Plataforma Alas em Debate promove chamado à responsabilidade na luta pela equidade racial
A luta pela equidade racial teve espaço central na mesa 'Papel das Instituições e lideranças brancas na luta pela equidade', do evento Plataforma Alas em Debate, .
A luta pela equidade racial precisa ter espaço central em todas as esferas da sociedade. Esse aspecto teve espaço central na primeira mesa do evento Plataforma Alas em Debate, organizado pela Fundação Tide Setubal, por meio da Plataforma Alas: Papel das Instituições e lideranças brancas na luta pela equidade.
Com mediação da jornalista Adriana Couto, a atividade, que aconteceu em 21 de agosto, no Itaú Cultural, contou com participações de três pessoas participantes da websérie Caminhos pela Equidade Racial, cujo lançamento ocorreu também no mesmo dia:
- Fabio Alperowitch, fundador e CIO da fama re.capital;
- Inês Lafer, presidente do Conselho no Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife);
- Nicole Carnizelo, diretora executiva da Associação Santa Plural.
Um dos tópicos do diálogo sobre o chamado à ação para lideranças brancas ingressarem na luta pela equidade racial passou pelo papel do campo do investimento social privado (ISP) nesse contexto. Assim sendo, Inês Lafer destacou, durante sua fala, os desafios encontrados para dialogar e sensibilizar empresas sobre como integrar, simultaneamente, obter lucro e aplicar uma parte dele no bem público – inclusive quando se fala na luta antirracista. “As lideranças brancas têm que olhar um pouco para o seu lugar de privilégio. Além disso, precisam se perguntar sobre o que pode fazer do lugar de branco. É isso o que estamos buscando” destaca
Assim sendo, a presidente do Conselho no Gife explicou que se trata de um desafio pensar onde estão os mecanismos, dentro de organizações do ISP, para a produção de menos desigualdade e permitir a correção de desigualdades históricas e estruturais. “Vejo que a mudança ocorrerá quando conseguirmos integrar os propósitos. Mas, sem ser derrotista, pode-se fazer muitas coisas no meio do caminho e durante o processo. Uma das coisas que a filantropia pode fazer – e impactar – é influenciar as agendas de fundações, institutos e mantenedores dessas organizações.”
Diálogo e responsabilização
“Sou uma liderança, pois não há mais ninguém fazendo. Não gostaria de ser uma liderança: queria ser uma pessoa comum.” Foi assim como Fabio Alperowitch falou da sensibilização mínima entre profissionais responsáveis por investimentos financeiros quando se fala na luta pela equidade racial.
Nesse sentido, o fundador e CIO da fama re.capital relatou que precisou fomentar diálogos sobre o enfrentamento das desigualdades entre seus pares. “Entendi que, desde 2018, as ações feitas por mim da porta para dentro, na minha empresa, eu precisava fazer também da porta para fora. Isso foi para trazer um debate a um mercado que se recusa a enxergar e debater determinados temas.”
Desse modo, Alperowitch descreveu ter considerado, no primeiro momento, que atores dos mercados corporativo e financeiro não lidavam com temas como a luta pela equidade racial por desconhecimento. No entanto, a perspectiva até então romantizada caiu por terra quando percebeu que, mesmo com a profusão de debates e materiais referentes à adoção de práticas satisfatórias de governança e socioambientais por meio da sigla conceitual Ambiental, Social e Governança (ASG), debates com esse teor foram deliberadamente escanteados.
“O mercado até se conectou a esse tema durante dois anos. Mas isso foi em uma perspectiva oportunística, em uma leitura de que o mundo caminhava naquele sentido. Quando o fluxo financeiro não veio, mais uma vez, entendeu-se que era algo meio maquiavélico”, pondera.
Ainda com a perda de prioridade e a consequente dificuldade para travar diálogos sobre o combate às desigualdades, o fundador e CIO da fama re.capital considera que é necessário insistir – com mais veemência – em promovê-los. “Não conseguiremos fazer nada sozinhos. Por isso a minha perspectiva é mais pessimista – e é necessário fazermos, por muitas vezes, mais conexões e gritarmos mais alto.”
Educação antirracista (evolução idem)
Durante sua participação no evento Plataforma Alas em Debate, Nicole Carnizelo destacou o fato de que quando mais estuda sobre a luta antirracista, mais percebe que precisa aprender como consequência da profundidade do tema.
Essa lógica, que tem relação intrínseca com o conceito de letramento racial, evidencia os obstáculos existentes na esfera educacional. “Os desafios são diuturnos. Não basta a escola soltar um comunicado para comunicar que agora tem um projeto político-pedagógico antirracista”, reforça.
Assim sendo, a diretora executiva da Associação Santa Plural destaca que uma medida para intensificar a luta pela equidade racial no ambiente escolar passa, obrigatoriamente, por trazer profissionais negras e negros para postos de referência – em sala de aula e na coordenação, por exemplo.
Logo, a perspectiva educacional, ao considerar-se a importância da Lei 10.639/03 nesse contexto. Isso permite, então, a desenvolver abordagem pedagógica menos eurocêntrica. “Essas são maneiras de se trazer representatividade e reconhecer a potência do que veio e nos antecede na luta por equidade de direitos”, explica Carnizelo.
Por fim, ela destaca como tais medidas podem funcionar como exemplos, ao pensar-se na luta pela equidade racial, “para que as pessoas sigam essa linha. E possam assumir, cada uma ao alcance da sua possibilidade, o seu papel nessa causa.”
Saiba mais
Confira como foi a segunda parte do evento Plataforma Alas em Debate.
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: José Cícero / DiCampana Foto Coletivo