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Fundação Tide Setubal realiza 8ª edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel

 
Em um canto da praça Morumbizinho, em São Miguel Paulista, crianças imaginavam qual poderia ser a história que Monteiro Lobato não chegou a contar sobre as vidas de Tia Nastácia e Tio Barnabé, personagens negros e até então sem subjetividade em “O Sítio do Picapau Amarelo”. Não longe dali, em uma tenda com um grande baobá, alunos do curso de Letras da Universidade Cruzeiro do Sul contavam costumes e tradições da África, e um pouco adiante uma máquina do tempo levava crianças e jovens por uma viagem sensorial para desde antes dos tempos de escravidão, discutindo racismo e preconceitos. Todas as atividades – e muitas outras – fizeram parte da oitava edição do Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, realizado pela Fundação Tide Setubal nos dias 7, 8 e 9 de novembro. 
 
Em 2017, o tema do evento foi “Letras Pretas: poéticas de corpo e liberdade”, trazendo um debate sobre a importância da literatura negra e de sua valorização para a promoção da identidade negra, o fortalecimento do povo negro e a luta pela equidade. Este ano, o Festival é apresentado pelo Ministério da Cultura, com parceria estratégica da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Cruzeiro do Sul e do Museu Afro Brasil, apoio cultural do Sesc, patrocínio do Itaú BBA e realização da Fundação Tide Setubal.
"A Fundação Tide Setubal e o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel, todo ano se inserem em uma importante mobilização para que as pessoas, independente de idade, leiam mais e mais. Desta forma, Fundação e Festival são agentes ativos de uma importante ação perene de valorizar a inteligência e a afetividade de brasileiras e brasileiros”, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, responsável pelo patrocínio do evento este ano. 
 
“No Festival, a literatura é trabalhada como um instrumento de mediação para abordar temas importantes na sociedade contemporânea, permitindo que a gente pense em novos caminhos, imagine novos mundos”, diz Inácio Pereira, coordenador da projetos da Fundação Tide Setubal. “Em 2015, após constatarmos um aumento da intolerância e da ausência de escuta no país, decidimos trabalhar a importância das diferentes vozes na sociedade. Para incentivar o diálogo, optamos por tornar mais audíveis algumas dessas vozes, fundamentais para a equidade na sociedade, então escolhemos como tema para 2016 o feminino e o feminismo, trabalhando a igualdade de gênero, e este ano terminamos essa trilogia debatendo a questão racial e a literatura negra”.
 
 
Na última edição do Festival, mais de 150 ações aconteceram em 52 pontos do bairro, entre ruas, praças, escolas, bibliotecas, pontos de leitura, unidades básicas de saúde, centros de referência e espaços socioculturais. 
 
“O Festival do Livro tem papel fundamental ao articular instituições de ensino, artistas, ativistas e autores de São Miguel, fortalecendo agentes locais e promovendo a literatura no território” – Paula Galeano, Superintendente da Fundação Tide Setubal
 
Leia mais sobre a participação das escolas no evento. 
 
Atrações para todos os gostos
 
Dentre as atrações da oitava edição do Festival estavam intervenções artísticas, contação de histórias, saraus, peças de teatro, conversas com autores, cortejos literários, interpretações de programas de TVs na rua, venda e troca de livros e os tradicionais frutos literários pendurados em árvores, para serem colhidos. 
 
A Praça Fortunato da Silveira, conhecida como Morumbizinho, reuniu diversas atividades simultâneas durante os três dias do evento, e recebeu a visita de estudantes de todas as idades, da educação infantil ao EJA. Muitas ações realizadas no local foram resultados da parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), que já ocorre há várias edições do Festival. 
 
“Nestes quatro anos de participação no Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista, os discentes do Curso de Letras viveram uma experiência prática e lúdica com crianças e jovens de diferentes escolas e níveis, contribuindo para a formação dos futuros docentes, que perceberam, durante o evento, que há outras formas de incentivo à leitura e de falar sobre a literatura. Como professora do curso, observo que muitos alunos se descobrem no Festival e ficam mais convictos da escolha que fizeram: a docência. Para a Universidade, é uma forma de se relacionar com a comunidade, ocupando outros espaços e assumindo sua responsabilidade social”, relata a coordenadora do curso de Letras da instituição, Helba Carvalho, em artigo publicado na revista online Linha D'Água. Leia a íntegra aqui. 
 
Uma das atividades realizadas pelos alunos de Letras em 2017 foi o “Plantão do Festival: Notícias sobre as Letras Pretas”. Nela, os alunos encenavam um formato de telejornal, com direito a âncora e até cinegrafistas, para noticiar fatos e curiosidades sobre a obra e a vida de autores negros. A estudante Carolina Paula da Silva Passos foi a idealizadora da atividade. “Na edição anterior do Festival trabalhei em uma tenda com jogos, e este ano pensei em criar algo lúdico mas diferente, em que as crianças pudessem participar como protagonistas”, diz. Ao seu lado está Anderson Rodrigues da Cruz, que já se formou no curso de Letras mas ainda faz questão de participar do Festival. “Quando chegam, as crianças estão tímidas, mas logo querem participar e segurar a câmera”, conta. 
 
Outra atividade que chamou a atenção nos arredores da praça foi a intervenção “Cores Ancestrais”, que criou um grande painel de grafite. Manulo, do coletivo Arte e Cultura na Quebrada, foi um dos artistas convidados o trabalho. “Depois de uma visita ao Museu Afro Brasil, cada um escolheu um orixá e fez uma pesquisa sobre ele, utilizando então sua própria forma de representação e seu estilo de grafite para a arte”, conta.
 
Integraram também a programação debates com autores e especialistas em literatura negra, comunicação e questões raciais. A mesa “O corpo – da literatura à psique” trouxe uma reflexão sobre os impactos negativos do racismo e os caminhos traçados por autores negros na busca de garantir mais pluralidade e diversidade às narrativas – leia mais sobre ela. 
 
No debate “Sujeitos Periféricos: Identidade e Protagonismo”, Débora Garcia, poetisa, produtora cultural e idealizadora do Sarau das Pretas; e Akin Kinte, coautor do livro Punga, debateram a literatura como um instrumento de inclusão dos territórios periféricos – saiba mais sobre o painel. 
 
Nos três dias de evento, o pátio da Universidade Cruzeiro do Sul recebeu a Ocupação Feira Preta Afro-Literária, com a exposição e venda de produtos de moda e artesanato de 21 afroempreendedores, e painéis com discussões sobre literatura, educação e jornalismo – saiba mais sobre ele. 
 
Para encerrar a festa, o público assistiu ao show de encerramento “Canções e poemas periféricos”, idealizado pelo músico Renato Gama, que contou com versões musicais de poemas de diversas artistas pelos intérpretes Mariana Per, Luedji Luna, Heloisa de Lima, Adriana Moreira, Tita Reis, Melvin Santana, Renato Pessoa e Gabrielle Raini.
 
Confira o vídeo sobre a última edição do Festival: 
 

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