Fundação Tide Setubal
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Conheça as manifestações do 1º Encontro da Cultura Caipira

@Comunicacao

24 de junho de 2008
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Batuque de umbigada

 

A mais importante herança cultural das populações negras na região em torno de Campinas e Sorocaba é o Batuque, Tambu ou Caiumba, mantida atualmente por um grupo de pessoas moradoras das cidades de Tietê, Capivari e Piracicaba. Duas filas se defrontam, uma de mulheres e outra de homens, perto da qual ficam os tambores. Um batuqueiro solta (entoa) a moda. Os homens a memorizam e sobem até a fila das batuqueiras para ensinar-lhes a canção. Após diversos galanteios, os homens vêm bater nas batuqueiras – trocar umbigada com elas -, e aí o baile começa pra valer. O movimento da umbigada é encontrado em diferentes danças banto-brasileiras. As modas, canções do Batuque, constituem uma crônica cantada da comunidade – sua história passada e presente, seus valores morais, seu entorno social. Criadas no repente ou buscadas na tradição, elas tecem comentários acerca de pessoas e fatos conhecidos pelo grupo, não raro em tom jocoso e servindo-se de uma linguagem rica em metáforas. Muito freqüente é a temática do amor e do relacionamento conjugal. Outros assuntos comuns são as memórias do cativeiro, a resistência e crítica ao racismo e a outras formas de opressão social e política. No plano musical, o referencial rítmico básico é dado pela matraca, dois paus batidos no corpo do tambu, e pelos guaiás, chocalhos metálicos empunhados por cantores e dançadores. O tambu, grande tambor cônico, improvisa comentários à melodia da moda, ao mesmo tempo em que faz a marcação da dança, indicando o momento exato da umbigada. O repique do quinjengue, tambor menor em forma de cálice, serve de orientação tanto para o andamento da música quanto para a afinação dos cantores.

 

 

Catira

 

A Catira, ou Cateretê, apresenta-se difundida por quase toda a extensão territorial que conheceu a presença da cultura caipira – São Paulo, Rio de Janeiro, sul e oeste de Minas Gerais, norte do Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e, sobretudo, em Goiás, onde a Catira é, hoje em dia, uma das mais vibrantes expressões regionais da cultura popular. Inicialmente, a Catira serviu à catequese jesuíta, que utilizava estrategicamente o artifício das danças e procissões cantadas para motivar os nativos a conhecer os fundamentos da religião católica. O estudioso português Couto de Magalhães, citado por Câmara Cascudo em seu dicionário, dá como certa a grande habilidade do padre José de Anchieta na composição de versos e na interpretação do Cateretê, tendo ele incluído a dança nas festas de Santa Cruz, São Gonçalo, São João, Espírito Santo e Nossa Senhora da Conceição, por considerá-la honesta e adequada à moral cristã. A Catira pertence à grande família dos sapateados ibéricos dos quais temos inúmeros exemplos conhecidos, como a dança flamenca. O sapateado ibérico, no Brasil, vai desenvolver-se em diversos gêneros: nos Lundus e Batuques mineiros, nos Fandangos litorâneos, no trupe (tropel) do Coco nordestino, na Curraleira e na Dança do Quatro goianas, dentre outras modalidades. Característica marcante da Catira é a combinação de palmas e bate-pés compondo desenhos rítmicos de grande interesse musical e coreográfico. A formação dos dançantes em filas confrontadas vai evoluir de forma variada sob o comando dos cantadores, acompanhados de violas que, em momentos alternados, tiram uma moda versando sobre qualquer assunto ou história, para o descanso dos dançantes. No momento final, conhecido como Recortado, dança e cantoria juntam-se num movimento apoteótico final.

 

 

Congada

 

Das cortes dançantes dos Reis Congos, inventadas ainda em Portugal, originaram-se várias agremiações dramáticas que hoje se espalham por todo o Brasil: Maracatus, Taieiras, Cacumbis, Congadas e Moçambiques, dentre outras. Umas ainda bastante vinculadas ao contexto religioso, outras passando a figurar em outras datas, como o Carnaval. Umas valorizando a história das guerras entre os Cristãos (fiéis) e os Mouros (muçulmanos) – qualquer semelhança com o contexto do cenário político internacional não é mera coincidência -, outras correndo rua sem parar. No entanto, é de se notar em todas a presença dos Reis Negros com sua corte e a forte devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito ou Santa Ifigênia. As congadas reproduzem em seu instrumental as características básicas da música africana, como a polirritmia e a presença de instrumentos tradicionais como as marimbas, embora tenham se apropriado de toda sorte de instrumentos europeus.

 

 

Cordão de Bichos

 

Fundado por Vicente de Almeida e Aladim Ponce desfilou, pela primeira vez, na cidade de Tatuí, SP, o cordão-dos-bichos, composto de animais feitos de madeira, papelão, estopa e arame. Em 1980 um incêndio destruiu todos os animais do cordão, que foram refeitos com o auxílio da Prefeitura e do povo da cidade.

