Qual é o papel de raça e gênero dentro das organizações segundo o Censo Gife 2020?
Por Amauri Eugênio Jr. Qual é o panorama de recursos, estrutura, formas de atuação e estratégias das empresas e dos institutos e fundações empresariais, familiares e independentes? A análise desses pontos compõe o Censo Gife 2020. A décima edição da pesquisa realizada pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) traz respostas […]
Por Amauri Eugênio Jr.
Qual é o panorama de recursos, estrutura, formas de atuação e estratégias das empresas e dos institutos e fundações empresariais, familiares e independentes? A análise desses pontos compõe o Censo Gife 2020.
A décima edição da pesquisa realizada pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) traz respostas a uma série de aspectos sobre o trabalho de OSCs e de instituições do campo do ISP, apresenta tendências para o trabalho no segmento filantrópico e visa prestar suporte ao planejamento, estruturação e qualificação da atuação dos investidores sociais.
O desenvolvimento de ações e projetos voltados a raça e gênero requer análise detalhada. De acordo com os dados do Censo Gife 2020, a maior parte das 1.015 iniciativas levantadas não estava relacionada com temas voltados à diversidade e equidade. Vale ressaltar que a diversidade e a equidade racial e de gênero são, em conjunto com a dimensão territorial, aspectos norteadores para o trabalho da Fundação Tide Setubal no enfrentamento das desigualdades.
Quando se fala sobre raça, 40% dos projetos tinham relação transversal – quando a perspectiva racial não era o foco, mas havia compromisso embutido nas práticas cotidianas -, ao passo que 5% tinham envolvimento direto – com o objetivo de trabalhar a temática. Em casos com recorte por gênero, 38% dos projetos mapeados voltados a mulheres tinham relação transversal, enquanto 9% registravam foco direto. No que diz respeito à pauta LGBTQIA+, 31% tinham relação transversal e 3% contavam com incidência direta.
De acordo com com Mirene Rodrigues, gerente de Desenvolvimento Organizacional da Fundação Tide Setubal, colocar ações de raça e gênero como centrais no cotidiano do ISP foi e continua a ser urgente. “Precisamos desenvolver uma cultura organizacional que não nos permita pensar um planejamento estratégico sem que estejam claras as articulações das temáticas de raça e gênero de forma direta e não somente transversalmente. Quando nos permitimos pensar transversalmente, não nos obrigamos a elaborar compromissos e metas que fiquem na mudança do cenário que temos hoje.”
Como a Covid-19 foi refletida no Censo Gife 2020?
A crise socioeconômica causada pela pandemia de Covid-19 teve reflexos no trabalho desenvolvido no campo do ISP. Dentro do valor total investido pelas organizações que responderam ao Censo Gife 2020, que compreendeu R$ 5,3 bilhões, 43% – ou seja, R$ 2,3 bi – foram destinados ao enfrentamento da pandemia.
Um ponto a ser destacado nesse cenário abrange a realização ou participação em iniciativas de financiamento coletivo (crowdfunding) e o vínculo de doações à mobilização de recursos de outras fontes em uma proporção previamente determinada (matching), como no caso do Matchfunding Enfrente. No total, 22% das iniciativas com esse perfil mapeadas na pesquisa foram específicas no combate à crise causada pela pandemia.
Ainda, esse contexto sanitário e social influenciou em mudanças no processo para apoio a OSCs. Se, por um lado, aspectos como a flexibilização de regras para o uso de recursos de organizações apoiadas e o aumento de valores repassados são consideradas por organizações como restritas ao contexto de enfrentamento da Covid-19, por outro, o aumento do diálogo e de canais de comunicação com as OSC apoiadas e da divulgação e transparência sobre as doações devem permanecer no contexto pós-pandemia.
Baixe a Política de Diversidade e Inclusão da Fundação Tide Setubal
Como a Fundação Tide Setubal está?
Assim como o território, outros segmentos que têm papel central para o trabalho desenvolvido pela Fundação Tide Setubal – a começar que um dos programas de influência é, justamente, sobre Raça e Gênero.
Em paralelo com a criação desse programa de influência, a fundação promoveu demais ações internas desde 2016, como na composição da equipe e na estruturação dos projetos. Um exemplo dessa lógica é a Política de Diversidade e Inclusão, criada pelo Comitê de Diversidade e Inclusão da fundação no decorrer de 2020, que visa definir regras e compromissos para pautar a atuação das(os) colaboradoras(es) no combate a todas as formas de discriminação e preconceito.
Outro ponto a ser destacado é a composição da equipe. Por meio de censo realizado internamente – um dos 15 compromissos estabelecidos pelo Comitê para o biênio 2021-2 e aplicado em setembro, 50% da equipe se autodeclarou negra – 10,7% parda e 39,3% preta -, ao passo que a maior parte das pessoas que a compõem é feminina: 64% mulheres, 33% homens e 2% se autodeclara travesti.
“Desde 2016 a Fundação vem, intencionalmente, pautando suas ações da porta para fora e da porta para dentro focando em raça e gênero. O Comitê de Diversidade e Inclusão é uma instância fundamental para ancorá-las de forma orgânica, possibilitando estruturar várias formas de trabalho, formações e ações. Mudança efetiva requer engajamento e olhar constantemente atento na busca da equidade”, completa Mirene Rodrigues.
Mergulhar em dados
Você poderá acessar a íntegra do Censo Gife 2020 no próprio site do Grupo de Institutos, Organizações e Empresas.