No mês de comemoração do aniversário de 388 anos do bairro de São Miguel Paulista, um grupo de 15 pessoas se propôs a redescobrir a localidade em mais uma expedição fotográfica, promovida pelo Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) São Miguel. A atividade aconteceu em 11 de setembro e integrou as ações, realizadas por esse projeto da Fundação Tide Setubal, focado na preservação do acervo, da história e do patrimônio da região.
Percorrendo diversas ruas, os expedicionários fizeram seis paradas estratégicas: Mesquita de São Miguel, Praça Fortunato da Silveira, Parque Linear, Sítio Mirim, Praça Padre Aleixo, conhecida também como Praça do Forró, e Mercado Municipal. Segundo Mauro Bonfim, coordenador do CPDOC, a proposta é sempre mudar o olhar dos participantes para além do que está posto. “Ao preparar esse roteiro, queríamos mostrar diferentes marcos de desenvolvimento local, pensando a relação do bairro com a cidade e da cidade com o bairro”, explica. Além de difundir a história de São Miguel, a ação coletou registros dos participantes, “sob diferentes olhares e perspectivas”, destaca o coordenador.
Roteiro diversificado
Compunham o grupo, moradores e estudantes da região e de outros locais da cidade, além de colaboradores da Fundação Tide Setubal. Após um workshop sobre noções básicas de fotografia, com detalhamento do roteiro, todos seguiram rumo à mesquita, uma das primeiras de São Paulo. Lá, puderam conhecer um pouco mais sobre a presença islâmica na área, por meio das histórias contadas por Ahmad Mohamed Abbas, morador do bairro e filho de imigrantes.
A parada seguinte foi na Praça Fortunato da Silveira, onde está localizada a subprefeitura de São Miguel Paulista. Exatamente nessa região são registrados os melhores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) da localidade. Veio a seguir o Parque Linear, localizado à margem do Tietê, e vizinho aos distritos Jardim Lapenna e União de Vila Nova, onde predominam moradias precárias e baixos indicadores sociais. Maria Aparecida de Lima, de 59 anos, moradora de Vila Curuçá Nova e integrante do Movimento das Mulheres da Zona Leste, ficou impressionada com a história do Linear. “Não sabia sobre o desvio das águas do Tietê para a construção do parque.”
A visita às ruínas do Sítio Mirim possibilitou refletir sobre a importância de São Miguel para o desenvolvimento da cidade de São Paulo. Afinal, o local servia de abrigo aos bandeirantes. Na seqüencia, houve tempo para registros da histórica Capela de São Miguel Arcanjo, construída em 1622, localizada na Praça do Forró.
O trajeto final pelo centro comercial evidenciou a importância dessa atividade para a economia da região. O local escolhido para fechar o roteiro foi o Mercado Municipal, patrimônio cultural e afetivo de São Miguel e que passa por revitalização. Com isso, a construção deve se conectar ao traçado turístico local e da cidade, o que rendeu mais reflexões para o grupo.
Descobertas e resgates
Para Jaqueline Lemos, de 41 anos, moradora da Jacuí e educadora social, a expedição fez com que ela olhasse de outra forma lugares pelos quais passa com freqüência. “Moro aqui há 25 anos, mas estou descobrindo informações novas. Pretendo agora levar essa atividade para os jovens com que me relaciono. Resgatar o passado e mostrar o presente ajuda a refletir sobre o que está acontecendo e sobre o que queremos para nosso bairro.”
A expedição despertou o desejo de conhecer ainda mais em Ítalo da Silva, de 22 anos. Ele mora em Mogi das Cruzes e estuda jornalismo na Unicsul São Miguel. “Todos os bairros deveriam ser mais explorados por seus moradores. Com esse mapeamento, podemos, inclusive, levar demandas para a prefeitura e a câmara de vereadores”, comentou o estudante.