 

 

Cururu

 

Existem três manifestações denominadas Cururu no imenso campo de atuação da cultura caipira: o Cururu mato-grossense, canto e dança religiosa, acompanhado de instrumentos como a viola de cocho e o mocho; o Cururu, Caruru ou Cajuru, dança de roda paulista, pouco observada hoje em dia, com exceção das festas de São Gonçalo, mas bastante documentada pelos estudo do passado; e, finalmente, o Cururu desafiado, gênero poético improvisado, das regiões centrais de nosso Estado. Inicialmente desenvolvido como um longo discurso versando sobre passagens da Bíblia, expressão da profunda religiosidade católica dos caipiras, o Cururu, hoje, desenvolve-se como uma modalidade de disputa de caráter exclusivamente lúdico. São formadas equipes com dois ou mais canturiões (bons cantadores de Cururu; os maus são denominados canturinos) acompanhados de violão ou viola, pandeiro ou chocalho e, às vezes, até mesmo um surdo de marcação. Definida a Carreira, regra que define a rima sob a qual o canturião terá que desenvolver o seu discurso (Carreira do Divino, versos terminados em INO; Carreira de São João, terminados em ÃO; Carreira do Sagrado, terminados em ADO; e, assim por diante), inicia-se a cantoria por um dos contendores, que terá um tempo para falar ao público de suas qualidades, enquanto vai desancando as qualidades dos oponentes. Terminada sua falação é a vez da resposta dos demais desafiantes, que, assim, vão se sucedendo a noite toda. O Cururu desafiado ainda é muito praticado nas cidades de Sorocaba, Tietê e Piracicaba e seus entornos regionais. Em todos estes locais existem programas de rádio específicos para o público do Cururu, que atualmente começa a ter alternativas também na programação televisiva local.

 

 

Fandango

 

Fandango é, originalmente, baile – termo apropriado pelo português ao espanhol. Por extensão, a música e a dança praticadas em São Paulo, características do litoral, da região sorocabana e do vale do Ribeira também foram chamadas Fandango. Os conhecedores, no entanto, preferem identificar as danças por seus nomes próprios: Tontinha, Serra Baile, Caranguejo, Queromana, Anu, Cana Verde, Ciranda, Dança da Fita, Xiba, e, assim, sucessivamente, a mais de uma centena de variações registradas. Como no nome, o baile traz, em sua estrutura, elementos da cultura ibérica – como as violas, rabecas e pandeiros, na música; os tamancos e chilenas, adereços que colorem o já exuberante sapateado, nas danças, sempre acompanhado do palmeado. O Fandango cedeu, como era natural, aos modismos de época, incluindo, a partir do século XVIII, passos e gestos provenientes das danças de salão européias (Mazurca, Xote, Valsas etc), perdendo em virtuosismo, porém, ganhando em situações de encontro amoroso, que enriqueceram sobremaneira a poesia que se improvisa entre refrões de sabor bastante arcaico. Como o Fandango pertenceu, desde sempre, ao universo dos tropeiros, recentemente, a estética da manifestação tem se adaptado ao universo dos rodeios e festas do peão.

 

 

Fandango de Chilenas

 

Dançando com botas de meio cano, as botas dos tropeiros paulistas, nas quais são atadas as chinelas, espécie de grandes esporas com várias rosetas que tinem durante o sapateado e o entre-choque de botas. O acompanhamento é feito com violas. De resto valem as informações referentes ao fandango de tamancos.

 

 

Folias de Reis

 

Os Reis Magos Gaspar, Baltazar e Melchior não são reconhecidos pela igreja católica como santos. Sua “canonização” se deu pela via da oralidade popular, sobretudo através dos evangelhos apócrifos, dado que, na Bíblia, sua descrição é bastante sucinta. Desde muito cedo, a história do Nascimento ganhou inúmeras formas de expressão, sendo a principal delas o presépio, uma representação plástica. A versão dramática é atribuída a S. Francisco, que, no século XII, teria utilizado elementos teatrais para melhor transmitir os ensinamentos dessa passagem aos analfabetos. Tais princípios passaram a ser empreendidos por todo o mundo cristão. Na tradição ibérica, transplantada para o Brasil via Portugal, existem dois modos de contar a história, de acordo com a predominância de um ou outro dos personagens que testemunharam a cena: reisados (Reis Magos) e pastoris (Pastores). Ambas recontam a passagem à sua maneira, mas sempre de forma musical e coreográfica, com o objetivo de arrecadar donativos para a festa do dia 6 de janeiro. Nesta data, até o século IV, comemorava-se o Natal sob o nome de Epifania. Com a implantação do calendário gregoriano, transferiu-se a festa para o dia 25 de dezembro, nascendo, então, o ciclo natalino, que compreende todo o período. É durante esse tempo que os Ranchos, Ternos e Folias realizam seu giro distribuindo bênçãos e perpetuando a boa nova.

