Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Temporada 4 de Ancestrais do Futuro apresenta ideias e ações para adiar o fim do mundo
A temporada 4 de Ancestrais do Futuro debate sobre mudanças climáticas, ao promover reflexão para adiar-se diariamente o fim do mundo.
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Estes aspectos têm papel central no desenvolvimento da temporada 4 de Ancestrais do Futuro. Realizada pelas áreas de Comunicação e de Fomento a Agentes e Causas da Fundação Tide Setubal, a websérie visa mostrar dinâmicas diversas da mobilização das juventudes em seus respectivos territórios.
Desse modo, o tema central desta vez é o debate sobre mudanças climáticas, ao promover reflexão para adiar-se diariamente o fim do mundo. Para tanto, um aspecto norteador é o debate que o ambientalista, filósofo, poeta e imortal Ailton Krenak coloca sobre o tema:
“A nossa mãe, a Terra nos dá de graça o oxigênio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã com o sol, deixa os pássaros cantar, as correntezas e as brisas se mover, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele? O que estamos vivendo pode ser obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho calar a boca ao menos por um instante não porque não goste dele, mas por querer lhe ensinar alguma coisa.”
Ideias para organizar um novo mundo
Dentro dessa lógica, Tony Marlon, educador, comunicador popular e membro da Coordenação Executiva do Ancestrais do Futuro, destaca que o colapso socioambiental da contemporaneidade “não brotou nos quilombos, aldeamentos, periferias e favelas”.
Logo, os saberes e tecnologias dos povos originários permitiram adiar o fim do mundo. “A horta criada em uma favela da Baixada Santista muda toda uma comunidade e seus consumos e comportamentos. Essa não é uma história inspiradora: é uma ciência do revide, como diz o escritor e historiador Allan da Rosa. Precisamos, então, construir cultura ao redor deste entendimento histórico de que há tecnologias gestadas entre nós. Um dos jeitos de fazer isso é fazer cinema e construir cultura ao redor”, considera Tony.
Essa perspectiva norteia também a abordagem de Anna Andrade, diretora da Tarrafa Produtora e uma das avaliadoras dos projetos que irão compor a temporada 4 de Ancestrais do Futuro. Anna reforça, enfim, a urgência de populações periféricas começarem a debater sobre mudanças climáticas a partir de novas abordagens e perspectivas.
“É nas periferias também onde se adquire experiências para elaborar outras soluções a partir de práticas tradicionais de manejo sustentável. Ao incluir a pauta nos projetos, pode-se contribuir para um debate mais inclusivo para os próprios territórios, fazendo a população local conhecer os desafios que estamos e iremos enfrentar nos próximos anos. E, com isso, apropriar-se do tema de forma coletiva”, destaca.
Das aulas à prática
A temporada 4 de Ancestrais do Futuro contou com encontros formativos que compuseram o Lab Enfrente. As masterclasses abrangeram aspectos técnicos, como produção de roteiro, fotografia, edição, pós-produção e distribuição.
Além disso, a participação nas aulas, das quais estiveram à frente Tony Marlon e o cineasta Well Amorim, foi um fator primordial para as coletivas audiovisuais poderem inscrever os seus projetos para a seleção referente à temporada.
O Lab Enfrente contou, enfim, com mais dois encontros. As reuniões consistiram, respectivamente, em apresentação do edital da temporada 4 de Ancestrais do Futuro e em diálogos sobre as experiências das coletivas participantes.
Confira a temporada 3 da websérie Ancestrais do Futuro
Sobre o projeto
A temporada 4 de Ancestrais do Futuro contou, a partir de chamada por meio de carta-convite, com inscrições de 18 coletivas participantes do Lab Enfrente. Desse modo, cada uma delas tornou-se elegível para concorrer ao fomento de R$ 20 mil para desenvolvê-lo e distribuí-lo.
Assim sendo, cada uma delas inscreveu o seu respectivo projeto, composto pelo argumento de um curta-metragem com oito minutos de duração e um plano para executá-lo formado por orçamento para aplicar a verba e um cronograma de desenvolvimento. Vale destacar que cada coletiva pode usar o valor de diversas maneiras. Essa lógica visa permitir que elas possam definir o modo mais estratégico para usar o recurso.
Para Tony Marlon, trata-se de um “recurso criativo”, no sentido criador e imaginador. Logo, as coletivas participantes são convidadas a considerá-lo como meio de um projeto, para além do fim de um processo. “Sinto que as maiores contribuições do Ancestrais do Futuro estão em provocar sobre a liberdade criativo financeira das coletivas como propulsor de inovação de base, impulsionar uma cultura de co-construção entre público motivador e financiadoras.”
Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal, considera que a proposta da temporada atual evidencia o potencial de descentralizar o debate sobre mudanças ambientais. “Ao ter ter ideias e ações para adiar o fim do mundo como temas centrais, a temporada 4 de Ancestrais do Futuro tem como objetivo mostrar que a sociedade civil e lideranças em postos de poder e de decisão precisam ouvir – e aprender com – as juventudes e as populações de territórios periféricos. Com base em suas vivências e articulações nesses mesmos espaços, elas mostram caminhos e narrativas para romper com lógicas socioambientalmente predatórias e excludentes”, reforça.
Sobre a temporada
A seleção das coletivas que produzirão filmes que integrarão a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro contemplou as seguintes coletivas:
- Bora Fazer Filmes (MT);
- Cine Kafuné (RS);
- Coquevídeo (PE);
- Gueto Hub (PA);
- Núcleo Aota (SP).
Para além da estruturação e solidez dos projetos selecionados para a temporada, Anna Andrade considera, então, que iniciativas como o Ancestrais do Futuro têm extrema importância para a formação e entendimento no processo de produção.
Isso vem à tona principalmente ao considerar-se “que pessoas pretas e periféricas dificilmente conseguem acessar espaços destinados às suas trajetórias e projetos. Acredito que iniciativas como essa engrandecem e fortalecem os direitos à formação e acesso aos quais toda a população deveria ter. Isso, sobretudo, quando o processo criativo tem relação com a cultura e histórias contadas por esses grupos”, finaliza a diretora da Tarrafa Produtora.
Sobre ontem, hoje e amanhã
A temporada 4 de Ancestrais do Futuro tem lançamento previsto para outubro de 2024. Por fim, acompanhe as redes sociais e o Enfrente, canal da Fundação Tide Setubal no YouTube, para ficar por dentro da veiculação dos episódios.
Texto: Amauri Eugênio Jr.