Analista de comunicação e produtor de conteúdo do site da Fundação Tide Setubal
O que esperar do futuro (e como construí-lo)?
O que as e os jovens esperam do futuro? E o que já estão fazendo para construir essa nova realidade já no presente?
Esta é a última de uma série de reportagens especiais sobre juventudes e democracia. Confira as cinco reportagens anteriores na seção de notícias do nosso site.
Se há uma palavra que pode definir o que esperar para os próximos anos quando o assunto é política, Paloma Pereira escolheu aquela que, por meio de dinâmicas diversas, passa pela leitura feita pelas/os jovens entrevistadas/os: “Desafios! Muitos desafios gestados pela pandemia, pelo cenário internacional e pelo desbalanço entre os poderes da república.”
A jovem considera que tais desafios estão ligados a diversos fatores, como o equilíbrio entre os Três Poderes e as Forças Armadas, a crise em âmbitos inflacionário, energético e alimentar, transparência orçamentária. Assim sendo, outros pontos abrangem o fortalecimento do salário mínimo, retomada do crescimento econômico e geração de empregos com melhores condições trabalhistas. “Houve um déficit educacional fruto da ausência de investimentos e de planejamento para que os índices alcançados no Brasil quanto à inserção de jovens no ensino superior. Isso vem à tona no que diz respeito à democratização do acesso ao ensino técnico com a expansão das escolas técnicas. Ou seja, tudo foi sucateado e precisa ser recuperado.”
Em meio à perspectiva adotada com um quê de ceticismo diante do cenário sociopolítico e econômico dos últimos anos, idealizar os próximos tempos para colocar mudanças em prática será uma pauta central. “É necessário garantir que as/os jovens criem expectativa para o futuro e isso só se faz por meio da educação.”
Ainda que seja grande o tamanho das tarefas que precisarão ser colocadas em prática nos próximos anos, a esperança está no radar. Wesley Xavier considera que haverá, nos próximos anos, o resgate de políticas públicas que foram descaracterizadas nos últimos anos. “Acredito na gestão popular. Sem o poder popular dividindo a gestão principalmente dos espaços que oferecem acesso à periferia, não haverá mudanças.”
+ Confira a reportagem Educação pelo engajamento político, a primeira da série
+ Leia a segunda reportagem: Jovens são o presente do Brasil
+ Acesse Juventude democratizada, a terceira reportagem
+ Do poder público para a sociedade civil é a quarta reportagem da série
+ A quinta reportagem, Sociedade da comunicação, está disponível neste link
Dialogar pelo presente e pelo futuro
Luciana Petersen apresenta leitura semelhante no quesito esperança, ao mostrar a sua visão sobre as esferas religiosa e democrática. Por isso, a retomada da democracia ocorre a “passos de formiguinha” segundo ela. “O estrago do cristofascismo na mentalidade de grande parte dos brasileiros foi grande e será necessária uma boa faxina para voltarmos a disputar a partir do diálogo em vez da força. Entre evangélicas/os, felizmente, temos o bom exemplo de Jesus, que sempre lutou ao lado dos pobres e defendeu os oprimidos.”
Ao mesmo tempo em que esperança e pragmatismo estão no radar, a batalha narrativa conta também com lugar de destaque para Caio Santos. “A diferença é que o eixo do poder mudou e precisaremos observar como a política tradicional, após esta crise que durou quase dez anos, se reinventará. Não dá para ignorar as redes, mas também não dá para pautar um governo todo nisso – esse foi um dos grandes erros do governo passado.”
Por fim, Amanda Costa considera também que comunicação, diálogo e narrativa têm papéis fundamentais para engajar as juventudes na esfera política. Afinal, será necessário desmontar lugares-comuns que retroalimentam a ocupação política por grupos hegemônicos, assim como aquelas que distanciam temas urgentes como mudanças climáticas do dia a dia populacional, será necessário mostrar a pluralidade dessas pautas e mostrar que pontos até então considerados antagônicos estão muito mais próximos do que se imagina.
“Há um tempo escrevi um artigo falando sobre a minha fé e como a religião evangélica foi essencial para sustentar Bolsonaro no poder. O texto mostrou, pois, como grande parte dos golpistas e terroristas sustenta a religião evangélica e o modo como o movimento evangélico é plural, diverso e multifacetado. Ele inclui diferentes narrativas, como a de uma jovem mulher preta, periférica e, neste momento, de esquerda. Criar esses canais de comunicação e diálogo é essencial. Isso tudo apesar de muitas vezes a gente não conseguir chegar em quem realmente está na ponta, em quem realmente está sofrendo com as fake news”, finaliza Amanda.
Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Airam Dato-on / Pexels