 

 

Jongo

 

Nos tempos do cativeiro, o Jongo era dançado pelos negros que trabalhavam nas plantações de café do Vale do Paraíba, nas fazendas do sul de Minas Gerais e Espírito Santo. A dança acontece tradicionalmente à noite, celebrando o 13 de maio ou integrando algumas datas significativas do catolicismo popular: festas juninas, Divino Espírito Santo etc. Através de imagens metafóricas referidas ao universo rural – animais, plantas, carro de boi – os jongueiros “conversam” entre si, seguindo em alguns casos regras bastante estritas de “alinhamento” e encadeamento dos pontos, como são chamados os versos cantados no jongo. O prestígio de um jongueiro se mede pela sua habilidade em amarrar os rivais com a força de seus pontos astuciosamente talhados, bem como pelo seu conhecimento da linguagem cifrada do jongo, que lhe permite “sair” dos pontos propostos pelos outros. O tambu, tambor maior e o candongueiro, menor, compõem o instrumental do Jongo, juntamente com o chocalho denominado guaiá, e, em alguns grupos cariocas, a puíta, uma cuíca ancestral de som grave. Quando deseja parar a dança e cantar novo ponto, o jongueiro coloca a mão sobre os couros e grita Cachuera! Padrões rítmicos e coreografia adquirem diferentes características, segundo a comunidade, das evoluções de um solista ou par solista ao centro da roda a um simples giro anti-horário dos participantes em torno dos tambores.

 

 

Moçambique

 

Dança dramática praticada em outros Estados brasileiros como Minas Gerais,Goiás e Rio Grande do Sul como louvor a Nossa Senhora do Rosário, o Moçambique, em São Paulo, é devoção, sobretudo, a São Benedito, e está presente em quase todas as cidades do Vale do Paraíba e do Nordeste do Estado, podendo também ser identificado como Congada. Suas coreografias variadas já encenaram os feitos guerreiros de Carlos Magno e os Doze Pares de França na cruzada contra os mouros, marcadas pela sincronia com que os dançantes das duas fileiras entrechocam seus bastões, evoluindo quase que de forma acrobática. Os três ritmos do Moçambique (valseado, batucada e marcha) são executados por um conjunto composto de caixinha de guerra, acordeom, surdo e pandeiro, acrescido pela percussão dos bastões e o som dos paiás, conjunto de guizos amarrados pouco abaixo dos joelhos. Os versos louvam os santos e saúdam os festeiros e o povo presente, quase sempre precedidos de pequenas ladainhas cantadas.

 

 

Samba de Bumbo

 

No Estado de São Paulo ocorre uma modalidade de samba muito especial denominada, de acordo com a época e a localidade, Samba Antigo, Samba Caipira, Samba Campineiro, Samba de Pirapora, Samba de Terreiro, Samba Lenço, Samba Paulista, Samba Sertanejo, ou, entre seus praticantes, simplesmente samba. O termo samba de roda, mais conhecido e associado a uma modalidade praticada na Bahia, também é utilizado pelos sambistas de São Paulo para esta manifestação, que os estudiosos do assunto, por sua vez, preferem denominar samba rural ou samba de bumbo. O conceito acadêmico tenta dar conta da presença característica de um instrumento pouco usual nos sambas conhecidos, o bumbo, ou zabumba, apesar de comuníssimo em folguedos populares como o baião, o boi de zabumba maranhense, a banda de pífanos, além de brincadeiras carnavalescas ancestrais como o entrudo e o zé pereira. Essa característica seria realmente única, compartilhando o samba de bumbo, para, além disso, de muitos dos elementos que definem o samba de um modo geral. Inicialmente associado aos cultos de devoção a São Benedito e a outros padroeiros, os sambistas elegeram como ponto de encontro a cidade de Pirapora, transformada em santuário desde o século XVII com a descoberta de uma imagem do Bom Jesus às margens do rio Tietê. Os romeiros que para lá afluíam entre os dias três e seis de agosto, todos os anos, eram constituídos, em grande medida, por pessoas negras. A parte “profana” do festejo ficava a cargo do samba que estes promoviam ao som de caixa, chocalho, pandeiro, cuíca e outros instrumentos liderados pelo bumbão, nos barracões onde se alojavam. Havia muita disputa entre os “batalhões” das diferentes cidades, onde seus bambas testavam habilidades no improviso, desafiando-se. Juntamente com o batuque de umbigada e o jongo, o samba de bumbo compõe a trilogia das manifestações culturais negras originadas no tempo da escravidão que ainda permanecem sendo praticadas em São Paulo.

 

 

Samba Lenço

 

São duas variantes do samba tradicional em São Paulo, considerados como os ancestrais do samba cosmopolita. Guardam traços que os aproximam do jongo e do batuque, seus parentes próximos e por muitos considerados como seus antecessores. O de Bumbo tem como foco de aglutinação a Festa do Bom Jesus, em Pirapora. O Lenço, a devoção familiar do grupo a São Benedito. Letras e melodias singelas e funcionais, algumas tradicionais, outras estruturadas de acordo com as circunstâncias.


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