra isso. Arrumar as coisas mais fáceis já faz a diferença pra deixar o bairro melhor”, diz.
População jovem em foco
O Jardim Lapenna tem um dado populacional muito característico: mais da metade dos moradores são jovens e crianças. Na primeira mesa, frente aos fatos que se encontram no diagnóstico feito pela FGV, moradores se questionavam sobre o que o bairro tem a oferecer para essas 3 mil crianças. Nas oficina, foi questionado se as crianças tinham onde brincar, e como solucionar essa questão. Para resolver a questão, foi incentivado que as pessoas não apenas pensassem que o poder público tinha que resolver isso, mas também que levantassem propostas a curto prazo sobre o melhor aproveitamento de locais que já existem.
Além do grande número de crianças, a mesa também discutiu o alarmante número de jovens fora da escola. “Nos falaram que grande parte dos adolescentes não estão na escola, e é verdade, precisamos fazer algo pra mudar isso”, conta Ana Cristina.
Em outra mesa, as discussões eram sobre o aumento recente da população do bairro. De 2013 para cá, a população do Lapenna duplicou, com ocupações na área do leito do Rio Tietê, que ali toma forma de córrego. Na atividade de domingo, feita no Jardim Nair, moradores da área contaram que suas principais necessidades são relacionadas à infraestrutura urbana (água, luz e esgoto) e ao asfaltamento dessa parte do bairro. Para Anselmo, entre os moradores mais antigos e que contam com mais infraestrutura “existia um certo medo com o crescimento rápido do bairro, mas muitas pessoas mais novas estão trabalho para essa conscientização de que estamos todos juntos nesse Plano de Bairro”.
Em relação aos equipamentos e serviços públicos do Jardim Lapenna, outra mesa convidava moradores a discutirem sobre o lado positivo de poder contar com duas creches, uma escola e uma UBS, entre outros serviços. Ali, também se questionava o uso que estão dando aos espaços, as condições de acesso a esses locais e a corresponsabilização dos moradores. Foram apontados problemas como o estacionamento indevido na porta da escola ou da UBS, e o despejo de entulho em locais inadequados.
Também pensando em valorizar pontos positivos, a mesa relacionada ao reconhecimento das potencialidades do bairro convidava moradores a registrarem todos os projetos culturais, cantores e artistas que existem no território. “Quando você coloca essas informações no mapa, o bairro enche de coisas bonitas. Por exemplo, tem roda de samba, cantores, tem uma senhora que doa mudas de plantas, tem pessoas que cuidam de cachorros, tem artistas no bairro, tem vários elementos que fazem a diferença no bairro, no diagnóstico e na produção”, conta Claudia Acosta, pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público da FGV.
No encontro realizado na quinta-feira no Galpão, integrantes do Colegiado e de instituições sociais do bairro estiveram presentes e comentaram sobre a importância de retomar a mobilização e organização que acontecia há anos no bairro. “Há cinco anos a gente se reúne, mas agora estamos conseguindo levar os assuntos mais pra frente, justamente porque agora a união é maior”, comenta Rosarinha de Oliveira, membro do Conselho gestor da UBS e do Colegiado de Moradores do Jardim Lapenna. Essa união entre moradores é fundamental para que o plano seja de fato participativo e tenha frutos. Nas próximas semanas, os resultados das oficinais serão sistematizados e discutidos com os moradores, para que possam, juntos, dar mais um passo no Plano de Bairro Participativo do Jardim Lapenna.