O acesso à internet nas periferias e os benefícios para as economias locais
Por Daniel Cerqueira e Iran Santos Silva / Foto: Quintessa / LinnkedIn As complexidades dentro das quais o Brasil está envolvido têm despertado crescente interesse de investimentos nas periferias, transformando um cenário de vulnerabilidades, impactos sociais e dificuldades econômicas em territórios de possibilidades. A pandemia de Covid-19 acentuou ou tornou mais visível as […]
Por Daniel Cerqueira e Iran Santos Silva / Foto: Quintessa / LinnkedIn
As complexidades dentro das quais o Brasil está envolvido têm despertado crescente interesse de investimentos nas periferias, transformando um cenário de vulnerabilidades, impactos sociais e dificuldades econômicas em territórios de possibilidades. A pandemia de Covid-19 acentuou ou tornou mais visível as desigualdades existentes no país e mostrou que alguns itens essenciais, como alimentação, internet, água e luz ainda não chegam de forma suficiente nos territórios periféricos.
O Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo onde fica o Galpão ZL, núcleo de ação da prática local da Fundação Tide Setubal, não ficou de fora desse quadro. Marcelo Ribeiro, coordenador de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação, observa que as demandas cresceram após a pandemia: “Estamos trabalhando em várias frentes para a melhoria do território e, sem dúvida, a conectividade impacta no dia a dia. Por isso, fizemos parcerias para enfrentar essa questão.”
Para se ter uma ideia do impacto nas economias locais, recentemente o jornal Estado de Minas publicou a matéria Domicílios sem internet sofrem os impactos do isolamento social, na qual relata que os estudantes que não tinham internet em casa tiveram mais dificuldade de acessar as aulas e atividades nas plataformas digitais, Ainda, trabalhadores informais tiveram dificuldade para acessar o auxílio emergencial, tendo que se expor em períodos de quarentena para conseguir o benefício.
Conectividade e melhorias na qualidade de vida do Lapena
No território do Galpão ZL, a principal ação para solucionar o problema da conectividade vem de uma parceria com a Wifi-fí, uma multiplataforma de marketing que disponibiliza pontos de wi-fi livre para fazer chegar os anúncios de seus parceiros a mais gente. A parceira instalou, até agora, 20 pontos de wi-fi livre pelo território. Trata-se de uma iniciativa que não apenas liga as pessoas, mas permite que a população pense em formas de alavancar seus negócios usando instrumentos online e deixando o Lapena ainda mais integrado.
Marcelo relata como funcionam as antenas e o acesso no cotidiano do bairro. “Havia cerca de 460 pessoas cadastradas e já utilizando essa modalidade de conexão à internet ao longo do mês de junho. A pessoa fica logada durante uma hora, tem de 3 a 5 MB para poder acessar e depois renova por mais uma hora.”
Vale mencionar que, após os primeiros dias de implementação do projeto do Wi-Fi Livre Jardim Lapena, os primeiros sinais identificados são animadores. De acordo com o levantamento feito em julho sobre os primeiros 30 dias da iniciativa, mais de 1.500 pessoas foram conectadas.
Ao levar-se em consideração que 63% do público não têm acesso doméstico à internet, pôde-se identificar quão úteis os pontos de wi-fi instalados têm sido: entre as 1.500 pessoas que recorreram a esse formato de conexão, 48% usaram a internet para trabalhar e 28%, para estudar.
A melhoria ou ampliação no acesso à internet no Jardim Lapena traz outras possibilidades para o bairro, com o envolvimento em serviços de streaming ou apps, como o SuperOpa, startup de impacto social e que, agora, também traz uma parceria para o Lapena.
Contêiner da SuperOpa instalado no Jardim Lapena (Foto: Quintessa / LinkedIn)
A conectividade que leva à economia
A parceria com o SuperOpa tem como objetivo causar forte impacto no dia a dia do território. A empresa, que é o primeiro aplicativo a permitir a compra de diversos produtos diretamente da distribuidora, tem como proposta combater o desperdício de alimentos e trazer acessibilidade para as pessoas economizarem cada vez mais. Estima-se que 30% dos produtos produzidos no Brasil são desperdiçados antes de chegarem até as prateleiras dos supermercados, devido a falhas operacionais na produção. Os idealizadores do app trabalham na perspectiva de transformar o desperdício em economia.
Houve recentes aumentos nos valores da cesta básica, os quais impactaram fortemente as populações mais pobres. Publicada pelo jornal Tribuna de Minas, a matéria Inflação na mesa: alimentos em alta mostra que a cesta básica foi submetida, entre junho de 2021 e junho de 2022, a aumento de forma desordenada, variando de 13,34% a 26,54% dependendo da região do país.
Iniciativas como a da SuperOpa contribuem para a diminuição da vulnerabilidade alimentar. Nessa direção, a empresa instalou um container para venda de alimentos e, por meio do seu aplicativo e do seu modelo de distribuição local, trabalha para expandir o acesso a alimentos de qualidade com desconto, ao mesmo tempo que evita desperdícios, fortalecendo o desenvolvimento desse espaço.
Luiz Felipe Aguiar, COO da SuperOpa, se anima ao falar da parceria. “A experiência no Lapena tem sido excelente. Fizemos uma pesquisa de mercado com o comércio local e levamos para o território produtos com média de 30% de desconto do que eles pagavam. É uma parceria com potencial de ser duradoura. A gente acredita que, nos próximos meses, aumentaremos o volume de vendas”. Além disso, Luiz conta que a proposta é também fazer com que os produtos cheguem mais baratos para o comércio local que, muitas vezes, têm valores acima dos praticados pelos grandes atacados.
Iniciativas como a da Wifi-fí e SuperOpa mostram que os territórios periféricos são, cada vez mais, espaços de investimentos e empreendimentos que, de forma responsável, se tornam vantajosos para todos, investidores e população. É possível enfrentar as desigualdades sociais também com soluções criativas.