‘De Bará a Oxalá’ promove homenagens a entidades afro-brasileiras por meio de videodança
Com produção do Cine Kafuné (RS), 'De Bará a Oxalá' mostra a resistência de pessoas integrantes de terreiros no estado
Uma videodança que celebra a resiliência das comunidades de terreiro e a capacidade de adaptação em tempos de crise climática, refletindo o momento presente. Esse é o mote do curta-metragem De Bará a Oxalá, que compõe a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro.
Com produção do Cine Kafuné, de Porto Alegre (RS), a obra mostra como dança, natureza e espiritualidade afro-brasileira se entrelaçam em uma poética sinfonia audiovisual. E esses aspectos tornam-se ainda mais simbólicos por ter sido concebida e filmada poucos meses após o desastre ambiental que ocorreu no Rio Grande do Sul em meados de 2024.
Desse modo, De Bará a Oxalá teve como objetivo mostrar o ponto de vista de praticantes de cultos afro-brasileiros e da população quilombola do estado sobre o colapso socioambiental que lá ocorreu.
“A nossa ideia original era registrar do ponto de vista das comunidades quilombolas e de terreiro sobre a enchente, para ficar para as futuras gerações não somente a visão da grande mídia, mas a nossa visão sobre isso”, comenta Augusto Santos, do Cine Kafuné.
Beleza para além do que se vê
Outro aspecto emblemático sobre De Bará a Oxalá diz respeito à sua concepção. Ainda que a ideia inicial dizia respeito à produção de um documentário em oito minutos, não seria possível produzi-lo nessa faixa de tempo. Assim sendo, por sugestão do babalorixá ligado ao coletivo, optou-se por incluir dança e música. E assim nasceu a videodança.
Nesse sentido, o filme convida o público a vivenciar o trágico e o belo. Essa lógica estende-se à celebração da força do espírito humano e à dança com os elementos naturais em uma sinfonia de renovação, a honrar as tradições afro-gaúchas em tempos de adversidade.
Dentro dessa lógica, Augusto Santos entende, então, que o audiovisual tem poder revolucionário. Por meio do trabalho exercido pela coletiva em escolas, percebeu-se o significado que essa iniciativa teve – e tem – para quem faz parte de grupos historicamente invisibilizados.
“Quando não se mostram pessoas negras e indígenas, ou elas são mostradas em situações subalternas, estão dizendo que esse é o papel na sociedade. Mas, quando a periferia começa a fazer audiovisual, entendemos que começávamos a nos ver de outro jeito”, finaliza.
Sobre a temporada
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Ao ter como mote Iniciativas para adiar o fim do mundo, a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, projeto da Fundação Tide Setubal, evidencia o protagonismo jovens de regiões diversas do Brasil, que se mobilizam para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. É sobre o hoje. É sobre o ontem. É sobre o amanhã.
Esta temporada conta, então, com curtas-metragens produzidos pelos seguintes coletivos:
- Nossos Sonhos pela Janela – Bora Fazer Filmes (MT);
- Da Terra ao Clima – Gueto Hub (PA);
- No Tempo do Sonho – Coquevídeo (PE);
- De Bará a Oxalá – Cine Kafuné (RS);
- Onde a Terra Ferve – Núcleo AOTA (SP).
Desse modo, assista a seguir à videodança De Bará a Oxalá.
Texto: Amauri Eugênio Jr.