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A escola, a violência e a tecnologia do diálogo

@Comunicacao

11 de novembro de 2009
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Na sexta-feira, dia 6, durante a 4ª Feira do Livro do CDC Tide Setubal, foi realizado o debate Violência na Vida e na Escola, com a presença de Alexandre Barbosa, mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, Maria Antônia Ribeiro Mendonça, diretora da EMEF Dom Paulo Rolim Loureiro, e Dalka Chaves de Almeida Ferrari, psicóloga do Instituto Sedes Sapientiae. A mediação foi realizada pela professora Maria Cláudia Vieira Fernandes, diretora da EMEF Armando Cridey Righetti, no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. Com início às 15h30, esta foi a terceira mesa de debate promovida pela organização da Feira do Livro (acompanhe outras discussões nos links abaixo). Cerca de 60 pessoas, a maioria adolescentes em idade escolar, compuseram a plateia na Sala de Convivência do CDC Tide Setubal.

 

A psicóloga Dalka Ferrari abriu o debate apresentando uma pesquisa sobre violência realizada no Instituto Sedes Sapientiae. “Hoje, as políticas públicas de combate à violência estão muito mais focadas na violência sexual, mas dentro da escola existe a violência psicológica, que, por sua vez, reflete a violência doméstica que crianças e adolescentes sofrem dentro de casa”, afirmou Dalka Ferrari que, desde 1994, pesquisa como a violência repercute na família, na escola e na sociedade em geral.

 

Maria Antônia Ribeiro Mendonça, que foi professora durante 20 anos, lembrou que a sociedade se reproduz dentro da escola. Para ela, o maior desafio é descobrir como lidar com esse fato. “A violência na escola se manifesta de muitas formas, não apenas com agressão física, mas principalmente com agressão verbal e olhares ameaçadores”, disse. Mas para ela, outras coisas também representam a violência como uma aula sem sentido. “Quando o professor dá uma aula sem sentido, o aluno se sente violentado, porque tem de ouvir tudo calado, sem diálogo”. A diretora ressaltou a importância de construir esse diálogo dentro da sala de aula, porque “o professor, por sua vez, também se sente agredido quando fala, fala, fala e não é ouvido pelos alunos”, acrescentou. “Então, existe aí uma co-responsabilidade de todos na construção de um diálogo mais amplo, não só entre professor e aluno, mas entre a comunidade, pois o nosso objetivo é comum: formar pessoas mais humanas, mais solidárias e com princípios bem definidos”, explicou. “Esse desafio a escola não pode vencer sozinha”.

 

Quanto aos casos de violência física, Maria Antônia Ribeiro Mendonça aposta novamente no diálogo. “O policiamento deve ser a última alternativa”, disse. “É muito triste chamar a Guarda Civil Metropolitana para resolver problemas na escola,isso só deve acontecer em último caso”.

 

O antropólogo Alexandre Barbosa começou sua participação lembrando que a violência não é um problema exclusivo das escolas públicas ou da juventude pobre. Ao contrário, “situações complexas acontecem em todas as escolas, nas particulares também”. Entretanto, essas questões são criminalizadas quando acontecem em instituições de ensino da rede pública, principalmente, nas periferias. Segundo ele, o maior desafio nesse sentido é definir antes o que é violência e o que é indisciplina. “Esse limite é muito tênue, e acaba dificultando a tomada de decisões. A maioria das escolas, públicas e particulares, não sabe lidar com essa relação”. Outro aspecto abordado por Alexandre Barbosa foi o desafio da própria profissão de professor, “essa é a única profissão em que a pessoa tem de se confrontar, direta e cotidianamente, com outras 40 pessoas ou mais. É preciso preparo e apoio incondicional a esse profissional”, afirmou.

 

A mediadora Maria Cláudia Vieira Fernandes, diretora da EMEF Armando Cridey Righetti, também participou da discussão, falando do tema com propriedade. “Realmente, precisamos apostar na conversa, no diálogo com a comunidade”, afirmou. “Mas a escola atualmente está numa encruzilhada: alunos e professores acabaram criando mecanismos para se proteger de situações de conflito e se fecharam a esse diálogo. Por isso, afirmo que a resposta não está só dentro da escola. As relações em rede são muito importantes. E nesse sentido destaco a parceria com a Fundação Tide Setubal, que reforça essa discussão para encontrarmos saídas de forma conjunta”.

 

A leitura crítica do debate foi realizada pelas jovens Nicole Patrício da Silva, 17 anos, aluna do terceiro ano do Ensino Médio no Colégio Estadual D. Pedro I, e Aline Santana da Silva, 15 anos, aluna do primeiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Ataulpho Alves, instituições localizadas na região de São Miguel Paulista. Ambas ressaltaram a importância de o aluno ser ouvido por professores e funcionários em relação às questões escolares, principalmente nos aspectos comportamentais e de interação em sala de aula. “Antes de a gente ser criticado, a gente precisa ser ouvido”, disse Aline Santana.

 

O professor Eduardo de Almeida Dantas, que leciona História para alunos de 5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental na EMEF Dom Paulo Rolim Loureiro, acompanhou as discussões da plateia e fez uma observação crítica a partir de seus 22 anos de carreira docente. “Muito se fala em usar a tecnologia em sala de aula, mas a escola não costuma utilizar a tecnologia do diálogo. Aliás, a organização da própria escola é violenta, na medida em que muitas regras estimulam o desentendimento. É um absurdo, por exemplo, que 300 crianças tenham de comer juntas num intervalo de 15 minutos; ou tenham de usar o banheiro ao mesmo tempo nesse espaço de tempo. Será possível um outro modelo?”, questionou o professor.

 

Saiba mais:

Histórias Individuais e Memórias Coletivas

 

Comunicação e Intervenções Comunitárias

 

Espaço, Tempo e Pluralidades: a Poética Socioambiental


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