Imagem do cabeçalho
Home >
Imagem do cabeçalho

Projeto Recicla Lapenna integra coleta seletiva, atividade econômica local e protagonismo populacional

O Recicla Lapenna, projeto implementado nas últimas semanas no Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo, traz em seu DNA a integração de aspectos fundamentais para a destinação correta de resíduos sólidos, atividade econômica territorial e incentivo ao protagonismo populacional.

 

Com realização por meio de parceria entre a Fundação Tide Setubal e a startup SO+MA, o projeto consiste em um sistema para gestão de resíduos sólidos com programas de incentivo em âmbito coletivo. Nesse sentido, a iniciativa envolve diretamente a população, associações locais e comerciantes – e essa lógica reflete-se na escolha do nome, por exemplo, cuja decisão foi da própria comunidade.

 

Desse modo, o programa objetiva estimular e fortalecer a criação de cadeia produtiva para fomentar a atividade econômica e a adoção de práticas ecologicamente sustentáveis. Para tanto, atores como população, escolas, comerciantes, catadores e organizações locais têm participação direta na iniciativa.

 

Marcelo Ribeiro, gerente de Projetos Estratégicos de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal, destaca essa dimensão e o trabalho de catadores. Essa lógica tem razão de ser, pois profissionais com esse perfil constituem a parte mais vulnerável do processo referente à reciclagem de resíduos sólidos. Logo, objetiva-se desenvolver o Recicla Lapenna como uma estrutura de negócio que os valorize.

 

“A Fundação está entrando nesse processo e fundamentando-o para parar de pé como negócio e eles poderem se remunerar. Idem que essa cadeia de pessoas trabalhadoras da reciclagem também não fiquem tão vulneráveis quanto já são”, comenta.

 

Resultados na palma da mão

Essa dinâmica materializa-se, então, no aplicativo do Recicla Lapenna. O recurso digital disponibiliza para quem se cadastrar nele informações como:

 

  • Impacto causado por meio da contagem de kg de itens reciclados, preservação de árvores, economia água e de kWh de energia, emissão de CO2
  • Ranking de reciclagem;
  • Quantidade de pontos obtidos por meio dos materiais reciclados.

 

Além disso, os pontos que as pessoas acumularem por meio do aplicativo, a partir da participação na reciclagem de resíduos sólidos, poderão ser trocados por recompensas disponibilizadas por meio de parcerias com empreendimentos atuantes no território. Ou seja, os pontos resultantes da entrega do lixo reciclável nos locais de coleta credenciados no Recicla Lapenna podem ser trocados também no comércio local.

 

Por exemplo, algumas possibilidades abrangem alimentos e ida a restaurantes, materiais escolares, roupas e itens para construção. Em paralelo, pode-se também trocar pontos por serviços como cupons de acesso a plataformas de streaming, descontos em cursos e aquisição de ingressos de cinema.

Imagem com três capturas de tela do aplicativo Recicla Lapenna que representam, respectivamente, a pontuação geral da pessoa, os impactos ambientais e alguns dos produtos disponíveis.

Imagem com três capturas de tela do aplicativo Recicla Lapenna que representam, respectivamente, a pontuação geral da pessoa, os impactos ambientais e alguns dos produtos disponíveis (Reprodução / aplicativo Recicla Lapenna)

 

Benefícios em diversas frentes

Ainda com todos os benefícios que vêm à tona para a população por meio dos pontos cumulativos, os maiores ganhos abrangem, então, os impactos socioambientais. Ou seja, ao mesmo tempo em que é possível converter os materiais reciclados em itens necessários para a população, o território ganha em termos de organização, limpeza e desenvolvimento econômico.

 

“Ao materializar tudo isso, vocês são um exemplo para vários outros bairros, sobre como mudaram o potencial do território”, comenta Claudia Pires. “Vejo que há um potencial muito maior de que, ao longo do tempo, permitirá que se aprenda com o que isso pode virar.”

 

A perspectiva da CEO da SO+MA dialoga com a de Jade Cristina Ferreira, moradora do Jardim Lapena. Cristina espera que, por meio do Recicla Lapenna, a população se engaje na destinação correta de resíduos sólidos. Nesse sentido, ela considera que a iniciativa ajude a comunidade a se conscientizar sobre esse contexto. “Espero que a cidade fique mais limpa, que todo mundo se conscientize e recicle, quanto a retirar [e destinar corretamente] o lixo.”

