Curta-metragem “Sem Encruzilhadas” abre os caminhos para a temporada 3 da websérie “Ancestrais do Futuro”
Curta-metragem produzido pela Negritar Produções, de Belém (PA), propõe debate sobre religiosidade, território e ancestralidades.
“Sem Encruzilhadas nasceu da necessidade, pois o povo de terreiro precisa ter as suas histórias sendo contadas. Precisamos visibilizar essas histórias e enegrecer o audiovisual brasileiro.” É deste modo como Mário Costa fala sobre o curta-metragem Sem Encruzilhadas, curta-metragem do qual é diretor e roteirista. O projeto, da Negritar Produções, de Belém (PA), abre a temporada 3 da websérie Ancestrais do Futuro, cujo lançamento ocorreu em 8 de novembro, durante evento no Itaú Cultural.
Dizer que o curta-metragem abriu os caminhos da série dialoga com sua premissa. Na trama de Sem Encruzilhadas, Bartô, um homem preto e dançarino, recebe, durante um ensaio para estrear seu novo espetáculo, uma mensagem de Exu. Isso o motiva a entrar em contato com sua família e, por meio de sua irmã, Mariana, descobre que a memória de seu avô está se perdendo com o Alzheimer. Ainda, o terreiro de sua família é o último do quilombo devido ao avanço de igrejas neopentecostais. Isso motiva Bartô a voltar ao seu território e a perceber que, juntamente com sua irmã, deverão lutar pela memória ancestral de seu povo.
Desse modo, pode-se dizer que Exu, ao mesmo tempo, foi e mostrou os caminhos para o curta. Não por acaso, de acordo com a sinopse, trata-se da energia presente em tudo o que existe. Consequentemente, sua ausência é “a negação da vida”, logo, “sem memória, um povo deixa de existir e ficamos sem encruzilhada.”
Nesse sentido, Mário considera que a construção do curta-metragem dialoga com o processo de reparação histórica. No caso, por meio do protagonismo para contar as próprias histórias, cujas narrativas foram reverberadas de maneira errada. “Nosso filme fala sobre isso: o quanto Exu é vida, abre caminhos e está presente – e é o orixá da comunicação. Se estamos aqui, quem abriu os caminhos foi ele.”
Ocupar, resistir e apropriar-se das próprias narrativas
Um dos eixos centrais de Sem Encruzilhadas dialoga com o resistir no próprio território. Isso aparece, inclusive, por meio da preservação do terreiro em um território onde todos os demais quilombos desapareceram.
Esse debate torna-se ainda mais urgente ao considerar-se a ocorrência de episódios de violência religiosa. Em 2022, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras apresentou mapeamento sobre racismo religioso no Brasil. Segundo o levantamento, do qual participaram representantes de 255 terreiros, quase metade registrou até cinco ataques até dois anos antes da divulgação da pesquisa.
Esse quadro ganha tons ainda mais sombrios quando vêm à tona os atentados fatais contra Pai Banjo, em 2016, e da líder quilombola Mãe Bernadete, em agosto de 2023. Ambas as lideranças religiosas foram lembradas em Sem Encruzilhadas, inclusive.
Assim sendo, o roteirista e diretor do curta-metragem reforça a urgência de se apropriar das próprias narrativas. “Quando identificamos que falta para esses territórios perceberem que existe oportunidade de contar as suas histórias por meio do audiovisual, abrimos uma porta, um caminho e uma encruzilhada para potencializá-las”, finaliza Mário Costa.
Assista ao curta-metragem Sem Encruzilhadas
Sobre a série
Em pontos distintos do mapa do Brasil, jovens mobilizam-se para contar histórias e ressaltar as ancestralidades que inspiram e fomentam a ação, ao evidenciar memórias do presente que estarão nos nossos futuros. A série é composta por cinco episódios:
- Sem Encruzilhada – Negritar Produções, Belém (PA);
- Marias do Sul – DDB7 Produções, de Londrina (PR);
- Um Campo e Suas Vidas – Força Tururu, de Paulista (PE);
- O Trançado – Souza.Doc, de Santarém (PA);
- Neurótico e Consciente – Olhar Marginal, da Baixada Santista (SP).
Os lançamentos dos episódios ocorrem sempre às quartas-feiras, até 6 de dezembro, no Canal Enfrente (youtube.com/canalenfrente).
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Reprodução / Sem Encruzilhadas