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Quais lições sobre diversidade e inclusão poderemos aprender com as Paralimpíadas?

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28 de agosto de 2024
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As Paralimpíadas de Paris, que começam em 28 de agosto e acontecerão até 8 de setembro, representam um dos marcos quando se fala em diversidade e inclusão. Organizado pelo Comitê Paralímpico Internacional, o evento aconteceu pela primeira vez em 1960, em Roma (Itália), quando contou à época com participações de 400 atletas de 23 países.

 

Desde então, as Paralimpíadas passaram a acontecer a cada quatro anos, no mesmo ciclo dos Jogos Olímpicos. E, desse modo, o evento tem como objetivo e razão de ser a inclusão social.

 

Vale destacar que o Brasil é uma dos dez países que têm, na atualidade, desempenhos mais expressivos nas Paralimpíadas. Para se ter uma ideia, o país ocupou na edição de 2021, em Tóquio (Japão), o sétimo lugar no quadro de medalhas. A delegação paralímpica brasileira conquistou, então, 22 medalhas de ouro, vinte de prata e trinta de bronze – totalizando 72.

 

Para as Paralimpíadas que acontecem em Paris, a delegação nacional conta, de acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, com 280 atletas. Nesse sentido, 255 têm algum tipo de deficiência e 19 são atletas-guia – sendo 18 para competições de atletismo e um para triatlo. Além disso, o plantel tem também três calheiros da bocha, dois goleiros para o futebol de cegos e um timoneiro na equipe de remo.

 

Ao considerar-se a abordagem para além da competição, as Paralimpíadas servem também para nos questionarmos sobre os nossos atos, inclusive sobre atitudes capacitistas. Nesse contexto, o capacitismo consiste em discriminação contra pessoas com deficiência.

 

Para deixar o capacitismo de lado

O termo capacitismo apresenta como um de seus principais marcadores o pressuposto preconceituoso segundo o qual uma pessoa é incapaz de realizar alguma atividade por ter uma determinada deficiência.

 

Ivan Baron, influenciador e ativista da causa anticapacitista, destacou as dimensões do capacitismo. “Há o capacitismo institucional, responsável pela retirada de direitos; e o capacitismo recreativo, quando a deficiência é usada como motivo de piada e de chacota. Tem também o capacitismo médico, quando se associa a deficiência a doenças. São várias as maneiras como ele se apresenta para a nossa sociedade e para poder se perpetuar.”

 

Além disso, pode-se considerar que atitudes pressupostamente bem-intencionadas podem ser, sim, capacitistas. Ivan Baron ressaltou como a linguagem pode ser, inclusive por meio de eufemismos, um reflexo do capacitismo. “Por exemplo, quando uma pessoa sem deficiência vê uma PCD, com a intenção de não ofendê-la, a chama de ‘especial’. Mas é por ela ter uma deficiência? Isso não me faz melhor do que ninguém e é apenas um detalhe da minha vida.”

 

Outro ponto que vem à tona quando se fala em capacitismo diz respeito ao discurso de superação. Nesse sentido, essa lógica torna-se ainda mais evidente em contextos como a cobertura das Paralimpíadas, por meio do discurso de superação. E, é claro, pode-se traçar paralelos entre os Jogos Paralímpicos e o dia a dia.

 

“Eu, como PCD, quando realizo qualquer atividade no meu dia a dia, posso logo ser comparado com um guerreiro e um exemplo para todo mundo. Mas isso é por eu levar o lixo para fora ou lavar a louça? Qual é o sentido de desumanizar para me dar uma medalha? Será que outras pessoas sem deficiência são também aplaudidas por realizar tarefas simples do dia a dia? Acho que não”, reflete Baron.

 

Sobre aprendizados

O capacitismo trata-se, então, de um viés discriminatório que atinge uma parcela significativa da população brasileira. De acordo com o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 18,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência. Ou seja, falamos de quase 9% da população nacional.

 

Assim sendo, pode-se ver reflexos do capacitismo no mercado de trabalho. Segundo levantamento Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), quase 546 mil pessoas com deficiência fazem parte do mercado de trabalho formal.

 

Quando se fala em âmbito salarial, então, as diferenças tornam-se evidentes. Enquanto as médias salariais de homens e mulheres sem deficiência são, respectivamente, de R$ 1.904,49 e R$ 1.791,42, os rendimentos de homens e mulheres com algum tipo de deficiência são de R$ 1.637,50 e R$ 1.411,77.

 

Logo, o combate ao capacitismo em todas as esferas da sociedade passa pela educação. Segundo Rodrigo Hübner Mendes, mestre em Gestão da Diversidade Humana pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e diretor do Instituto Rodrigo Mendes, durante participação no programa Encontros & Fronteiras, do canal Enfrente, falou sobre essa dimensão.

 

Ao considerar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo a qual a deficiência resulta da combinação do impedimento clínico – ou seja, com o qual a pessoa convive – e barreiras presentes no espaço, no processo de comunicação e demais aspectos externos, Mendes falou da importância de identificar tais empecilhos para minimizar a deficiência como condição social.

 

 

 

 

“Outra possibilidade que vemos estar muito presente nos ensinos fundamental II e médio é o envolvimento dos próprios estudantes para criar formas de colegas poderem entender e se apropriar dos temas. Claro, o educador não deve assumir para si essa tarefa: ele tem de dividir isso com a coordenação pedagógica e buscar o apoio dos próprios colegas”, explicou Hübner Mendes, ao falar sobre a organização das classes. “O tempo para o planejamento das aulas é, então, um fator percebido como imprescindível para se oferecer outro tipo de aula.”

 

Ivan Baron seguiu, enfim, perspectiva semelhante. Ao mesmo tempo em que falou sobre legislação – “devemos saber que o nosso país é riquíssimo em questão de leis para PCDs, mas é necessário colocá-las em prática”, o influenciador e ativista da causa anticapacitista ressaltou a importância de haver política de educação inclusiva. “Com ela, crianças com ou sem deficiência poderão estudar juntas, aprender sobre diversidade e construir uma sociedade mais justa e com equidade”, finalizou.

 

Na prática

A Política de Diversidade e Inclusão da Fundação Tide Setubal visa definir regras e compromissos que devem pautar a atuação das pessoas que compõem a equipe da Fundação no combate a todas as formas de discriminação e preconceito. O documento visa ainda promover a inclusão de todas as pessoas, independentemente de raça, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, capacidade e origem nacional ou territorial.

 

Baixe a publicação e confira também informações conceituais sobre tais temas, inclusive deficiência física, e consulte mais informações para combater comportamentos capacitistas.

 

 

Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Ale Cabral/CPB / fotospublicas.com


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