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Como os jovens que votarão pela primeira vez pensam as eleições

Por Daniel Cerqueira e Iran Santos Silva / Foto: Pexels / cottonbro

 

 

Neste ano de eleições, as juventudes vêm ganhando destaque no processo desde que foram convocadas por diversos setores da sociedade a participar mais ativamente do processo político. Mas votar é mais do que ir à urna e apertar os números das/os candidatas/os escolhidas/os: a expectativa é de que as escolhas sejam conscientes. Por isso, a Fundação Tide Setubal, dentro do seu propósito de promover o fortalecimento da democracia e da cidadania ativa, resolveu escutar os anseios das juventudes periféricas para este outubro.

 

A pesquisa Juventudes e o 1° Voto, realizada entre junho e julho de 2022 pela Fundação em parceria com a cientista política Camila Rocha e a socióloga Esther Solano, revela anseios e motivações de jovens brasileiros de 16 a 18 anos que votarão pela primeira vez em outubro. Foram entrevistados 45 novas/os eleitoras/es nas cinco regiões do Brasil, com perfis que abrangem diferentes intenções de voto – nem-nem, ou seja, que rejeitam o atual presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente e também candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), indecisos, eleitores de Bolsonaro (PL) e adeptos de Lula.

 

Entre os pontos levantados, chama atenção o fato de os jovens confiarem na tecnologia mais do que nas instituições, como Bruno (nome fictício), morador do Rio de Janeiro, declarou sobre a urna eletrônica: “[O voto] até pode ser manipulado, mas acho mais difícil manipular uma coisa tecnológica do que manual. O manual é bem mais fácil de fraudar”.

 

As juventudes veem a internet como um ambiente seguro para discutir, aprender e se posicionar. Camila Rocha destaca o baixo conhecimento sobre o processo eleitoral, apesar da internet: “Os jovens tinham um conhecimento baixo das instituições responsáveis pela condução do processo eleitoral, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou mesmo sobre como funciona a eleição. Mas a confiança na tecnologia é alta. O que todos falavam é que não confiavam nas pessoas, mas, independentemente disso, dizem que não se sentirão desencorajados a votar e que confiam que vai funcionar.”

 

Além da confiança nas eleições, outros temas levantados na pesquisa trouxeram os posicionamentos dos jovens sobre possibilidades de golpe e manifestações, sobre os canais de informação, artistas e influenciadores que declaram voto e posicionamento político.

 

Sobre o primeiro tópico, a respeito de ruptura institucional, as/os jovens não acreditam que o Brasil passará por uma situação de golpe ou instabilidade institucional acentuada. Ao mesmo tempo, há receio do confronto com o diferente, especialmente nas ruas. Luana (nome fictício), de Porto Alegre diz que “é perigoso [se manifestar na rua], prefiro ficar de fora. O que muda mesmo é o voto.”

 

Outro ponto importante reforça a sensação generalizada de que as juventudes usam novos canais de informação. Se antes a televisão era preponderante, hoje gostam de ouvir podcasts famosos, como Flow e Podpah, e conteúdos de esporte, jogos, games e de humor no YouTube e no TikTok.

 

Por fim, a maioria dos jovens não se declara nem de direita, nem de esquerda. É comum entre elas/es a associação entre esquerda com o povo e causas sociais e direita com capitalismo, militarismo e economia. Lucas não se considera nem de direita e nem de esquerda, mas afirma que “provavelmente, em um debate de esquerda ou centro-esquerda, eu acho que causas sociais são importantes. Mas a gente não pode esquecer da parte econômica, porque influencia em segurança e educação. A junção dos dois lados é mais produtiva do que separar.”

 

 

Confira os dados e descobertas da pesquisa Juventudes e o 1° Voto

Leia a entrevista de Esther Solano no site da Fundação Tide Setubal

 

 

 

As juventudes e a política

 

Esta não foi a primeira vez que a Fundação quis saber como as juventudes periféricas pensam a política. As juventudes, antes estigmatizadas e vistas como distantes, têm protagonizado um movimento de mudança, lutando pela democracia e se engajando nas formações políticas.

 

Outra pesquisa realizada pela Fundação Tide Setubal, em parceria com a rede de mobilização social Avaaz e o instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), mostrou que a juventude confia pouco nas instituições democráticas. Diversos fatores podem influenciar nessa baixo nível de credibilidade, como a falta de identificação com as pautas quando não são pensadas por e para as juventudes, a linguagem  distante, a falta de interesse dos governantes e instituições pelas temáticas que fazem parte do cotidiano das juventudes.

 

Participar de debates políticos ou falar sobre eleições têm se tornado iniciativas cada vez mais vistas como polarizadas e com teor agressivo. Isso tem afastado as juventudes das discussões em alguns espaços presenciais e levando-as para o ambiente virtual, pois as pessoas desses grupos prezam por sua segurança.

 

O estudo Jovens no poder: redesenhando o rumo da política agora!, realizado pelo Instituto Update, fala sobre as potencialidades, cenários, engajamento e o papel das juventudes na política, nas eleições e as contribuições desse mesmo grupo para se pensar em um projeto de sociedade que não o exclua mais. A participação nas redes e nas ruas, além das urgências do presente somadas ao empoderamento político e popular das juventudes por meio de coletivos, movimentos suprapartidários, movimentos sociais e estudantis, desperta uma nova visão sociopolítica.

 

A sua articulação nos mais diferentes espaços tem evidenciado o anseio por mudanças e a vontade de participar dos processos que fazem as engrenagens da sociedade se movimentarem. É importante frisar que tem crescido a parceria com movimentos, organizações ou instituições preocupadas com as pautas que estão sendo levantadas e defendidas pelas juventudes, como o #BlackLivesMatter, movimento internacional que mobilizou as pessoas tanto nas redes sociais, quanto nas ruas em defesa da vida da população preta, movimentos em defesa do clima, da juventude e preocupados com a justiça social.

 

Por isso, é importante que as juventudes se sintam e se vejam representadas nos espaços de poder e que tenham desejo e vontade de adentrar nesses espaços e protagonizar os debates, o desenvolvimento e as pautas que as representam. Afinal, a política do hoje formará e representará as/os cidadãs/ãos do amanhã.

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