Curta-metragem ‘Nossos Sonhos pela Janela’ apresenta um chamado para evitarmos um futuro catastrófico
Produzido pelo coletivo Bora Fazer Filmes, o filme 'Nossos Sonhos pela Janela' mostra como os nossos hábitos impactarão as gerações futuras
O que fazemos hoje, os nossos hábitos e a nossa relação com o meio ambiente serão determinantes para a qualidade de vida das gerações futuras – para o bem ou para o mal. Esse é um dos pontos principais do curta-metragem Nossos Sonhos pela Janela, do coletivo Bora Fazer Filmes (MT).
A produção, que abre a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, é um grande chamado à reflexão e à ação para agirmos hoje com o objetivo de evitarmos tempos catastróficos em um futuro cada vez mais próximo.
A premissa de Nossos Sonhos pela Janela apresenta, desse modo, um contexto distópico no Centro-Oeste brasileiro no qual cinco crianças entram em uma jornada em uma escola abandonada. O objetivo? Encontrar um tesouro perdido, o qual contém informações cruciais para sobreviver e plantar sementes para colher uma realidade menos inóspita.
Nesse sentido, a parte ficcional é intercalada, então, com cenas documentais nas quais alunas e alunos adolescentes falam sobre as suas percepções a respeito de meio ambiente e mudanças climáticas. Nesse sentido, vale destacar que as mesmas pessoas que falaram sobre suas impressões atuam no segmento ficcional. Luan Melo, integrante do Bora Fazer Filmes, falou sobre a dinâmica com as crianças que estiveram no elenco – e, consequentemente, nas duas partes do curta-metragem.
“Estamos em um sinal de desesperança muito grande. Fala-se muito sobre o fim do mundo, mas o que podemos fazer para mudar de fato? Acredito que poderemos começar ao olharmos para a possível esperança. Ou seja, pensarmos no que está sendo feito hoje, o que foi feito no passado e o que podemos mudar. A principal resposta está em olhar para populações indígenas, quilombos e essas sociedades que foram marginalizadas, mas têm algo a ensinar”, pondera.
Sobre esperança e novos horizontes
Uma das passagens emblemáticas de Nossos Sonhos pela Janela diz respeito à entrevista com um dos jovens na qual ele dá uma resposta contundente – e negativa – sobre a possibilidade de reverter ou mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Assim sendo, quando questionado se conseguia imaginar um futuro no qual o meio ambiente estivesse preservado, o adolescente João Pedro Ferreira destacou que:
“Não tem mais como reverter do jeito que está.”
Para Luan Melo, falas como a de João Pedro refletem o estado de desesperança que se pode observar no Brasil e no mundo – inclusive na esfera climática. Desse modo, o integrante da Bora Fazer Filmes nos convida a uma reflexão: será que esse tipo de reflexão contribui, de fato, para haver mudanças?
“Se o status quo diz que [o meio ambiente] será destruído, não temos mais esperança. O que a classe dominante fará? Cuidará do [lado] dela”, explica Luan, ao destacar que o ônus fica com os grupos socioeconômica e racialmente mais vulneráveis. “Mas precisamos pensar nisso. Estamos em um sinal de desesperança muito grande e fala-se muito sobre o fim do mundo. Mas o que podemos fazer para mudar de fato?”
Nesse sentido, Luan considera que, enfim, os saberes ancestrais indígenas precisam estar no centro do debate e ações sobre preservação ambiental. E isso diz respeito também, então, à urgência de ruptura com a perspectiva individualista no dia a dia e, consequentemente, de construção de horizontes com foco na coletividade.
“Se olharmos para os conhecimentos ancestrais que nos foram negados, temos, hoje em dia, o poder de voltar para eles. Seja por meio dos coletivos, quilombos ou da internet, precisamos olhar para esse conhecimento e entender que ele é importante para nós”, pondera.
Finalmente, o integrante do coletivo Bora Fazer Filmes traz à tona o papel da produção artística para jogar luz em temas urgentes para a nossa sobrevivência. E, é claro, nos ajudar a imaginar e criar novos mundos e modelos para ser e estar no mundo.
“Temos de entender que o sistema nos ensina uma coisa diferente, mas precisamos reformá-lo de alguma forma. E será por meio de iniciativas como esta [a websérie Ancestrais do Futuro] que começaremos a reformá-lo de alguma forma: por meio da arte, da arte na política”, finaliza Luan Melo.
Sobre a temporada
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Ao ter como mote Iniciativas para adiar o fim do mundo, a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, projeto da Fundação Tide Setubal, evidencia o protagonismo jovens de regiões diversas do Brasil, que se mobilizam para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. É sobre o hoje. É sobre o ontem. É sobre o amanhã.
Esta temporada conta, então, com curtas-metragens produzidos pelos seguintes coletivos:
- Nossos Sonhos pela Janela – Bora Fazer Filmes (MT);
- Da Terra ao Clima – Gueto Hub (PA);
- No Tempo do Sonho – Coquevídeo (PE);
- De Bará a Oxalá – Cine Kafuné (RS);
- Onde a Terra Ferve – Núcleo AOTA (SP).
Por fim, assista a seguir a Nossos Sonhos pela Janela.
Texto: Amauri Eugênio Jr.