De 4 a 6 de abril, aconteceu o 10º Congresso GIFE, que reuniu investidores sociais (familiares, empresariais ou independentes), e diversos membros da sociedade civil para discutir o tema “Brasil, democracia e desenvolvimento sustentável”.
Durante os três dias do evento, a equipe da Fundação Tide Setubal acompanhou as discussões, esteve presente em um estande que contava a história, missão e atuação da organização, e integrou mesas do congresso.
Maria Alice Setubal, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal e do GIFE, abriu oficialmente o evento com um discurso sobre os desafios políticos e sociais que enfrentamos neste ano, em que a Constituição cidadã completa três décadas. Embora nestes trinta anos o país tenha conquistado muitas vitórias, vivemos temos de intolerância, falta de diálogo e rupturas sociais. Segundo Maria Alice, tais desafios pedem ação por parte do Investimento Social Privado (ISP).
“O momento é de lutar por causas. É de advocacy. É de reafirmar a democracia de forma forte e eficiente. Devemos manter as nossas singularidades, mas precisamos erguer bases para uma agenda comum, do bem público, articulando vozes de modo a potencializar a nossa pluralidade. Mas qual é o nosso papel enquanto cidadãos? Como o setor do ISP tem atuação neste momento do país? O cenário atual nos convoca, a cada um e a todos, a nos mover para a preservação e desenvolvimento da democracia e a lutar para uma sociedade mais justa e sustentável”, provocou.
“Precisamos ter coragem de arriscar, de apoiar novas organizações que podem trazer diferentes contribuições, e fazer perguntas mais difíceis: Por que apesar de todo o investimento em educação os resultados não condizem com estes esforços? Por que o homicídio da juventude negra não parece ter se tornado tão urgente? Como estamos conversando com as diversidades em nossos projetos? O GIFE – que iniciou suas ações nos anos 90, neste processo de redemocratização do país – agora quer discutir o investimento social num novo ciclo de desenvolvimento. Qual será a nossa agenda?”, questionou Maria Alice. Clique aqui para ver a íntegra do painel de abertura do Congresso.
Na programação aberta, a Fundação Tide Setubal integrou duas mesas. Na discussão “O que o Investimento Social Privado pode fazer por Cidades Sustentáveis”, Paula Galeano, superintendente da Fundação Tide Setubal, abordou possibilidades e desafios ligados aos apoio e fortalecimento de instituições locais ao lado de Jorge Abrahão (Programa Cidades Sustentáveis), Cristina Orpheo (Fundo Socioambiental CASA) e Luis Guggenberger (Instituto Vedacit). Em sua fala, Paula abordou a questão das periferias e da política urbana que perpetua a segregação nas cidades. “Discutir o fortalecimento de do processo participativo para transformação desses territórios urbanos é imprescindível para sustentabilidade urbana”, afirmou.
Já na mesa “É possível um Brasil democrático e sustentável sem leitura e escrita de qualidade para todos?”, organizada pela Rede de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (Rede LEQT), Marcio Black, especialista em cultura da Fundação Tide Setubal, discutiu ao lado de Sandra Medrano (Comunidade Educativa CEDAC), Marcos Pestana (Biblioteca Municipal Cial Brito) e Ana Lima (Rede Conhecimento Social) a formação de leitores e escritores no Brasil. “Precisamos pensar em como podemos dar mais visibilidade para o universo de produção literária que já existe nas periferias. Devemos dar continuidade ao trabalho de fomento à leitura, levando livros para o território, sobretudo para as crianças. Mas é preciso também valorizar a literatura que já é produzida nesses lugares, e que muitas vezes gera mais identificação por retratar as vivências de quem mora na periferia”, questionou Marcio durante a conversa.
Na programação fechada do evento, Maria Alice Setubal participou do painel “Educação já: fronteiras para articulação e impacto pela educação no país”, ao lado do historiador Binho Marques, de Olavo Nogueira (Todos Pela Educação), com mediação de Margareth Goldenberg. Em sua fala, Maria Alice enfatizou a importância de se discutir as desigualdades na educação: “Não podemos achar que o Brasil vai avançar nos resultados educacionais sem olharmos para as desigualdades na educação. Um estudo do Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que, nos últimos 10 anos, o quintil mais pobre dos alunos brasileiros praticamente não evoluiu nas avaliações do IDEB. Como país, não vamos atravessar a linha do aprendizado adequado sem olhar para as desigualdades. Precisamos construir pontes e ter uma atuação mais conjunta para causarmos um maior impacto na educação”.
Ao longo dos três dias de evento, estiveram presentes nas discussões temas como a importância de ações que valorizem a diversidade, a necessidade de apoio a projetos e iniciativas que trabalham para o fortalecimento da democracia e o papel do Investimento Social Privado em levar inovação para o campo social.
Ao encerrar o Congresso, Maria Alice fez uma provocação aos presentes: “Se as empresas têm mais dificuldade de arriscar, as fundações têm um espaço maior para inovar e se arriscar. A gente pode fazer muito mais do que estamos fazendo”, disse. “O importante é mostrar que as questões das mulheres, negros, LGBTIs e deficientes não são só destes grupos, são questões de todos os brasileiros e fundamentais no Investimento Social Privado. Se a gente está querendo pensar no bem comum, a gente tem que olhar como nossos projetos podem dialogar com todas essas questões”.