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Mais do que desafios e potências, o diálogo e o território importam para a saúde mental

O debate sobre saúde mental , com foco na atuação por meio de clínicas públicas, foi o mote do Seminário Territórios Clínicos. O evento ocorreu em 15 de abril, na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP Leste).

 

A segunda mesa que compôs a sua foi sobre Clínica, militância, formação – são impossíveis da psicanálise? A metapsicologia psicanalítica a partir das discussões de raça, classe e gênero.

 

Mediada por Deisy Pessoa (Casa de Marias), a plenária contou com presenças de Miriam Debieux (Grupo Veredas Psicanálise e Imigração), Clélia Prestes (Instituto AMMA Psique e Negritude), Maria Ribeiro (Margens Clínicas).

 

Em sua fala, Miriam Debieux destacou a importância de considerar marcadores de grupos minorizados para se realizar a escuta clínica, pois ao passo que eles podem fixar o sujeito e representar uma marca de dor em sua história, eles não definem quem essa pessoa é. “A militância faz parte, enquanto posicionamento político, da clínica e incluí-la na clínica é uma exigência ética. É necessário pensar em psicanálise implicada politicamente com o desdobramento dessa relação, a partir de afetos e dores, para submeter sujeitos ao tratamento – ninguém se renomeia sozinho.”

 

 

 

Assista à entrevista com Miriam Debieux na série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental

Política e psicanálise lado a lado

Da esquerda para a direita, a imagem mostra Clélia Prestes, Miriam Debieux e Maria Ribeiro no palco do auditório da EACH-USP.

Da esquerda para a direita, a imagem mostra Clélia Prestes, Miriam Debieux e Maria Ribeiro durante a segunda mesa de debate (Foto: DiCampana Foto Coletivo)

Clélia Prestes dialoga com a mesma perspectiva, ao destacar que não há separação entre psicanálise e política, uma vez que a perspectiva compreendida como neutra camufla os marcadores onde ela está situada – de onde parte e o que defendem, por exemplo.

 

Para além disso, Clélia realizou um diálogo entre história e perspectiva psicanalítica. “Qual é a possibilidade de renomear uma nação que simplesmente não tem como voltar mais do que duas gerações? Sabemos a importância da psicanálise de voltar, renomear? Qual é a importância de uma nação que nomeia ou impõe religiosidade, corporeidades, priorizações?” Esses questionamentos foram feitos para enfatizar a estrutura desigual em âmbito psicanalítico quando se fala em raça: “Com racismo não há saúde.”

 

 

+ Confira a primeira parte do Seminário Territórios Clínicos

 

+ Leia sobre o debate a respeito de saúde mental e filantropia realizado no 12° Congresso Gife

 

 

 

Assista à entrevista com Clélia Prestes na série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental

 

Desafios e potências na psicanálise e no debate sobre saúde mental

A mesa de encerramento do Seminário Territórios Clínicos passou pelo tema Clínica e Território: desafios e potências. Participaram Ana Carolina Barros (Casa de Marias), Elisangela Lopes (Roda Terapêutica das Pretas), Veronica Rosa (PerifAnálise São Mateus), assim como mediação de Márcio Farias (Instituto AMMA Psique e Negritude).

 

A saber, durante sua exposição, Ana Carolina Barros destacou o fato de falar sobre clínica em âmbito psicanalítico ser tão importante como falar em classe social e raça. Ou seja, por discriminações nessas mesmas chaves produzirem marcas em indivíduos, abordar essas dimensões tem a mesma lógica de fazê-lo sobre o território.

 

“A periferia cria, inventa e desenvolve estratégias, pois está calcada em  uma ética coletiva, solidária, do comum, do cuidado e buscando nosso horizonte de bem viver. A periferia é um espaço geográfico e simbólico que produz lugares, marcas, subjetivas e formas de olhar o mundo. Estarmos na periferia é um posicionamento ético-político que, por sua vez, incide na forma como chegamos à clínica como apostamos na escuta como estratégia de cuidar do nosso olhar”, destaca.

 

Ana Carolina Barros destaca também a maioria dos espaços voltados ao tratamento psicanalítico estar concentrada em bairros majoritariamente ocupados por pessoas brancas. Dessa maneira, aspectos sociorraciais e de classe são indissociáveis do debate sobre a democratização da saúde mental. “Quando falamos de território, estamos necessariamente falando de classe social e de questões raciais. Esses são os elementos que irreversivelmente se entrelaçam a partir de desdobramentos da nossa história colonial.”

 

 


 

Assista à entrevista de Ana Carolina Barros na primeira temporada da série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental

 

Sobre formação e acesso

Sob o mesmo ponto de vista, Verônica Rosa destacou a perspectiva do acesso, inclusive para a formação de profissionais na área psicanalítica que tenham trajetória periférica. De acordo com ela, deve-se falar sobre a necessidade de se considerar outros saberes além da perspectiva tradicionalmente usada na prática profissional nesse contexto. “Não é fácil estar nos territórios, pois isso passa pelos nossos corpos e formações. Fazer psicanálise no território é estar entre os desafios e potências o tempo todo e se falarmos da potência, precisamos falar dos saberes periféricos.”

 

Por fim, Elisangela Lopes destacou os desafios enfrentados para mostrar a importância do acesso ao espaço terapêutico para mulheres em situação de extrema vulnerabilidade. Além de que as atividades presenciais lá realizadas permitem a observação da potência delas e mostrar que elas têm direitos. “Muitas delas nunca tiveram acesso a terapeutas negras/os e souberam que podem ser cuidadas. É necessário mostrar para elas que estão autorizadas a sentir e ser cuidadas e amadas – elas se emancipam por meio das próprias potencialidades.”

 

Fique por dentro!

A próxima edição do edital Territórios Clínicos acontecerá no segundo semestre de 2023. Ou seja, acompanhe os canais da Fundação Tide Setubal no Instagram, LinkedIn, YouTube e Facebook para conferir novidades sobre a iniciativa.

 

 

Texto: Amauri Eugênio Jr. / Fotos: DiCampana Foto Coletivo

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