Convidados conversam sobre produção literária na periferia
A mesa reuniu o escritor Sacolinha, o rapper Max B.O.fazendo, e o repórter, escritor e cientista político.
A mesa que buscou refletir sobre a literatura na periferia, reuniu o escritor Sacolinha, o rapper Max B.O.fazendo, e o repórter, escritor e cientista político. Bruno Paes Manso. O bate papo foi mediado pela jornalista e produtora cultural Mônica Herculano. Com o objetivo de mostrar que o bairro é parte da cidade, portanto, dotado de informação e conhecimento, o debate buscou fazer um contraponto ao estigma de que o cotidiano da periferia é apenas de criminalidade e miséria.
“Escritor é louco, anda na contramão”, é com esta frase que o escritor Sacolinha iniciou a conversa com o público. Para contextualizar melhor a discussão, ele contou para a platéia como descobriu a importância da leitura. “Fui tirar minha carteira de trabalho no Poupatempo no centro de São Paulo. Na volta pra casa, comecei a ler o que tinha nas primeiras páginas do documento”, relembra.
O que seria apenas uma atitude para passar o tempo, levou o escritor a refletir sobre a importância da leitura. “Quando cheguei o meu destino fui parado numa batida policial, estava sem meu RG, imediatamente lembrei que na carteira de trabalho dizia que ela também era um documento de identidade”.
Para Sacolinha, a leitura transforma uma pessoa simples em um cidadão. Ele conta que decidiu seguir a carreira de escritor quando percebeu que os assuntos do seu interesse eram diferentes dos seus amigos, e isso aliado a necessidade financeira e de colocar suas idéias para fora começou a escrever. Sobre sua profissional de escritor ele explica, “A Literatura é um instrumento de emancipação, se ela me transformou eu quero que transforme outras pessoas também”.
Emancipar e revelar pensamentos e reflexões. Max B.O encontrou na composição esse exercício”, o acesso a leitura transformou a minha maneira de ver as coisas. Funciona como uma academia onde exercito o conhecimento”. Esse exercício trouxe idéias não apenas para as criações musicais, mas também na postura em relação a sua profissão. “Muito rapper costuma dizer que se não fosse o rap, estaria no crime. Se eu não fosse rapper eu não seria bandido, seria um trabalhador, com um trabalho de segunda a sexta-feira, com direito a hora extra, no sábado”
Bruno Paes Manso, repórter do Estado de S.Paulo, mestre em ciência política e escritor, destacou uma mudança proporcionada pelo movimento cultural nas periferias. Ele argumenta que a TV é um meio instantâneo de transmitir informações, portanto, sempre noticia fatos impactantes, “você se entretém mais, não reflete” sinaliza. O Rapper está inserido num contexto violento, porém ele reflete sobre o local onde vive e escreve para expressar sua revolta. Para Manso a leitura traz uma reflexão, exercita a mente, “Escrever um rap é substituir a arma pelo diálogo, mesmo que de maneira agressiva, é diálogo que diminui a distância entre pessoas da sociedade”, completa.