Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
Poesia e resistência dão o tom do curta-metragem “Marias do Sul”
Curta-metragem da DDB7 Produções, de Londrina (PR), faz parte da temporada 3 da websérie "Ancestrais do Futuro".
“Nas favelas, na universidade, nos terreiros, nas igrejas, elas nunca param.” Esta descrição dá o panorama do curta-metragem Marias do Sul, da DDB7 Produções, de Londrina (PR). O filme, que faz parte da temporada 3 da websérie Ancestrais do Futuro, mostra o cotidiano na casa de três mulheres negras: Maria Núbia, Maria Odara e Maria Aurora – avó, mãe e filha.
Ou melhor: mesmo mostrando as particularidades socioculturais e raciais de Londrina, Marias do Sul pode ser visto como uma metonímia do Brasil. Mais precisamente, do Brasil construído por mulheres negras para além de perspectiva romantizada. Ao mesmo tempo, o projeto, que consiste também em uma audiovideopoesia, é um signo de resistência.
Para se ter uma ideia, segundo levantamento divulgado em 2018 pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), 8% de profissionais na área eram pessoas negras. Ainda, ao levar-se em conta a intersecção entre raça e gênero, era possível contar nas palmas de uma mão as produções com direção de mulheres negras.
Durante o evento de lançamento da série, realizado em novembro, no Itaú Cultural, Dani Barbosa, produtora-executiva de Marias do Sul, falou sobre a composição racial e de gênero da equipe técnica. “Quando passamos [no edital], queríamos construir uma equipe com todas as pessoas pretas. Além disso, que fosse construída por mulheres, justamente por entendermos que as mulheres negras estão na base da sociedade brasileira. Elas fazem o mundo girar, mas são as que mais sofrem com problemas.”
+ Entrevista com a cineasta Joyce Prado Almeida para a Plataforma Ancestralidades
Escutar, filmar, homenagear
Marias do Sul retrata, de modo poético, relatos resultantes de uma série de entrevistas com mulheres de Londrina nas faixas etárias das três Marias protagonistas do filme. E esse ponto foi um dos destaques da fala de Dani Barbosa sobre a produção. Tratou-se de um processo, nas palavras dela, “muito bonito, mas ao mesmo tempo muito doloroso.”
Desse modo, para a produtora-executiva, destaca a dor ao ouvir relatos de discriminação pelos quais mulheres na casa dos 50 anos passaram – e como eles coincidiram com a própria trajetória. “Isso faz com que nos fortaleçamos, enquanto pessoas que sofrem essas violências. Idem sobre olharmos na rua e nos identificarmos, nos respeitarmos e termos outro cuidado e outra consideração.”
Por fim, a mensagem final de Marias do Sul visa ir muito além do sofrimento e propor novas narrativas. “Não queríamos falar somente sobre dor. Queríamos também que fosse algo poético e bem bonito. Passamos por essas dores, mas temos outras coisas muito bonitas e potentes que nos movimentam. Quisemos trazer esse lado”, finaliza Dani Barbosa.
Assista ao curta-metragem Marias do Sul
Sobre a série
Em pontos distintos do mapa do Brasil, jovens mobilizam-se para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. A série é composta por cinco episódios:
- Sem Encruzilhada – Negritar Produções, Belém (PA);
- Marias do Sul – DDB7 Produções, de Londrina (PR);
- Um Campo e Suas Vidas – Força Tururu, de Paulista (PE);
- O Trançado – Souza.Doc, de Santarém (PA);
- Neurótico e Consciente – Olhar Marginal, da Baixada Santista (SP).
Os lançamentos dos episódios ocorrem sempre às quartas-feiras, até 6 de dezembro, no Canal Enfrente (youtube.com/canalenfrente).
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Reprodução / Marias do Sul