Filme ‘No Tempo do Sonho’ coloca no imaginário que adiar o fim do mundo deve ser uma meta real
Produzido pelo coletivo Coquevídeo (PE), 'No Tempo do Sonho' mostra o adiamento do fim do mundo por meio do realismo fantástico.
“Nesta invocação do tempo ancestral, vim comunicar que estamos chegando perto de como era antigamente. Se você não conseguir mover junto aos seus encantados alguma mandinga muito potente, em pouco tempo não sobrará Coque, nem mesmo mundo.”
Esta passagem do curta-metragem No Tempo do Sonho, da temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, mostra o que pode ser um recurso narrativo do filme ou um alerta para a humanidade.
A produção, do coletivo Coquevídeo, não faz rodeios para falar o que é necessário dizer: ou a nossa relação com o mundo muda já, ou não sobrará Coque, bairro de Recife (PE). E tampouco mundo.
A trama de No Tempo do Sonho mostra, então, a dinâmica entre três gerações de mulheres da mesma família – Dona Biu, Jheniffer e Cauane – para, simultaneamente, lidar com as urgências da vida. E isso diz respeito também a conviver com os impactos das mudanças climáticas através de casos como chuvas partes – as quais lotam a casa de água.
Nesse sentido, o rio Capibaribe, situado no Coque, é também um personagem. Afinal, é lá onde Cauane se diverte, Jheniffer realiza tarefas cotidianas e Dona Biu conecta-se com o sobrenatural. E esse ponto é o fio condutor para uma trama marcada pelo realismo fantástico que dá o tom do curta-metragem por, enfim, conduzir o público à missão de adiar o fim do mundo. Ou queda do céu, como preferir.
Cuidar do ambiente e de si
Para Carol Canuto, da Coquevídeo, um dos pontos que norteiam a trama de No Tempo do Sonho passa pela lógica do autocuidado – que se relaciona com o adiamento do fim do mundo. Inclusive porque a humanidade tem relação intrínseca com a natureza e, por isso, precisa preservar o meio ambiente para cuidar de si própria.
“A força maior que poderemos aplicar para adiar esse fim é começar pelo autocuidado com nós mesmos”, pondera. “Considero que somos imagem e semelhança da natureza. Sempre ouvi que é como se fôssemos os rios, as flores e as árvores.”
Finalmente, Carol Canuto reforça que a preservação ambiental e o cuidado consigo própria é indissociável. “Considero que para começarmos a pensar em cuidar dos rios, das plantas e das pessoas, precisamos cuidar primeiro de nós.”
Sobre a temporada
Proteger o meio ambiente, lutar pela vida em comunidade e pelo bem-viver coletivo. Ao ter como mote Iniciativas para adiar o fim do mundo, a temporada 4 da websérie Ancestrais do Futuro, projeto da Fundação Tide Setubal, evidencia o protagonismo jovens de regiões diversas do Brasil, que se mobilizam para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. É sobre o hoje. É sobre o ontem. É sobre o amanhã.
Esta temporada conta, então, com curtas-metragens produzidos pelos seguintes coletivos:
- Nossos Sonhos pela Janela – Bora Fazer Filmes (MT);
- Da Terra ao Clima – Gueto Hub (PA);
- No Tempo do Sonho – Coquevídeo (PE);
- De Bará a Oxalá – Cine Kafuné (RS);
- Onde a Terra Ferve – Núcleo AOTA (SP).
Por fim, assista a seguir ao filme No Tempo do Sonho.
Texto: Amauri Eugênio Jr.