Fundação Tide Setubal
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Quais ações o campo do ISP pode adotar para apoiar ainda mais organizações periféricas?

Por Amauri Eugênio Jr.  / Foto: Divulgação

 

 

Em virtude da crise social e econômica intensificada pela pandemia de Covid-19, organizações da sociedade civil atuantes nas periferias Brasil adentro tiveram de aumentar esforços para amparar as populações desses mesmos territórios.

 

Apesar de haver movimentos e iniciativas para desburocratizar o repasse de verba a organizações atuantes nos respectivos territórios, elas ainda têm de lidar com entraves para acessar esses recursos – o que resulta em dificuldades na atuação delas no enfrentamento a problemas diversos nas áreas onde estão inseridas. Esse cenário foi um dos temas de debates dentro do 14° Festival ABCR, cujo mote em 2022 foi Diálogos para a Retomada.

 

Nesta edição, a Fundação Tide Setubal esteve presente e promoveu as participações de 15 organizações de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Sul, que puderam, mais do que trocar experiências sobre o modo como atuam, falar sobre desafios e possibilidades quando se fala em captação e descentralização de recursos a serem destinados no enfrentamento das desigualdades.

 

De acordo com Guiné Silva, coordenador de Fomento a Agentes e Causas da Fundação Tide Setubal, a linguagem e os códigos utilizados em chamadas de projetos e editais podem dificultar a conexão entre o apoio a ser oferecido e iniciativas com potencial de acesso ao recurso. Ao falar sobre os pontos que vieram à tona durante o Festival ABCR, Guiné comentou como a atividade foi uma oportunidade de desenvolvimento para as organizações que compuseram a comitiva que participou do evento.

 

“O Festival ABCR contribui para as organizações apoiadas pela Fundação Tide Setubal conhecerem o que tem sido feito na captação e mobilização de recursos, como estratégias e boas práticas, narrativas, ferramentas e tudo de mais inovador dentro do tema. Com a presença de instituições e pessoas que são referências no tema, uma das maiores contribuições para as organizações foi o acesso à rede de contatos”, explica.

 

 

Sobre novas perspectivas e narrativas

 

Ainda que o campo filantrópico seja bem extenso, envolvendo institutos e organizações que atuam de maneiras díspares entre si, pode-se ver um movimento para flexibilizar os processos para repasses de recursos a organizações atuantes na ponta.

 

Para Aline Odara, diretora executiva do Fundo Agbara, primeiro fundo de mulheres negras para justiça social no Brasil, que também fez parte da comitiva participante do Festival ABCR, esse movimento joga luz, inclusive, na questão racial – uma vez que mais da metade da população brasileira é negra.

 

“Há muitas organizações que estão encabeçando o movimento de desburocratização, o que na verdade é um compromisso com a democratização do campo em geral, pois vivemos em um país onde mais de 50% da população é negra e os investimentos sociais na ponta são direcionados para a população periférica em geral – cuja maioria é negra. Mas nós não estamos nos espaços de poder para decidir onde os recursos serão alocados da melhor forma.”

 

 

Mais do que receber, ter poder para decidir como atuar

 

A expertise para além de aspectos meramente burocráticos é um fator que deve, sim, influenciar na capacidade para acessar recursos e promover transformações em territórios periféricos. Este é o caso do LabJaca, organização de pesquisa, formação e produção de dados e narrativas sobre as favelas e  periferias localizada no Jacarezinho (RJ).

 

De acordo com Thiago Nascimento, cofundador do LabJaca, a experiência obtida desde o surgimento, em meio à pandemia de Covid-19, a partir de ações como a campanha Jaca Contra o Corona, por meio da qual pôde auxiliar 3 mil famílias do território em situação de vulnerabilidade social, possibilitou mostrar que a organização era capaz de receber apoios do campo do Investimento Social Privado (ISP).

 

“Percebemos que o movimento de doação durante a pandemia foi bem forte e conseguimos captar bastante com doadores individuais para fazermos as ações que estávamos fazendo ali – mas ele enfraqueceu muito no pós-pandemia e era necessário pensar em novas estratégias para conseguirmos captar. Na formação do LabJaca, montamos o planejamento a partir disso, para sermos uma instituição minimamente estruturada para recebermos esses aportes”, conta.

 

O cenário explicado por Thiago dialoga com um aspecto observado durante 2020. Para se ter uma ideia, o Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) havia computado valores superiores a R$ 7 bilhões referentes a doações como consequência da pandemia.

 

 

Conheça a Plataforma Potências Periféricas, hub voltado à conexão entre organizações atuantes nas periferias e investidoras/es

 

 

Capacitação em paralelo

 

Enquanto o campo do ISP dá alguns passos consistentes para desburocratizar os processos para repasse de verba a organizações, iniciativas para capacitá-las a acessar tais recursos têm entrado também no horizonte. Esse é um ponto considerado por Aline Odara ao falar sobre as iniciativas das periferias e o potencial transformador delas.

 

“Para acessar investimentos sociais, precisamos nos preocupar em começar a capacitar as organizações para captação de verbas seja por meio editais, patrocínio direto, leis de incentivo fiscal. Uma grande preocupação nossa, no Agbara, é entendemos ser urgente capacitarmos organizações negras. Neste momento, estamos procurando por financiamento para formarmos organizações negras para o desenvolvimento social”, destaca Aline.

 

A capacitação das organizações foi, em paralelo ao debate sobre a importância da flexibilização no repasse de recursos a elas, um ponto levantado entre aquelas que compareceram ao 14° Festival ABCR. Thiago Nascimento destacou o acesso mútuo entre as iniciativas participantes a redes de conexões com outros projetos e possibilidades para captação de recursos. “A participação foi fundamental para conseguirmos entender melhor a frente de captação de recursos e estarmos motivados para conseguir a sustentabilidade financeira para a nossa equipe, os nossos projetos e afins”, comenta.

 

Ainda dentro desse contexto, Guiné destaca o trabalho que coletivos e organizações têm feito para adaptarem-se ao novo cenário para captação de recursos, além do papel central ocupado por elas na mobilização em territórios periféricos no enfrentamento às desigualdades existentes nesses espaços.

 

“A pandemia sensibilizou e mobilizou muitas pessoas que se organizaram, criaram novas iniciativas e passaram a sensibilizar mais pessoas, gerando empatia e mostrando para o mundo que estão aptas para receber doações e investimentos para os seus projetos e iniciativas. Essas iniciativas, em sua maioria lideradas por grupos e coletivos, têm entendido a importância de ter um propósito claro, comunicar com transparência a prestação de contas e comprovar o impacto positivo das suas ações”, completa.

 

 

Para salvar na agenda e expandir horizontes

 

Em 4 de agosto, das 9h30 às 11h30, o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife) organizará o evento relativo ao Mês da Filantropia Negra (Black Philanthropy Month), que fará um resgate histórico de como essa prática se constituiu e as suas particularidades.

 

Confira a programação e inscreva-se na página do evento. A atividade será em formato híbrido-  presencial (Avenida Paulista, 2.073, 7° andar) e online – e terá tradução simultânea em Português-Inglês e em Língua Brasileira de Sinais (Libras).

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