Por Amauri Eugênio Jr. / Foto: Vanderson Atalaia
Estruturar iniciativas de significativo impacto social e que têm como objetivo melhorar a qualidade de vida da população passa pelo constante diálogo entre quem desenvolve, executa e será beneficiada/o. Essa premissa é o foco do +Lapena Habitar, que tem entre suas ações a implantação de novas unidades habitacionais no bairro. O projeto, realizado pela Fundação Tide Setubal e o BlendLab – associação civil que promove transformações territoriais por meio de operações financeiras híbridas – considera aspectos de desenho urbano e arquitetura, participação social e gestão condominial coletiva, modelo de negócio e financiamento.
Além das unidades habitacionais, o projeto + Lapena Habitar é reflexo da lógica segundo a qual a melhora gradativa e significativa do bairro ocorre a partir da unidade habitacional. Dentro dessa compreensão, a habitação é considerada como um eixo condutor do desenvolvimento de segmentos de bem-estar. Sendo assim, os novos condomínios podem atrair novos investimentos para o bairro, gerar maior sensação de segurança por meio do uso das fachadas das construções e da ocupação espacial, assim como favorecer o comércio local.

Comitê de avaliação analisa os cinco projetos apresentados no +Lapena Habitar (Imagem: Vanderson Atalaia)
Criando bases sólidas
No final de 2022, o projeto abriu uma chamada para escritórios de arquitetura para ampliar a perspectiva sobre a construção de moradias em territórios periféricos a partir de novas abordagens na concepção de projetos. O evento foi também uma oportunidade para aplicar e explorar parâmetros e diretrizes desenvolvidos em processos participativos com a comunidade do Jardim Lapena, para ampliar o repertório de possibilidades de produção habitacional no bairro.
As unidades habitacionais que farão parte do +Lapena Habitar serão ocupadas por meio de aluguel, cujo preço será acessível e priorizará a melhoria das condições de vida em vez do lucro. A administração, por sua vez, será realizada por uma associação sem fins lucrativos – a gestão será realizada de modo coletivo, amplo, representativo e equilibrado.
A estrutura administrativa a ser implementada na gestão condominial coletiva tem como ponto central promover e assegurar a participação popular e o protagonismo das/os moradoras/es do Jardim Lapena na determinação dos rumos e da organização do espaço.
Os impactos pretendidos por meio da iniciativa são voltados para fomentar o bem-estar da população em múltiplas frentes. Por exemplo, para além de aspectos elementares e estruturais, algumas premissas contemplam a possibilidade de residentes poderem trabalhar nos mesmos espaços – em dinâmicas diversas, que contemplam espaços como escritório, salão de beleza, ateliê, entre outros -, e medidas que promovam o convívio comunitário e que contribuam para a segurança local, como facilitar a circulação de pessoas nas ruas e ativar o comércio no território.
Outro segmento contemplado diz respeito à parte infraestrutural. Além de garantir que as unidades habitacionais sejam construídas a partir de parâmetros que reduzam impactos ambientais e que levem em consideração fatores como temperatura, ventilação e possibilitem a queda no consumo de energia elétrica, o projeto deve considerar a redução de custos de moradia e manutenção. Ainda, o estímulo à adoção de boas práticas arquitetônicas para a construção de outras residências no bairro faz parte do projeto.
O desenvolvimento das unidades habitacionais tem a dinâmica comunitária como um dos pontos estruturantes. Isso diz respeito, por exemplo, à redução de conflitos entre a vizinhança por meio da gestão e da participação coletiva. A mesma lógica vale para o desenvolvimento dos espaços com foco na integração plena entre quem mora lá e priorizar a ocupação por moradores do bairro de forma a evitar o risco de segregação socioespacial.