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Série de entrevistas aborda as relações entre saúde mental e desigualdades socioterritoriais

Por Daniel Cerqueira

 

 

Muito antes da pandemia de Covid-19, o tema da saúde mental já era debatido em vários setores da sociedade, indo além dos profissionais da área. De forma geral, essa é uma questão que tem se tornado cada vez mais pauta dos serviços públicos, das empresas privadas e do terceiro setor. É por esse motivo que ganha importância o lançamento da série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental pelo canal Inconsciente Coletivo, cuja produção conta com o apoio da Fundação Tide Setubal.

 

Para quem acompanha as nossas reportagens, não é novidade que a Fundação tem trabalhado para o enfrentamento das desigualdades sociais e pelas promoções das periferias e da justiça social. Diversos textos, entrevistas e publicações que sistematizam esse trabalho estão disponíveis no site da própria Fundação.

 

Ocorre que a saúde mental é também projetada nas desigualdades de modo intenso. Tide Setubal S.S. Nogueira, coordenadora de Saúde Mental da Fundação e do projeto Territórios Clínicos, lembra que o tema não está desconectado do contexto social onde as pessoas vivem.

 

“A desigualdade não é só de coisas e objetos, mas atinge a subjetividade das pessoas. É fundamental levar em conta em cada um dos projetos a dimensão psíquica. Como esses indivíduos foram atravessados pela pandemia? Como são sistematicamente atravessados pelo racismo estrutural?”

 

 

É preciso falar sobre saúde mental

 

A série É Preciso Falar Sobre Saúde Mental, produzida pelo canal Inconsciente Coletivo e disponível também no Enfrente, canal da Fundação Tide Setubal no YouTube, estreou em janeiro de 2021. Com periodicidade mensal, o projeto nasceu para divulgar este tema de maneira acessível, didática e empática.

 

Logo no primeiro episódio da série, o psicanalista Christian Dunker alerta que as populações periféricas passam, por vezes, por uma violência sistêmica, que pode ser física ou simbólica. Se é verdade que há muito o que promover nos territórios, com ótimos exemplos nas áreas de educação, habitação, cultura e negócios criativos, não se pode negar também que a violência policial, o racismo, o preconceito de classe e as poucas condições de acessos a bens básicos estão presentes em parte desse grupo populacional.

 

Soma-se a isso a falta de rede protetiva pública suficiente para tanta demanda, o que os leva a procurar suporte em organizações religiosas. Estas, por sua vez, transformam os problemas estruturais em questões morais, gerando muitas vezes culpa e vergonha. É dessa inversão entre estrutura e moralidade que surge grande parte dos problemas de saúde mental destes territórios.

 

O jornalista Morris Kachani, um dos fundadores do canal e apresentador da série, acredita que, hoje, a saúde mental é um assunto central na agenda do bem-estar social. “Na medida em que realizamos este trabalho, percebemos a importância de nosso papel em aprofundá-lo, estimulando a reflexão, a consciência e o autoconhecimento. Mais do que nunca, a divulgação e o alcance desta pauta se revelam necessários.”

 

No total, a série terá 12 episódios. Até a publicação deste texto, já passaram pela série Christian Dunker, psicanalista, professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e vencedor do Prêmio Jabuti; Ana Carolina Barros Silva, psicanalista e membro fundadora da Roda Terapêutica das Pretas e da Casa de Marias; e Lia Vainer Schucman, psicóloga e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

Para os próximos programas, já estão confirmadas entrevistas com o psicanalista Joel Birman, professor de psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vencedor do Prêmio Jabuti, que irá ao ar em abril; e Miriam Debieux, psicanalista, professora da pós-graduação de Psicologia Clínica da USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política e o Grupo Veredas: psicanálise e imigração – o diálogo estará disponível em maio.

 

 

O que já foi ao ar?

 

O primeiro episódio, com Dunker, trouxe o tema Saúde mental virou pauta moral. A questão central do episódio gira em torno da reflexão de que na medida em que as desigualdades se projetam na saúde mental e, concomitantemente, não há uma rede protetiva capaz de ampará-las, são os aparatos religiosos que acabam por abarcar as pessoas vulneráveis. No episódio, o professor afirma que “o cristianismo neopentecostal busca captar almas para o seu projeto e estabelece que o transtorno mental é relativo à falta de crenças e fé, ou seja, o coloca no campo da moral.”

 

Os dois episódios seguintes trataram do mesmo tema sob perspectivas opostas: o racismo estrutural brasileiro. No programa com a psicanalista Ana Carolina Barros Silva, o enfoque estava na saúde mental da mulher negra. Ao associar pobreza, desigualdade e raça, ela lembra que quando se fala de mulher negra, a discussão esbarra na questão de classe e territorial. “Não é porque alguém nasceu nas condições de pobreza que vai desenvolver questões de ordem mental, mas elas contribuem para um agravamento do quadro.”

 

Já na entrevista com a psicóloga Lia Vainer Schucman, a questão do racismo foi abordada a partir da ideia de branquitude. Há na ideia de ser branco a subjetividade de um ideal de superioridade ou ideal civilizatório, o que é percebido por brancos e não brancos. “A branquitude assume esse lugar de superioridade. Ela é resultado de um processo de dominação colonial, de senhor e escravo, de colonizador e colonizado.” Seja por qual viés esse aspecto é observado, o resultado é o mesmo: uma afetação na saúde mental da população negra.

 

 

Na agenda

 

Quer saber mais sobre o que cada convidada falou e descobrir outras relações entre a saúde mental e as desigualdades socioterritoriais? Acesse o canal Enfrente, assista aos episódios completos e assine o canal para os próximos programas.

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