Iniciativa conjunta do Programa Lideranças Negras e Oportunidades de Acesso e da área de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal, o projeto de formação antirracista Primeiras Embarcações promove, durante todo o ano de 2025, encontros para diálogos e discussões sobre raça, racismo e ancestralidade para lideranças comunitárias do Jardim Lapena, na zona leste de São Paulo.
Com metodologias sensíveis, como visitas a espaços culturais e produção artística coletiva, a formação busca ampliar o letramento racial e fortalecer a atuação antirracista no território.
A necessidade de discutir raça e racismo de forma mais profunda no Jardim Lapena surgiu de demandas da população do próprio local. Lideranças comunitárias, ainda que engajadas em causas sociais, identificaram lacunas em seu conhecimento sobre questões estruturais como racismo e machismo.
Foi aí que o programa Lideranças Negras e Oportunidades de Acesso e a área de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal uniram forças para criar o Primeiras Embarcações. Trata-se de uma formação que combina teoria, vivências e reflexões coletivas.
O projeto e o conteúdo programático foram desenvolvidos por Aline Matheus Veloso, mestre e doutora em psicologia social. A profissional atua também como consultora em organizações para a adoção de medidas que tenham como foco a criação de estruturas pautadas pela equidade racial.
Andrelissa Ruiz, coordenadora de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal, explica que a iniciativa nasceu de situações concretas vivenciadas no bairro. “Já aconteceram no território algumas questões relacionadas ao racismo que passaram por questionamentos A partir disso, entendemos que era importante haver uma formação para as lideranças levarem em conta também as questões estruturais de racismo, machismo e tantas outras que permeiam a dinâmica social do bairro.”
Viviane Soranso, coordenadora do Programa Lideranças Negras e Oportunidades de Acesso, reforça, então, que o projeto foi construído a partir de um chamado das próprias lideranças. “Muitos desses líderes já desempenham papéis fundamentais na defesa de direitos e no combate às desigualdades. Mas elas sentiam falta de espaços de formação que aprofundassem a discussão.”
Entre as vozes que impulsionaram a formação está a de Marleide Rezende, liderança do GT de Infraestrutura do Jardim Lapena e uma das lideranças que pediram a formação para entender melhor como combater o racismo estrutural. “Eu, por ser uma mulher branca, não tenho consciência do que é viver na pele o racismo. Com as formações, pudemos chegar próximo e entender, mas, claro, não sentir. Como já me vi em situações que geraram desconforto, achei que seria interessante se a Fundação nos ajudasse a pensar sobre como mudar nossas atitudes.”
Imagem de reunião da formação antirracista Primeiras Embarcações (Divulgação)
O projeto para formação antirracista Primeiras Embarcações foi estruturado em sete encontros, alternando visitas a espaços culturais afrocentrados e indígenas com momentos de reflexão em grupo. A proposta inclui:
Viviane Soranso destaca ainda que a escolha por metodologias sensíveis foi intencional. “Essas dinâmicas favorecem a expressão subjetiva, o compartilhamento de experiências e a construção de uma memória coletiva. Permitem que cada participante registre suas percepções de maneira artística, visual ou textual, respeitando a singularidade de cada um.”
Kelly Cristiane de Souza, liderança do GT de Economia Solidária do Jardim Lapena, compartilha, por sua vez, como a formação impactou sua trajetória. “Essa formação tem contribuído muito para o nosso conhecimento sobre nossa história, porque traz coisas que não aprendemos na escola sobre a minha ancestralidade e identidade racial. E tem impacto muito positivo também no bairro, pois podemos compartilhar os aprendizados com outras pessoas do território. Além disso, poder expressar essa valorização em forma de arte, me desperta para muitas reflexões.”
Para além do conhecimento teórico, a iniciativa para formação antirracista Primeiras Embarcações busca fortalecer a atuação das lideranças no combate às desigualdades. Viviane Soranso aponta, enfim, os resultados esperados. “A expectativa é de que as formações reforcem a valorização da história negra e indígena. Além disso, espera-se que ampliem a capacidade crítica dessas lideranças e incentivem a articulação entre elas, conectando suas lutas locais a uma perspectiva de transformação estrutural.”
O projeto de formação antirracista Primeiras Embarcações é fruto da parceria entre dois segmentos estratégicos da Fundação Tide Setubal:
Juntos, o programa e a área em questão demonstram que a luta antirracista não é um tema isolado. E, desse modo, ambos os segmentos têm uma pauta transversal que deve permear todas as esferas da sociedade.
Com metodologias inovadoras e um compromisso firme com o território, o projeto não só forma lideranças. O projeto de formação antirracista Primeiras Embarcações, por fim, também semeia transformações que vão muito além do Jardim Lapena.
Por Daniel Ciasca
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