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Projeto Caixote Horta: soberania alimentar e protagonismo comunitário nas margens do Rio Tietê

Em um movimento que une cuidado ambiental, solidariedade e empoderamento, o Projeto Caixote Horta está trazendo novas referências para a relação de famílias do Jardim Lapena com a alimentação saudável e a natureza.

 

Desenvolvido pelo GT de Meio Ambiente, surgido do Plano de Bairro elaborado pelos moradores do Lapena, no Galpão ZL, da Fundação Tide Setubal, a iniciativa troca resíduos orgânicos por hortaliças orgânicas cultivadas em caixotes.

 

A iniciativa visa, então, garantir acesso a alimentos livres de agrotóxicos para moradoras e moradores de áreas vulneráveis, especialmente quem vive em casas sobre o rio Tietê. Atualmente, o projeto Caixote Horta beneficia 10 famílias, mas o objetivo é ampliar para 50, fortalecendo a soberania alimentar e a conexão comunitária no território. 

 

Da compostagem à mesa: como o projeto Caixote Horta virou símbolo de transformação 

O projeto Caixote Horta funciona como uma rede de apoio mútuo. Nesse sentido, as famílias entregam resíduos orgânicos para a compostagem mantida pelo GT de Meio Ambiente. Em troca, recebem um caixote de madeira com hortaliças como alface, coentro, cebolinha e ervas medicinais, prontas para colheita. A cada 15 dias, as organizadoras Nathalia Souza e Maria Edilene — integrantes do projeto comunitário As Marias — reabastecem os caixotes e fazem a manutenção. Esse processo garante que até mesmo idosos ou pessoas com mobilidade reduzida tenham acesso ao cultivo sem sair de casa.

 

“Meu coração se alegra, como mulher periférica, em contribuir e transformar um lixão em horta. Essa horta está atendendo todas essas famílias e fico contente de ver o resultado”, compartilha Maria Edilene, emocionada ao relembrar a trajetória de ocupação de um terreno antes usado como depósito de lixo. A Horta das Marias, localizada na Travessa da Petrobras, tornou-se o centro de distribuição dos caixotes e um espaço de trocas simbólicas. 

 

Soberania alimentar em territórios de direitos 

O projeto Caixote Horta não se resume à distribuição de alimentos. Assim sendo, ele alinha-se à missão da Fundação Tide Setubal de promover o protagonismo político em periferias, criando espaços onde a população decide e age por melhorias coletivas. “Quem vive a realidade no território sabe realmente quais são as necessidades”, explica Andrelissa Ruiz, coordenadora de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação, destacando a importância de iniciativas lideradas pela comunidade. 

 

Para Nathalia Souza, a motivação é clara. “Acredito que o verde dentro de casa possa transformar a vida do ser humano. Levamos o básico, mas com saúde e bem-estar.” O foco nas famílias que vivem sobre o rio não é aleatório: são pessoas que, muitas vezes, dependem de doações ou não têm recursos para comprar hortaliças.

 

Mulheres, voluntariado e a força da comunidade 

A história do projeto Caixote Horta é também uma narrativa de resistência feminina. Nathalia e Maria atuam como voluntárias, sem remuneração, e dependem de doações de sementes e trabalho coletivo para manter o projeto. “Somos mulheres que plantam, cuidam e se preocupam com a comunidade. É um orgulho desse poder feminino”, celebra Maria. 

Além dos caixotes, As Marias gerenciam sete hortas comunitárias, incluindo duas em escolas, e promove ações como o Baldinho Verde (redução de lixo orgânico), Chás de Roda com pessoas idosas e feiras orgânicas. Tudo com orçamento anual de R$ 20 mil, valor que elas transformam, então, por meio de criatividade e parcerias.

 

Desafios e sonhos: ampliar o impacto 

Apesar do sucesso, os obstáculos são muitos. A demanda por caixotes supera a capacidade de produção e os recursos são limitados para a expansão. Mesmo assim, as organizadoras seguem firmes, usando as redes sociais para divulgar o projeto e convidar voluntários.

O próximo passo é, desse modo, fortalecer a incidência socioambiental no território, pressionando por políticas públicas que reconheçam iniciativas como a delas. “O sucesso está no diálogo direto com o poder público”, afirma Uvanderson Vitor da Silva, coordenador do Programa Democracia e Cidadania Ativa da Fundação Tide Setubal, lembrando que projetos locais podem inspirar mudanças estruturais. 

 

Visite a Horta das Marias e faça parte 

O convite está aberto. Quem quiser conhecer o projeto pode, enfim, visitar a Horta das Marias, na Travessa da Petrobras, ou acompanhar as atividades do projeto Caixote Horta pelo Instagram do GT de Meio Ambiente. “Você está convidado para vir conhecer e observar como fazemos”, diz Nathalia.

 

Para apoiar, basta doar sementes, mudas ou tempo — porque, como ensinam As Marias, transformar um território começa com um caixote de esperança. 

 

Por Daniel Cerqueira

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