Curso de especialização trabalha a produção de conhecimento nas periferias urbanas
Na contramão da maior parte das especializações oferecidas pelo mercado educacional, o Instituto Maria e João Aleixo, o Observatório de Favelas e as Redes de Desenvolvimento da Maré oferecem a jovens de periferias de diversas cidades e países a oportunidade de participar de um curso que tem o fazer coletivo em sua base, e busca […]
Na contramão da maior parte das especializações oferecidas pelo mercado educacional, o Instituto Maria e João Aleixo, o Observatório de Favelas e as Redes de Desenvolvimento da Maré oferecem a jovens de periferias de diversas cidades e países a oportunidade de participar de um curso que tem o fazer coletivo em sua base, e busca novas formas de produção de conhecimento e valorização dos saberes periféricos contemporâneos.
Chamada de Inventividades Socioculturais das Periferias, a residência acontece no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, e conta com patrocínio da Fundação Tide Setubal, do Itaú Social e do Instituto Unibanco.
Valorização do saber periférico
Na especialização, os estudantes farão uma imersão no território, com o intuito de romper estigmas e criar uma rede internacional de fomento ao conhecimento periférico. “Queremos trabalhar o conceito de potência da periferia para levar à superação dos estereótipos da carência e dos estigmas de violência que marcam profundamente os territórios populares, e impactam sobretudo os jovens das periferias”, afirma Jorge Barbosa, diretor do Instituto Maria e João Aleixo, organização voltada para a produção e disseminação de conceitos inovadores que têm como referência as questões que afetam o cotidiano dos grupos sociais periféricos.
A metodologia das aulas também é diferente da maior parte dos cursos de especialização. “Queremos explorar os conhecimentos que são produzidos na periferia mas não são valorizados no mundo acadêmico”, afirma Jorge. “Não buscamos reproduzir o modelo hegemônico de conhecimento que é apenas transmitido dos professores para os alunos. Na especialização, trabalharemos com a combinação dos saberes coletivos e individuais, pensando nos participantes como seres inventivos e criativos, que nos trazem novas vivências e experiências. Queremos valorizar estas diferenças”.
A necessidade de diversificação esteve em mente durante a seleção dos 37 participantes, momento que contou com Viviane Soranso, assistente de projetos da Fundação Tide Setubal, na banca. Dentre os escolhidos, que são ativistas, artistas, pesquisadores e educadores, estão 10 bolsistas de outros estados do país e de periferias da África do Sul, Portugal e América Latina, que receberão uma ajuda de custo durante os seis meses do curso.
Saber em construção
No dia-a-dia, as temáticas trabalhadas serão elaboradas em conjunto com os alunos, e as experiências serão compartilhadas. Em um primeiro momento, será discutida a criação de uma teoria social crítica do território que leve em conta sua apropriação, produção e uso pelos grupos sociais. Na sequência, os alunos buscarão criar metodologias de estudo e exploração crítica das potências periféricas.
Para completar a experiência, a residência ainda irá trabalhar com a realização de percursos territoriais, nos quais a apropriação sensível do mundo é incentivada por meio do contato com novas pessoas, espaços e territórios.
Ao final da especialização, cada aluno fará um trabalho de conclusão, que pode ser desde uma monografia até uma performance ou manifestação artística. “A ideia é que as pessoas possam criar e experimentar, inclusive fora de suas áreas de atuação. Assim, um ativista pode fazer um trabalho em fotografia, ou um pesquisador uma peça”, afirma Jorge.
A aula magna do curso acontece neste sábado, dia 5/8, às 17h, no Galpão Bela Maré, na Rua Bittencourt Sampaio, 169, Nova Holanda, Maré. No evento, aberto ao público, a professora e Secretária de Educação do estado de Minas Gerais, Macaé Maria Evaristo dos Santos, fala de sua trajetória de vida. Participe!