Dividido em dois momentos – oficina e debate –, o evento teve o objetivo de incentivar a troca de saberes entre os atores locais e promover a reflexão sobre a importância e os desafios do trabalho social integrado em um mesmo território.
Maria Alice Setubal, presidente do conselho da Fundação, destacou que o Cidadania Viva traz um retrato da história e das práticas das organizações locais, demonstrando o quanto na região leste há uma sociedade civil atuante e compromissada com a melhoria da qualidade de vida. “O livro é também uma oportunidade para nos conhecermos melhor e buscarmos construir uma nova rede. A rede das instituições com perfil socioeducativo que atuam em São Miguel”, afirmou, na abertura do debate.
Oficina com ONGs
Para estimular esse intercâmbio entre as instituições, a Fundação convidou os representantes das entidades retratadas no livro para uma oficina. Eles realizaram uma dinâmica, na qual tinham de sortear o nome de uma entidade, ler a descrição da mesma no livro e responder três questões: O que ela faz? O que poderia ensinar para a sua instituição? E o que sua entidade poderia transmitir/ensinar para a ONG sorteada?. “Com essa atividade, procuramos mostrar como algumas práticas são semelhantes e deixar claro que é essencial continuar esse intercâmbio”, disse Beatriz Lomonaco, coordenadora do Núcleo de Estudos e Gestão do Conhecimento, responsável pelo projeto editorial do livro.
“Foi muito bom observar como há pessoas fazendo outras coisas boas. É importante olhar para o outro. Aprendemos com isso. E também podemos somar esforços”, comentou Hermes de Sousa, fundador do Instituto Nova União da Arte. “Esse encontro foi um marco inicial para que essas entidades possam se unir mais. O livro vai abrir portas para o reconhecimento do nosso trabalho e para futuras parcerias que tragam melhorias para a região”, complementou Idevanir Arcanjo, fundador da Associação Camélias de Desenvolvimento e Valorização Humana.
Desafio da fragmentação
Após a oficina, os representantes das entidades e o público em geral acompanharam um debate sobre o papel das ações locais e os desafios do trabalho integrado entre instituições e poder público. Compuseram a mesa: Paula Galeano, coordenadora geral da Fundação Tide Setubal e mediadora do debate, Padre Ticão, integrante do Movimento Nossa Zona Leste, líder comunitário com trabalhos na região desde 1978; Maria Aparecida Pavão, supervisora de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo; Estela Bergamin, coordenadora de projetos nacionais do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e Beatriz Lomônaco, responsável pela publicação.
Em sua exposição, Padre Ticão enfatizou que a Zona Leste teve avanços significativos nos últimos trinta anos, mas que ainda há muito a fazer para garantir a qualidade de vida da população. “Não basta ter uma experiência bonita e isolada, é preciso superar a fragmentação das ações e trabalhar conjuntamente”. Ele apontou que merecem atenção nessa mobilização coletiva da Zona Leste projetos para juventude; construção de creches; implementação de universidades públicas, com centros de pesquisa; e programas para idosos. “É fundamental, ainda, discutir o poder local das subprefeituras e o modelo de gestão da cidade”.
Gestão compartilhada
Maria Aparecida Pavão, por sua vez, discorreu sobre a necessidade da ampliação do serviço da assistência social na região e de mais articulação entre as diferentes áreas do setor público: saúde, educação, assistência e outros. “Não podemos apenas nos aproximar em momentos emergenciais”, reconheceu Cida, lembrando dos episódios das enchentes no Jd. Pantanal no início de 2010.
Sobre o trabalho inter-setorial, Estela Bergamin mencionou o programa federal Mais Educação, o qual busca ampliar a jornada de crianças e adolescentes na escola, oferecendo atividades extra-curriculares dentro e fora da unidade escolar. Para implementar as atividades, prefeituras que adotaram o programa costumam realizar reuniões entre diferentes Secretarias, como de Educação, Cultura, Esporte. “É uma prática nova; ainda não temos essa cultura de gestão compartilhada”, comentou.
Escolas e ONGs
Além da articulação inter-setorial pública, a proposta de educação integral prevê a integração com organizações sociais. Em algumas localidades, as prefeituras convocaram as ONGs para a realização das atividades extra-curriculares. “Assim, também surge a figura do professor comunitário ou educador comunitário, responsável por organizar o tempo da escola e das outras atividades de aprendizagem no território”, explicou Estela.
Segundo a coordenadora de projetos nacionais do Cenpec, as iniciativas de jornada ampliada têm provocado aos poucos a integração entre escolas e ONGs. “Essa articulação é um desafio, mas a troca tende a beneficiar as duas instituições. As escolas podem aprender bastante com a metodologia de oficinas e projetos das ONGs. Já as entidades podem pensar o planejamento das atividades socioeducativas a partir da vivência escolar das crianças”, relatou.
A publicação, em formato pdf, está disponível para download na íntegra neste link: https://fundacaotidesetubal.org.br/ftas/site.php?mdl=publicacoes&op=lerpublicacoes&id=7
(Fotos: Gustavo Porto)