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Como o campo do investimento social privado pode combater a lógica da branquitude?

Debater sobre como o campo do investimento social privado pode combater a lógica da branquitude, assim como propor ações para reverter esse quadro, é urgente. Dados da pesquisa Periferias e Filantropia – As Barreiras de acesso aos Recursos no Brasil, da Iniciativa Pipa em parceria com o Instituto Nu, dão a dimensão desse cenário.

 

De acordo com o levantamento, 95% das organizações encontram dificuldades para acessar financiamentos aos seus projetos. Além disso, 31% relataram ter gerido e obtido menos de R$ 5 mil no intervalo de um ano para manter a operação, enquanto 14,8% afirmaram não possuir recursos e 24,5%, contado com recurso anual entre R$ 5 mil e R$ 25 mil. Para além disso, segundo o Censo Gife 2020, os conselhos deliberativos de 55% de institutos, fundações e fundos filantrópicos eram compostos apenas por pessoas brancas.

 

Assim sendo, falar sobre o investimento social privado pode combater a lógica da branquitude é um ponto central quando se fala na atuação do campo. Durante o episódio O que a Filantropia Faz pela Equidade?, da série Caminhos: Trilhas Coletivas pela Equidade Racial, Cassio França, secretário-geral do Gife, foi veemente: “a gente tem que ser radical. Mesmo sendo radical, vai demorar. Não dá para falar assim: ‘ah, veja bem, o seu tempo de aprendizado’ – e tudo bem. Em geral, quem quer tempo de aprendizado são pessoas brancas, obviamente.”

 

Iara Rolnik, diretora de Programas do Instituto Ibirapitanga, seguiu a mesma linha, “Trata-se de algo urgente, escancarado na nossa cara. E, ao mesmo tempo, que a gente vai levar tempo para conseguir mudar.”

 

 

 

Assista ao episódio O que a Filantropia Faz pela Equidade?, da série Caminhos: Trilhas Coletivas pela Equidade Racial

 

Para além do debate

Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação Tide Setubal, considera urgente medidas sobre como o investimento social privado pode combater a lógica da branquitude pode ir além do debate: “quando colocaremos em prática?”

 

Viviane considera urgente provocar o campo do ISP a olhar “para a sua branquitude e começar a discutir e refletir sobre seus privilégios e o seu lugar. Mas [é necessário] sair só da reflexão e ir para a prática. Conversamos tanto e há tantos encontros sobre refletir, formar, fazer letramento.”

 

Nesse sentido, Lia Vainer Schucman, doutora em Psicologia Social e professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), considera que o ISP reproduz a lógica da branquitude ao, entre outras coisas, atuar de modo que decidirá a destinação de apoios financeiros e quais organizações merecem recebê-los. Para ela, essa lógica retroalimenta a destinação de verba para instituições que já estão formalizadas.

 

A pesquisa Periferias e Filantropia – As Barreiras de acesso aos Recursos no Brasil mostra, então, o panorama nesse contexto. Segundo o estudo, 63% das organizações existem há menos de uma década, sendo que 35% tinham menos de cinco anos à época do lançamento, em 2022. Ainda, 52% não possuíam CNPJ próprio.

 

Por fim, criar ações efetivas para reverter esse quadro é estratégico quando se fala em como o campo do investimento social privado pode combater a lógica da branquitude.

 

“Esse dinheiro não chega muito na mão de quem mais precisa. Há um tipo de organização e uma lógica sobre como captar recursos, em que o CNPJ precisa estar organizado. [É necessário] que seja para uma [organização] já reconhecida, para se fazer propaganda da própria filantropia. Mas não se distribui esse recurso para a população que, muitas vezes, é a que mais precisa”, finaliza Lia Vainer Schucman.

 

Saiba mais

 

+ Entrevista com Lia Vainer Schucman

 

+ Série Caminhos: Trilhas Coletivas pela Equidade Racial

 

 

 

Texto: Amauri Eugênio Jr. / Foto: Christina Morillo / Pexels

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