 

Nylane Silva, também moradora do Jardim Lapena, tem a mesma percepção sobre a importância que o projeto terá para sensibilizar a população quanto ao descarte correto de resíduos. E essa lógica virá à tona, para ela, com auxílio de aspectos centrais para o desenvolvimento da iniciativa e, assim, “trazendo benefícios. Até porque há também a bonificação por meio da qual será possível trocar [os materiais recicláveis]. Querendo ou não, trata-se de incentivo para as pessoas poderem descartar o lixo de maneira correta”, comentou, ao falar sobre a conversão dos materiais em itens para elas usarem no cotidiano.

 

Por fim, essa lógica conecta-se, para Nylane, com a abordagem econômica do Recicla Lapenna. “Isso tudo ajudará também na geração de renda para a população do Jardim Lapena.”

 

Engajamento comunitário no centro do Recicla Lapenna

O caráter colaborativo e plural do Recicla Lapenna torna-se ainda mais evidente ao se levar em consideração o papel que as organizações atuantes no território desempenham. Ao colocar em prática as articulações já existentes no bairro, o projeto conta com participações de:

 

  • Grupo de Trabalho (GT) de Meio Ambiente: o grupo atuará diretamente com 50 famílias para incentivar a compostagem de resíduo orgânico por meio de baldes entregues diretamente às pessoas moradoras. O material coletado será transformado em adubo e biocomposto. Além disso, o núcleo também funcionará como ponto de recebimento de resíduos sólidos;
  • Guardiãs do Território: por meio da capilaridade que já tem no território, inclusive no trabalho que já realiza na gestão de resíduos sólidos, o grupo colocará a sua sede, o Espaço Cuidar, como um ponto fixo para recebimento dos itens coletados;
  • CicloLog: a empresa, que realiza atividade logística no território por meio de bicicletas, atuará na coleta de materiais recicláveis por moradoras e moradores que o GT de Meio Ambiente e as Guardiãs do Território indicarem.

 

Everton da Silva Oliveira, diretor da CicloLog, ressalta, simultaneamente, a importância do trabalho em comunidade em âmbito econômico e no combate aos efeitos da crise climática. Essa é, para ele, “a única maneira de acontecer alguma coisa.”

 

“Essa é a grande potência que temos aqui e que pode transformar o território, pois falamos de transformação social, que é uma coisa que está muito longe e é muito utópica. Falamos e de transformação social todos os dias e a estamos fazendo todos os dias”, explica o diretor da CicloLog.

 

Impactos na economia e na qualidade de vida do território

Ao mesmo tempo em que é necessário considerar os impactos econômicos que o Recicla Lapenna objetiva proporcionar, precisa-se sempre evidenciar a dimensão socioambiental nesse contexto.

 

Para se ter uma ideia, de acordo com dados de 2023 do Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo, a taxa de coleta seletiva em Itaim Paulista e São Miguel é de 0,4%. Como parâmetro, Vila Mariana tem indicador de 10,3%, ao passo que Pinheiros e Santo Amaro têm, respectivamente, taxas de 5,7% e 5,3%.

 

Ainda, São Miguel apresenta valor médio de 0,56 unidade de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) de resíduos recicláveis por habitante segundo o mesmo levantamento.

 

Ao considerar essa dimensão, Claudia Pires, CEO da SO+MA, reforça o caráter colaborativo e coletivo do Recicla Lapenna. “O programa é um grande convite às pessoas compreenderem que o que elas consumirem pode ter destinação correta e elas são beneficiadas por implementarem essa atitude corretamente.”

 

Saiba mais

Finalmente, baixe o aplicativo do projeto Recicla Lapenna no Google Play e confira as funcionalidades referentes à iniciativa homônima.

 

Assista também à reportagem veiculada no Jornal da Cultura, da TV Cultura.

 

 

 

Texto e foto: Amauri Eugênio Jr.

Nós utilizamos cookies para melhorar a experiência de usuários e usuárias que navegam por nosso site.
Ao clicar em "Aceitar todos os cookies", você estará concordando com esse armazenamento no seu dispositivo.
Para conferir como cuidamos de seus dados e privacidade, acesse a nossa Política de Privacidade.