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Gife lança rede para colocar a equidade no centro de projetos do Investimento Social Privado

Por Amauri Eugênio Jr.

 

 

Segundo dados do Censo Gife 2018, 10% das organizações colocavam a população negra como foco de seus projetos ou programas. Essa proporção cai de modo drástico quando demais etnias e grupos minorizados entram na história: 7% tinham imigrantes e refugiados como grupos prioritários, enquanto apenas 5% das instituições enfocavam as comunidades indígenas e quilombolas. Os dados mostram que quando se trata de equidade racial ainda há um percurso a ser desenhado com intencionalidade na atuação de institutos e fundações.

 

Esse aspecto foi determinante para a criação da Rede Temática de Equidade Racial, do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), que foi lançada em 9 de julho. A rede consiste em desdobramento da iniciativa O que o Investimento Social Privado Pode Fazer Por… Equidade Racial?, também do Gife. O núcleo é coordenada por Instituto Ibirapitanga, Open Society Foundations, Fundação Tide Setubal, Itaú Social, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Ford Foundation e Instituto Natura.

 

De acordo com Viviane Soranso, coordenadora do programa de Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, o objetivo da Rede Temática é ampliar espaços de debate, troca e construção da equidade racial interna e externa das organizações sociais, engajando institutos e fundações, além de promover intercâmbio de estudos e práticas entre tais organizações. “A nossa expectativa é de que mais fundações e institutos da filantropia e do ISP estejam comprometidos com a agenda da equidade racial e que o conhecimento aplicado na prática possa incidir sobre o desenvolvimento de ações reais para avanço da equidade racial.”

 

 

Assista à íntegra do lançamento da Rede Temática de Equidade Racial

 

 

Reflexão e prática

 

O lançamento contou com debate mediado por Flávia Oliveira, jornalista, colunista do jornal O Globo e comentarista da GloboNews, e do qual participaram Lígia Batista, assessora especial para América Latina da Open Society Foundations; Márcia Lima, socióloga, professora da FFLCH-USP e pesquisadora do núcleo Afro, do Cebrap; e Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.

 

A inserção da equidade racial como um aspecto estruturante na construção de programas de institutos foi apontada por Lígia Batista, ainda mais em um contexto no qual a população negra é a maioria populacional, mas é minorizada em espaços de poder e decisão e sistemática e institucionalmente hostilizada. “Neutralidade não existe em setor nenhum na sociedade civil, logo, não existe no ISP. A partir disso, a gente será capaz de identificar as possíveis estratégias desenvolvidas internamente nas instituições e refletir sobre como incorporar cada vez mais o debate sobre justiça racial neste setor.”

 

Em uma das suas intervenções, Flávia Oliveira ressaltou tal necessidade, assim como considerar o protagonismo de atores desse mesmo grupo. “Por muitas vezes reduzimos as decisões do ISP à mitigação de danos e a um certo confinamento à carência, sem identificar o empoderamento, as potências, lideranças, acadêmicos e personalidades que podem ser criadas e incentivadas. Esse é um ponto importante de equilíbrio na hora de reflexão.”

 

 

Investimento na prática

 

Durante a sua participação, Márcia Lima, que é também conselheira consultiva da Fundação Tide Setubal, falou sobre a sua própria trajetória para exemplificar a importância do desenvolvimento de projetos de potencialização considerando a perspectiva racial. “Márcia Lima não existiria sem o ISP. [Recebi] a minha primeira bolsa de iniciação científica quando eu tinha 19 anos, que foi dada pela Fundação Ford.”

 

Márcia citou também a importância de fundações colocarem a diversidade racial como um aspecto estruturante nas respectivas equipes quanto ao quadro de funcionários e cargos de liderança e de decisão. “As instituições devem estar comprometidas em formar e qualificar os seus quadros para eles ocuparem esses lugares. É muito paradoxal investir em equidade racial se isso não é trazido para a própria organização, logo, uma ação efetiva é criar um programa lá dentro. Falar sobre isso e tocar nessa ferida é muito importante dentro das instituições.”

 

A crítica tem razão de existir. Segundo o Censo Gife 2018, apenas 8% das organizações têm pessoas negras em seus conselhos deliberativos. Durante a sua fala, Ricardo Henriques seguiu a mesma lógica ao ressaltar como esse fator resulta na criação de um debate específico no desenvolvimento institucional de entidade e sobre como o momento atual culminou em particularidades para o combate ao racismo estrutural e a atuação de institutos e fundações. “A gente tem uma conjunção de fatores que tornam essa agenda ainda mais desafiadora, em que a visibilidade sobre as desigualdades é muito mais intensa e compartilhada do que foi até agora. Existe uma janela de oportunidade para, nesta conjuntura, o posicionamento do enfrentamento ser explícito no núcleo duro da desigualdade social brasileira, que é racial.”

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