Coletivas integrantes das duas primeiras temporadas criam campanha para lançamento de Ancestrais do Futuro 3
Saiba mais informações sobre a campanha para o lançamento de Ancestrais do Futuro 3. O projeto conta com coletivos das temporadas anteriores.
Fortalecer a produção artístico-intelectual de profissionais das periferias urbanas é uma das premissas da websérie Ancestrais do Futuro. A terceira temporada, cuja estreia acontecerá em 8 de novembro, tem como mote a valorização da memória e das ancestralidades.
A divulgação da série nas redes sociais começou, então, com uma campanha para divulgar a terceira temporada. A iniciativa foi preparada pelas coletivas que já passaram pelo Ancestrais e que foram contratadas para debater a importância do audiovisual periférico. Desse modo, Cine Quebrada Produções (SP), Coletivo Obirin (PE), MT Queer (MT), Rede Tumulto (PE), Coletivo Apeirom (DF) e Dzawi Filmes (PA) produziram vídeos de 90 segundos
De acordo com Fernanda Nobre, gerente de Comunicação da Fundação Tide Setubal, a campanha para lançamento de Ancestrais do Futuro 3 visa trazer tal reflexão e evidenciar o potencial narrativo desses grupos. “Convidar as coletivas para produzir essa campanha foi uma forma de manter ativa essa rede que se forma com Ancestrais do Futuro 3 com um modelo que sai do apoio via fomento de produções para a prestação de serviços. É fundamental pensar em diferentes formas para valorizar e impulsionar as narrativas que nascem nos territórios periféricos. Os produtos finais são plurais e passam por linguagens ficcionais, documentais e reality show, inclusive. Isso tudo reforça o vasto potencial inerente à atuação desses e muitos grupos nas periferias Brasil adentro.”
Assista aos vídeos produzidos com foco na campanha para lançamento de Ancestrais do Futuro 3
Realidade para (muito) além do senso comum
Um ponto sobre construção midiática em canais hegemônicos de comunicação consiste, desse modo, na reprodução de estereótipos discriminatórios e excludentes. Combater essa narrativa e construir outro imaginário é um aspecto central no trabalho da Rede Tumulto. O grupo, originário do Totó, bairro de Recife (PE), visa criar documentos históricos sobre a população local, assim como colocar críticas sociais em pauta para além de lugares-comuns.
“Quando estiver maior, daqui a uns dez anos, uma criança procurará informações sobre o bairro do Totó e não encontrará como referência apenas o Complexo Prisional dentro da comunidade”, explica Yane Mendes, cineasta e coordenadora da Rede Tumulto. “Ela encontrará a quantidade de festivais de cinema dos quais o filme No Sábado Eu Dou Autógrafo participou, contando uma narrativa a partir de uma perspectiva que não fala de violência. Mas, sim, que faz crítica social às poucas oportunidades das juventudes dentro dos bairros de periferia.”
Nesse sentido, essa mesma lógica enviesada é, então, recorrente na abordagem sobre a Amazônia. Desse modo, as narrativas sobre a região tendem a cair em abordagens genéricas, simplistas e romantizadas sobre o território e as populações que lá vivem. Logo, novos paradigmas para contar as histórias locais tornaram-se necessários.
De acordo com Yuri Rodrigues, da Dzawi Filmes, a produtora surgiu por esses e outros motivos e assumir, enfim, “esse fronte da disputa de narrativas por meio da comunicação e do cinema, a fim de romper com esse histórico viciado de quererem reduzir as nossas vivências e modos de vida. Criamos também para mostrar que somos plurais, diversos. Mudar o sentido de como recontar a nossa história é um movimento político de resistência necessário para quem está na parte de cima do mapa.”
Assista ao curta-metragem No Sábado Eu Dou Autógrafo
Descentralizar para ampliar
Quando se fala em coletivos audiovisuais das periferias, o senso comum ainda induz o foco para o Centro-Sul do Brasil. No entanto, por mais óbvio que possa parecer, estamos falando de um país com 27 unidades federativas. Ou seja, descentralizar passa pelo suporte financeiro. “Quando existe esse investimento, apostando na qualidade técnica criativa e de narrativa que o Norte e o Nordeste têm, já é um grande feito”, pondera Yane Mendes.
Assim sendo, Yane considera que um diferencial da série Ancestrais do Futuro passa pela construção coletiva no desenvolvimento dos filme e, depois, debater sobre eles. E isso abrange também, desse modo, o vídeo integrante da campanha para lançamento de Ancestrais do Futuro 3. “Mas isso passa por debater sobre o tema e as provocações no meio do que era essa criação, juntando a perspectiva de criadores ribeirinhos, indígenas e de periferia. Isso nos fez entender a dimensão que se tem quando coletivos audiovisuais das periferias estão produzindo.”
Dentro dessa lógica, o cinema feito por coletivos audiovisuais das periferias, sendo assim, requer recursos para o desenvolvimento de projetos. Apoiar a produção de tais grupos ajuda a romper com a lógica segundo a qual as produções do circuito comercial ficam em um bloco e o de coletivos periféricos, em outro. “Tivemos um aporte que não foi tão grande, mas não foi um mínimo: ele nos permitiu pagarmos profissionais e que se vissem sendo valorizados. Foi um aporte que nos possibilitou movimentar o recurso na comunidade”, destaca Yane. “Quando falamos de recurso desburocratizado, não significa que não prestamos conta: podemos prestar conta de outra maneira, – e conseguimos também investir.”
Sobre processos coletivos
Um valor intrínseco ao trabalho de coletivos audiovisuais consiste na construção coletiva – o que abrange idealização, desenvolvimento e produção de projetos. Assim sendo, a realização cinematográfica em tais espaços requer, na construção de tais iniciativas, a participação de atores envolvidos na luta por melhorias em tais espaços.
Ou seja, desenvolver projetos nos quais as periferias e as comunidades tradicionais sejam protagonistas, seja à frente ou atrás das câmeras, é, por fim, obrigatório quando se fala em representatividade. “Conseguimos enxergar essas realidades e conhecemos coletivos dentro dos territórios que já produzem conteúdos para as redes sociais. Somar com eles na construção desses projetos é fundamental para fortalecer essa rede local”, comenta João Albuquerque, da Dzawi Filmes.
“Além disso, cria-se uma oportunidade de aproximação de quem tem interesse no universo da comunicação. Isso possibilita acompanhar de perto e incentivar o “fazer cinema no interior da Amazônia”, finaliza João.
Assista ao curta-metragem Kumarú: Cura, Força e Resistência
Saiba mais
Acompanhe no Enfrente, canal da Fundação Tide Setubal no YouTube, os episódios da temporada 3 de Ancestrais do Futuro. A estreia da série ocorre em 8 de novembro, com os cinco episódios lançados sempre às quartas-feiras.
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Imagem: No Sábado Eu Dou Autógrafo, da Rede Tumulto (PE)